No próximo Domingo, os portugueses voltam às urnas e o que está em causa não é uma mera escolha partidária, mas sim o regime em que queremos viver.
Portugal não está imune à crise internacional, à guerra, à tragédia humanitária em Gaza, à escalada militarista na Europa. Mas o nosso papel não pode ser o de espectadores submissos ou cúmplices silenciosos. Rejeitar o belicismo não é aceitar a resignação. Rejeitar a xenofobia não é ignorar os problemas reais – é, isso sim, recusar soluções falsas e perigosas servidas pela extrema-direita que se alimenta da descrença.
Com efeito, imigrantes e ciganos são usados por partidos populistas e radicais como bodes expiatórios num discurso que serve como cortina de fumo para esconder os verdadeiros responsáveis pelo ataque ao SNS, à escola pública, aos direitos laborais e ao princípio basilar de justiça social.
Cabe à esquerda, muitas vezes perdida em lutas identitárias estéreis, reencontrar o seu propósito e não deixar o terreno livre para a demagogia de quem grita mais alto. O tempo não é de folclores nem de agendas de nicho, mas sim de recentrar a luta na defesa do regime democrático e dos valores que o devem nortear: dignidade, liberdade, justiça social.
As eleições de 18 de Maio têm ainda um contorno particular: quem for governo não poderá ser derrubado durante um ano, devido à proximidade das presidenciais. Um ano em que a cavalgada reaccionária pode afirmar-se e abrir caminho para um governo de extrema-direita liderado por Pedro Passos Coelho, coadjuvado por André Ventura.
No horizonte, paira ainda um cheiro a bafio, com a sombra de um Almirante a caminho de Belém, anunciando um regresso ao autoritarismo simbólico.
Portugal não pode permitir-se a esse retrocesso e a nossa história recente ensina o preço da passividade. Cada voto de um democrata que não é depositado nas urnas é uma oportunidade oferecida àqueles que crescem na apatia e na desinformação. Por isso, entre o conformismo e a resistência, só há um caminho responsável: o do voto consciente. Um voto que defenda o Estado Social e os direitos humanos. Um voto que diga não à xenofobia e à cultura do medo.
O voto é uma arma. Que cada eleitor saiba usá-la com lucidez, com coragem e com memória. Porque Domingo é mais um passo. Que não seja para trás.
Presidente da Cooperativa Milho-Rei