Quem julga que Nostradamus foi o maior vidente de todos os tempos é porque nunca reparou com atenção nas pinturas renascentistas de Andrea Mantegna. O seu quadro O Martírio de São Sebastião, é, na verdade, uma antevisão da situação política atual. Atado a uma coluna e cravejado de flechas, o verdadeiro São Sebastião é, também, um retrato de Luís Montenegro. E os dois carrascos que aparecem em baixo são André Ventura e Pedro Nuno Santos. Estes, alvejaram-no com as flechas acusadoras da corrupção e dos interesses nebulosos. Porém, tanto Ventura como Santos, constatam estupefactos que mesmo flechado em todos os lados Montenegro não morre. Pelo contrário, olha para o céu com ar de mártir, vítima de uma conjura ignóbil. E o facto de São Sebastião Montenegro estar num plano superior ao dos carrascos Ventura e Santos alude à subida daquele nas sondagens e à descida destes.
Uma justiça divina que o irá levar para o Céu de um novo governo, ao mesmo tempo que condenará ao Inferno da oposição os seus algozes.
Não consta que o pintor tenha visitado Portugal, mas é provável que haja conhecido marinheiros ou padres portugueses e tenha percebido as semelhanças com a Itália. E os séculos passaram, mas pouca coisa mudou.
Os portugueses têm um conceito de corrupção, compadrio e amiguismo que escapa aos nórdicos, mas é muito bem entendido pelos latinos. Na verdade, na cultura nacional aqueles conceitos não existem. Existe, sim, algo muito menos grave, e até louvável, como a cunha, o jeitinho, as amizades que interessam e outras subtilezas que aumentam a conta bancária sem prejudicarem ninguém.
Chamamos a isto fazer pela vida, aproveitar as oportunidades, saber governar-se.
Tudo começou quando Dom Afonso Henriques distribuiu terras conquistadas aos mouros, evoluiu com a colonização africana e refinou-se com as especiarias da Índia e o ouro do Brasil. O capitão de um barco que trazia o cravinho da Índia tinha um amigo na Alfândega de Lisboa que por sua vez tinha um cunhado na Tesouraria Real.
Ou seja, os portugueses foram descobrindo maneiras criativas de enriquecer através de teias de interesses comuns. A própria Igreja foi exímia nesta arte de contactos frutuosos, deixando para Deus o espírito e para os seus Césares a matéria. E até o povo, sempre que podia, numa escala menor, foi criando as suas redes de influência e benefício próprio. A rececionista que só consegue marcar consultas a quem lhe der gorjetas é um bom exemplo.
É por isso que o cidadão comum olha para o caso da Spinumviva e não vê nada de anormal. Além da atividade ser legal, não é nada que outros políticos não tenham feito – e até muito pior – ou que os próprios cidadãos não fariam se tivessem a oportunidade.
Assim sendo a nossa cultura milenar, é óbvio que São Sebastião Montenegro vai ganhar as eleições.