Jesus, no Evangelho, dá uma das frases que mais me tem ajudado a viver a liberdade na vida: «Não podeis servir a dois senhores, porque odiará um e amara o outro, ou se dedicará a um desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro». Está frase, em si, tem-me ajudado a perceber o quão escravo eu vivo do dinheiro. E quem pensa que é livre em relação aos bens deste mundo, leia esta crónica, pare um pouco e pense na sua vida.
Nós vivemos obcecados pelo sexo, mas a verdade é que vivemos para o dinheiro. O dinheiro e o sexo são dois problemas que dominam a nossa vida e que deitam abaixo a vida de muitos casais. A ganância!
Há a história atribuída ao Salazar, mas que poderia ser contada por todos nós, porque todos temos alguma experiência desta história. Conta-se que alguém apresentou ao Salazar uma família maravilha… que cuidavam muitíssimo bem dos pais, eram exemplares e, inabalavelmente unidos. Nesse momento, parece que Salazar terá perguntado: «Já fizeram partilhas?».
Não preciso de explicar muito esta espécie de parábola, porque o amor ao dinheiro é sempre ou quase sempre superior ao amor à família que é nosso sangue… A ganância não se apaga em nós, nem no momento da morte dos nossos pais… porque todos somos ávidos de dinheiro. E os que disserem o contrário, se não forem santos terão de ser, naturalmente, mentirosos.
O Papa Leão recebeu, nestes dias, um grupo de gente, principalmente jovens, que foram batizados este ano. É incrível pensar, por exemplo, que a cristianíssima, a filha dileta do cristianismo, se tornou num dos pais mais laicos da Europa, mas que só este ano tenha batizado mais de dez mil adultos.
O racionalismo dos últimos quatrocentos anos, o materialismo dos últimos duzentos e o capitalismo dos últimos cem encheram-nos de esperanças que superaram todas as promessas cristãs. Afinal, começamos a pensar que era possível criar o céu na terra e, com o aumento da esperança média de vida, começamos a pensar que é melhor assegurarmos a vida neste mundo.
Acontece que o materialismo, o racionalismo e capitalismo ajudaram-nos muito a purificar a fé cristã e, desta forma, a procurar cada vez mais o que é essencial ou acessório no cristianismo. Estamos fartos… hoje temos casas de sonho (os que as têm), com conforto incomparável com outros momentos da historia humana, temos uma qualidade de vida incrível… mas continuamos insatisfeitos.
O racionalismo libertou-nos de uma certa visão mágica do mundo e conduziu-nos a um desencantamento, isto é, a uma visão secular capaz de meter Deus no seu lugar. O materialismo ajudou-nos a compreender que não somos seres meramente espirituais e que a encarnação do Verbo de Deus em Jesus uniu a sua divindade à nossa materialidade. O capitalismo ajudou-nos a sermos livres em relação às castas enfadonhas: quem nasce pobre, morre pobre.
Hoje, vejo-me em Nápoles, com cento e oitenta jovens, a caminho do jubileu dos jovens que decorre por estes dias em Roma. Sentado, numa escadaria, junto à Piazza del Gesù, observo os jovens a dançar e a cantar, a convidar todos quantos passam a entrarem na sua alegria. Muitos param e dançam com eles, outros, param e filmam o momento…
Eu, sentado, a ouvir uma jovem, vou-me perguntando… realmente, a busca de Deus está hoje tão viva como na Idade Média ou na Idade Antiga. Porque o dinheiro, a razão e a matéria são boas… mas não o poder de nos saciar…