Sexualidade

É um tema natural e faz parte da vida de todos nós, desde cedo, mas incomoda muita gente. 

Querida avó,

Estive no lançamento do livro “Outonecer” do Júlio Machado Vaz.Atrevo-me a dizer que, se os portugueses têm uma vida, sexual, mais saudável, podem agradecer, em parte, aos ensinamentos do Professor. 

Irá ser consultado para as alterações que pretendem fazer â disciplina de “Cidadania”?

É um tema natural e faz parte da vida de todos nós, desde cedo, mas incomoda muita gente. 

É importante que os mais novos comecem a entender o seu corpo desde cedo.

“No teu tempo”, ninguém falava disto. Era tudo tabu. Hoje, felizmente, já se pode conversar abertamente.

 Mas o que é, exatamente, a sexualidade? A sexualidade não é só “fazer sexo”, como muitos pensam. Envolve o corpo, os sentimentos, o afeto, o respeito pelo outro e por nós próprios. Está ligada à forma como nos relacionamos, como sentimos amor, atração, carinho… É algo que nos acompanha ao longo da vida.

Creio que as crianças devem saber como os bebés nascem e como funciona os órgãos reprodutores. Assim como devem ser informadas sobre os métodos contracetivos, sobre a pílula, a importância dos preservativos … De forma a evitar gravidezes indesejadas, mas também doenças sexualmente transmissíveis. 

A puberdade é uma fase muito importante. É quando o corpo começa a mudar — os rapazes começam a produzir espermatozoides, a voz engrossa, cresce pelo no corpo… Nas raparigas, começa a menstruação, os seios crescem, o corpo prepara-se para, no futuro, poder gerar um bebé. É tudo natural.

Na minha adolescência, quase ninguém sabia destas coisas. Hoje, essa informação está facilitada. 

Conhecer o nosso corpo e a nossa sexualidade ajuda-nos a fazer escolhas conscientes e saudáveis. A informação é proteção.

Por isso, é fundamental falar destas coisas, para que cada um saiba como se proteger e viver a sexualidade com responsabilidade.

Será que vamos voltar à lenda da cegonha que trazia bebés de França? 

Bjs

Querido neto,

Sabes que sou amiga do Júlio Machado Vaz há imensos anos.Não é de admirar que, tal como me informaste, “não cabia mais ninguém” na sala onde foi feita a apresentação do livro.

Fico muito feliz por grande parte dos que estiverem presentes serem pessoas mais velhas. Acredito que a passagem do conhecimento não esteja perdida.

Ao longo da vida habituei-me a ouvi-lo falar de amor. Agora faz uma reflexão sobre o envelhecimento e do medo que este provoca. 

Antigamente, muitas mulheres enviuvavam aos 40 anos, e assim ficavam para o resto da vida. A carpidar a “sua cruz”.

Hoje, aos 80, saímos para nos divertirmos e, alguns, até para namorar. 

A sexualidade na terceira idade é um aspeto importante da vida, apesar de frequentemente negligenciado. Ela engloba não apenas a atividade sexual em si, mas também a intimidade, o afeto e a busca pelo prazer, contribuindo para o bem-estar físico e emocional dos idosos. 

Falar de sexualidade na terceira idade ainda não é comum. Este é um assunto pouco abordado não só pelos próprios, como pelas famílias e sociedade em geral. Admitir quaisquer limitações no campo da sexualidade, tal como o desejo, não é fácil para ninguém.

Envelhecer não significa desistir do amor, do desejo ou da intimidade. Pelo contrário, é fundamental reconhecer que a sexualidade faz parte da identidade humana até ao fim da vida.

O corpo muda, mas o carinho, o toque e a companhia tornam-se ainda mais importantes.

A sexualidade passa a ser mais emocional do que física, muitas vezes centrada na ternura, no afeto e no companheirismo.

A sociedade ainda estigmatiza o desejo nos idosos, o que pode levar à vergonha ou ao silêncio.

Falar de sexualidade na terceira idade é admitir que não há prazo de validade para amar, nem limite para a sexualidade. Onde a idade falha, a medicina dá uma ajuda, não é à toa que se vendem tantos medicamentos que ajudam os mais velhos.

Bjs