Trump afirmou que ele é que deveria ser Papa. Na minha opinião, o máximo que Trump poderia aspirar seria guarda suíço suplente, com a condição de não pintar o cabelo e nunca abrir a boca. Contudo, no passado já houve Papas bem piores que começaram guerras, queimaram pessoas e tiveram amantes. Por isso, parece-me lógico que qualquer um pode aspirar a tal honraria. Por exemplo, eu próprio – sendo o meu agnosticismo irrelevante para o caso.
Assim, se eu fosse Papa dispensaria o discurso Miss Universo de apelo à paz mundial e passaria a medidas concretas para, efectivamente, abrir a Igreja a todos.
A primeira medida seria permitir o casamento dos padres. Não existe nenhum fundamento bíblico que suporte a proibição desse casamento; no tempo de Jesus os sacerdotes eram casados; Pedro teve uma mulher; e há até quem diga que o celibato dos padres foi uma manobra para evitar dividir heranças pelos herdeiros. Por isso, tal como sucede com os ortodoxos e os protestantes, os padres católicos passariam a poder casar-se e ter filhos. No entanto, uma vez que vivemos tempos de devassidão total, estes casais seriam aconselhados a absterem-se de certas práticas imorais como dar chineladas ou pegar fogo ao rabo um do outro com isqueiros.
A segunda medida seria decretar a igualdade absoluta entre homens e mulheres dentro da Igreja. Assim, as mulheres poderiam não apenas ser padres, como também ascender na hierarquia até se tornarem Papas ou Papisas, como a lendária Joana. É provável que os conclaves para a eleição do Papa, caso lá estivesse uma maioria de mulheres a discutirem umas com as outras, demorassem alguns meses até sair fumo branco; houvesse algumas bispas que posassem para as revistas cor-de-rosa orgulhosas das suas operações plásticas e incrementos de silicone, mas, no fim, a escolha ponderada pela sensibilidade feminina seria decerto melhor do que limitada à decisão de homens.
A terceira medida seria acolher sem reservas os LGBT, sem discriminar ninguém devido às suas orientações sexuais, fetiches ou taras. Ainda assim, estas comunidades seriam aconselhadas a moderar a exuberância de algumas Gay Pride, pois transformá-las num Carnaval grotesco repleto de exibicionismo pornográfico prejudica a causa. Ou seja, acabam-se as plumas na cabeça, as rendinhas e o fio dental. E quanto a beijos e apalpões em público, também não exagerem. Observadas estas recomendações, passaria a ser pecado usar termos como paneleirices e paneleirotes.
A quarta medida seria a anulação do Pecado da Gula. Além de ter sido o pecado mais cometido pelo Clero ao longo dos séculos, o próprio Santo Agostinho, certamente um bom garfo, acabou por considerá-lo um pecado menor. Em Portugal, o Pecado da Gula entra em choque com o Cozido à Portuguesa, o Arroz de Sarrabulho, as Feijoadas e sobretudo os Doces Conventuais. É altura de resgatar as freiras e os comilões do purgatório. Ou seja, os prazeres da mesa, longe de serem pecados mortais, passarão a virtudes teologais. Um Cristianismo gourmet.
Felizmente, nem eu, nem Trump fomos eleitos. E o verdadeiro Papa, Leão XIV, já demonstrou mais sabedoria e juízo do que nós os dois juntos.
Escritor