Administradores não executivos e crescimento das PME’s

Desafiar o status quo e as lógicas dominantes é particularmente importante para estar alerta para riscos disruptivos e reduzir complacência.

No desenvolvimento de um mercado público para PME’s as regras de governance não podem ser tão onerosas como no caso das empresas listadas no mercado principal. Para as PMEs o governance tem de permitir agilidade, ser um garante de um ritmo de crescimento ambicioso mas sustentável, mas não pode nunca ser um travão a esse crescimento. O papel do board e dos administradores não executivos varia de forma significativa de acordo com as características da empresa em termos de dimensão, complexidade do modelo de negócio e das operações, por um lado, e a complexificação da estrutura acionista por outro. Os seguintes 4 papeis do Administrador podem ser distinguidos:
Steward do CEO. Em empresas recentemente admitidas em bolsa, com capitalizações bolsistas até 25 milhões, o principal foco do administrador não executivo é em apoiar e desenvolver o CEO-fundador. Geralmente, existe apenas o CEO e um outro executivo mais sénior, passando a maioria das decisões pelo CEO. Contudo, o CEO tem muitas vezes pouca experiência de gestão, apesar de exibir um domínio elevado do produto e de alguns mercados e da tecnologia subjacente. A proximidade entre o administrador não executivo e o CEO nesta etapa da empresa é grande, porque é necessário uma grande articulação e confiança para lidar com aspetos emergentes e sobretudo para desafiar o fundador nao habituado ao governance. O administrador não executivo está lá para ajudar o CEO a desenvolver-se, procurar evitar erros que comprometam a empresa (mas deixar o CEO errar em aspetos pouco críticos ou fases iniciais de processos pode ser útil), e complementar o CEO em processos onde tem particular experiência e skill, não raras vezes assumindo processos executivos.
Steward da equipa executiva. A dada altura a empresa poderá precisar de fazer crescer a sua equipa executiva para responder ao crescimento e à complexificação do negócio. O CEO é confrontado com os seus limites e tem de rodear-se de outros executivos seniores, passando a ter um papel diferente de coordenação e delegação. O administrador não executivo mantém-se aqui no seu papel de steward, mas agora estende esse papel a toda a equipa executiva. A questão chave é garantir que existe uma equipa executiva robusta e de elevado desempenho com maior autonomia. Isto passa não apenas por garantir a contratação dos executivos com perfil adequado, mas também, enquanto board, garantir que a equipa funciona mantendo linhas de contacto com os diferentes executivos para ir aconselhando e ajustando a estrutura e os processos.
Supervisor de risco e execução da estratégia. Algumas empresas crescem rapidamente baseadas num produto relativamente simples, e em mercados bem delineados. Apesar de serem empresas de elevado crescimento, existe uma claridade muito grande quanto à estratégia a seguir e as bases da vantagem competitiva. Nestes casos, o papel do board e do administrador não executivo foca-se na supervisão dos grandes riscos e da execução da estratégia. A ideia é que o CEO e a sua equipa ‘não adormeçam ao volante’ de um negócio bem sucedido, mas pouco excitante. Desafiar o status quo e as lógicas dominantes é particularmente importante para estar alerta para riscos disruptivos e reduzir complacência.
Supervisor da complexidade de interesses e direção estratégica. Uma quarta categoria de empresas assume uma complexidade muito grande no modelo de operações, negócios, base tecnológica e dimensão. Isto é geralmente acompanhado também por uma grande complexidade acionista com interesses divergentes e que procuram saída para os seus investimentos. O administrador não executivo tem aqui um desafio de exigência elevada. Ter de navegar a complexidade de interesses e garantir que a direção estratégica é a certa para a empresa implica a capacidade de supervisionar de forma muito envolvida, sendo capaz de ir a fundo em muitos aspetos da empresa, mas mantendo objetividade na análise. l

Professor de Governance, Henley Business School, Reino Unido, e Partner na AMROP