Num livro iluminado, A Cultura Inculta, de 1987, Harold Bloom caracterizou os estudantes dos Estados Unidos, antecipando em mais de vinte anos o que viria a ser a realidade na França e na Europa.
«A causa da decadência do papel tradicional da família como transmissor da tradição corresponde ao da decadência das Humanidades: ninguém acredita hoje que os livros antigos contenham, ou pudessem ter contido, a verdade. Assim os livros tornaram-se, quando muito, um repositório de ‘a cultura’, isto é, enfadonhos. Os professores dizem que não conseguem ensinar a escrever a estudantes que não lêem e que é praticamente impossível pô-los a ler, quanto mais fazê-los gostar de ler».
É aqui que as escolas secundárias falharam, lá e cá, invadidas por professores que já são um produto dos anos de fim do século, eles próprios iletrados.
«Como Tocqueville disse, numa democracia a tradição não é nada mais do que informações. Com a ‘explosão da informação’, a tradição tornou-se supérflua. Com o seu gradual desaparecimento, a necessidade da explicação do mundo foi desaparecendo. A aspiração máxima dos pais para os filhos passou a ser apenas a competência especializada e o êxito material».
Os pais já não possuem a autoridade legal ou moral que, tinham. Falta-lhes confiança em si próprios como educadores. Deixaram de acreditar que os filhos podem ser melhores que eles, não só no que respeita à qualidade de vida mas também nas qualidades morais e intelectuais.
Juntamente com a constante novidade de tudo e as constantes deslocações, primeiro a rádio, depois a televisão, assaltaram e destruíram a privacidade do lar, que permitira o desenvolvimento de uma vida mais elevada e mais independente dentro da sociedade. Os pais já não podem controlar a atmosfera do lar e perderam mesmo a vontade de o fazer. A televisão entra não só na sala, mas também nos gostos de velhos e de novos, apelando para o prazer imediato e subvertendo o que quer que não se conforme com ele.
O digital, a internet e o telemóvel, instrumentos de solidão e inumanidade, uma espécie de prolongamento escravizante do corpo e da alma de adultos e crianças, absorvem o tempo e apagam o espírito, conduzindo-os por um caminho que se apresenta cada vez mais como um percurso sem regresso. É esta realidade em que a ciência e a racionalidade se dissolvem e apagam e o obscurantismo cresce, que foi e é, agora, instantaneamente, exportada para as universidades francesas e europeias. Universidades onde medram o wokismo, o queer, o cancelamento, a transexualidade. Desvios, feitos taras, apresentados e promovidos como normalidades. Que não são alheios à atual onda de crueldade e crime entre os jovens. Um percurso sem regresso? Ver-se-ão os efeitos das medidas de Donald Trump.