Vacas sagradas… não se tocam!

Ao admitirmos que Joana Marques possa usar o direito de liberdade de expressão para fazer piadas com os Anjos, estamos, de certa forma, a criar uma cultura de bullying.

É verdade! Parece uma piada, mas não é: os ‘Anjos’ e a Joana Marques estão em tribunal por uma piada no Instagram.

Como é que é possível? Como é possível que haja alguém que se ofenda com o humor? Como é possível que o humor possa atingir ou lesar alguém?

As pessoas que são objeto das piadas dos humoristas não se podem ofender… o que seria! Aliás, o humor é só para fazer rir e, portanto, não há que ofender.

Mas mais absurdo do que ficar ofendido com uma simples piada é alguém neste mundo pensar que um humorista está dentro da lei e levá-lo a tribunal. Trata-se da coisa mais absurda que existe à face da terra…

Quando é que já se viu um tribunal opinar sobre a criatividade de um humorista? A doutrina emanada pelo direito não dá aos juízes a capacidade de julgar uma piada, porque afinal é piada.

Uns dizem que o problema está na interpretação que os Anjos fizeram do Hino Nacional, outros que o problema é da manipulação.

Partamos do princípio de que o problema não está na interpretação jocosa de Joana Marques, mas na interpretação falhada dos Anjos. A culpa é dos Anjos e não da Joana. Já não bastava a humilhação das coisas terem corrido mal aos Anjos, ainda têm de ser gozados pela Joana.

Vamos transpor o sucedido para uma sala da aula. Uma professora do ensino básico – Ana – chamou Nelson e Sérgio para a frente da turma e pediu-lhes que cantassem o Hino Nacional diante dos seus colegas. Ana sabia como as duas crianças de sete e oito anos tinham uma voz encantadora.

Acontece que, naquele dia, a interpretação do Hino Nacional não foi a melhor e os colegas partiram-se a rir. Ana, sentada, depois de almoço, na sala dos professores, ouve atentamente a rádio interna feita pelos alunos. Joana, uma aluna sua, tinha pegado na versão dos dois colegas e começou a fazer piadas.

Naturalmente que Ana poderá dizer: Joana é mesmo uma amiga brilhante… como ela pegou no Hino Nacional assassinado pelos dois irmãos Nelson e Sérgio e foi capaz de meter a escola toda a rir. Os professores escorregavam pelos sofás abaixo de tanto rir e os alunos gozavam que nem doidos da situação.

Naturalmente que Nelson e Sérgio vão apresentar queixa ao diretor da escola. Este, porém, diz-lhe que vai receber a queixa, mas que provavelmente não haverá matéria para avaliar a queixa, pois o que a aluna Joana fez enquadra-se na liberdade de expressão e não pode ser motivo de nenhuma medida disciplinar.

Diante deste dilema, é claro, que nenhum de nós admitiria que Joana se fosse embora para casa, naquele dia, sem ser acusada pelos professores de bullying. Sim, a piada da Joana é, realmente, bullying, isto é, um comportamento agressivo que visa levar o outro ao ridículo e à humilhação.

Ao admitirmos que Joana Marques possa usar o direito de liberdade de expressão para fazer piadas com os Anjos, estamos, de certa forma, a criar uma cultura de bullying. Estamos a dizer aos mais novos que a liberdade de expressão pode ofender as culturas, as pessoas, as religiões que não há problema nenhum, porque a liberdade de expressão é uma vaca sagrada onde ninguém consegue entrar.

Goze a Joana com os movimentos LGBT ou com os indostânicos ou as raças que por aí andam para ver o que lhe acontece… porque a liberdade de expressão não pode só ser usada quando nos dá jeito, mas quando nos leva a respeitar os outros.