
Querida avó,
Muitos portugueses aproveitam as férias de verão para “irem à terra”.
Momentos em que as famílias se unem, para além do Natal e da Páscoa, para muitos uma raridade.
À minha avó materna, custava-lhe imenso não nos ver tantas vezes como desejava. Não compreendia a vida mais apressada com que vivíamos na cidade.
Ainda assim, é importante visitar os avós, mesmo que morem longe. Gostam de sentir que ainda fazemos parte da vossa vida, nem que seja com uma visita de vez em quando. Felizmente hoje existem telecomunicações.
Apesar de já não ter avós, de sangue, há mais do que 40 anos, continuam a estar presentes no meu coração e nas minhas memórias.
Na terra dos avós “o tempo corria mais devagar,” e havia coisas que dificilmente se via na cidade. Cada vez que encontro um tanque de lavar roupa, por exemplo, remete-me logo para as minhas memórias de infância, onde as minhas avós costumavam lavar a roupa. Antigamente, não havia máquinas como agora. Os tanques comunitários (grandes tanques onde as pessoas lavavam roupa) eram um ponto de encontro para muitos! As mulheres juntavam-se, lavavam a roupa à mão, e punham a conversa em dia. Era duro, mas também havia alegria.
Nem imagino ter de lavar tudo à mão… Hoje é tudo mais fácil. Mas, sabes, havia mais união. As pessoas ajudavam-se mais.
E nas festas da aldeia, então? Eram momentos especiais. A festa do padroeiro, com procissão, foguetes, a banda a tocar… E à noite, o bailarico na praça, as diversões, as guloseimas…
Ainda hoje é nestas festas que as pessoas se reencontram, ano após ano.
Os rapazes andavam todos engalanados, e as raparigas levavam as suas “roupas domingueiras”. Muito casamento se fazia nas festas das aldeias.
As tradições, os costumes, as famílias juntas. Isso não devia mudar, mesmo com o tempo a correr como corre hoje. Os avós desaparecem depressa… e uma visita nossa vale mais do que ouro.
Feliz Dia dos Avós.
Bjs
Querido neto,
Como sabes, sou de Torres Novas (mais exatamente das Lapas, uma aldeia à beira do rio Almonda). Estive lá recentemente porque a Câmara decidiu dar-me uma medalha, no Dia da Cidade. Não apenas a mim, claro, mas a várias outras pessoas, de outras atividades.
Quando eu era miúda detestava lá ir. Porque, assim que lá chegava, o tio que me levava (e com quem eu vivia em Lisboa), desaparecia e eu ficava por ali sem saber o que fazer.
Só muito mais tarde é que percebi o que ia lá fazer… Então todos os meus tios tinham a mulher da aldeia (das Lapas) e a da cidade (de Lisboa )… Todas sabiam umas das outras e todas se davam nmuito bem.
E a fama deles era tal que, lá na terra era corrente ouvir-se dizer «Vieiras e Vassalos é tê-los e largá-los».
Para além disso, o meu irmão (que já morreu há alguns anos), ficou à frente da fábrica de álcool da família, mas nunca se importou com isso e ela estava mesmo para fechar – quando o meu filho trocou Chicago pelas Lapas e foi para lá viver. Ele e a minha nora ficaram à frente da fábrica – e passado muito pouco tempo a empresa estava a receber o atributo de “excelência” pelo trabalho que fazia. (E claro, o pessoal tinha a cabeça no lugar, nada de mulheres aqui e ali…).
Por tudo isto eu disse ao meu filho que ele é que devia estar a receber a medalha e não eu. E ele: «Ó mãe, eu recebi a medalha em 2015!»
Fiquei mesmo envergonhada por não me lembrar – mas eu, quase jurava que ele não me tinha dito nada na altura.
Já que falas de tradições, aqui, em Mafra, realizou-se o “Festival do Pão”. Um evento que decorre anualmente, no mês de julho, no Jardim do Cerco, que visa a promoção do Pão de Mafra, mas também a ligação entre as tradições de todas as freguesias, bem como o trabalho dos artesãos e produtores.
E era só isto que eu hoje queria aqui contar.
Feliz Dia dos Avós, querido neto.
Bjs