O Talude é um dos bairros que permanece na minha memória. Há décadas que o Catujal conhece o Talude e não é pelas melhores razões. Eu sou de lá e quando se ouvia falar do Talude sabíamos o que era.
Não compreendi, ainda, se é a comunicação que está mais sensível a este tipo de temas, trazendo-os para a agenda mediática ou se realmente os políticos começaram a perceber que têm de governar a polis, a cidade.
Instalou-se, na ação política contemporânea, um novo poder, que serve de balança do próprio poder político: a comunicação social. Para além dela, hoje, temos de contar também com a ação das redes sociais pelo peso que representam na formação da opinião pública.
Naturalmente, a ação política, hoje, está muitíssimo condicionada pela lei, mas acima de tudo pela Comunicação Social. Hoje, o poder político não tem de ter apenas uma assessoria jurídica para a persecução da ação publica do poder, mas precisa, também, de equipas que acompanhem os processos de implementação das políticas públicas a partir da perspetiva comunicativa.
Hoje, não basta que uma política, por melhor que seja, cumpra juridicamente as leis. Hoje, uma política pública que não considere a capacidade de ser comunicada e acolhida é uma política que está votada ao fracasso.
Os fenómenos sociais e jurídicos que decorrem da decisão política de demolição de barracas têm de ser acompanhados pela ação comunicativa para que haja os dados suficientes para a formação correta da opinião pública, porque do Talude só sabemos que foram demolidas cinquenta e cinco barracas e nada mais.
Se não tivermos os dados que estiveram na base da decisão, pode parecer que estamos a ser governados por gente que acordou de manhã e disse: ‘Apetece-medemolir um bairro de lata’.
Isto é muito importante para que as ‘carraças’ associativas que vivem como parasitas da politica não possam ter vida. O problema do Talude traz, consigo, um conjunto de comentadores que se aproveitam destes acontecimentos para ganharem notoriedade, muitas vezes destorcendo os factos e enviesando a realidade.
O contrário também é verdade! Se a política não faz nada para intervir nas dinâmicas sociais, como tem acontecido nos últimos tempos, a tendência é a de começarmos a assistir à justiça popular. E isso será uma desgraça…
Alguns movimentos que se estão a formar na sociedade são fruto de uma incapacidade de gestão política do espaço público. Todos conhecem a Mónica de Veneza que persegue os pickpockets porque existe uma inação da aplicação da lei por parte dos poderes públicos. Imagine-se: os cidadãos estão a começar a revoltar-se e a perseguir ladrões (pickpockets) porque a polícia não pode fazer nada mais. Naturalmente, serão movimentos cheios de grupos de estrema direita que persegue romenos e não ladrões.
Nós precisamos de estar muito atentos… e precisamos de ajudar os nossos governantes na gestão do espaço público, porque este movimento contra os pickpockets, o movimento anti-ocupas, os movimentos anti-imigração ilegal mostram que o poder está a cair nas mãos do povo, porque os governantes nos abandonaram. No passado já aconteceu isso em outras partes do globo e não correu bem…