Para o senhor Júlio, sonhar é tão importante como respirar. E, apesar de nunca o ter deixado de fazer, mantendo vivo também o imaginário da sua vizinhança através dos filmes do seu videoclube, a visita inesperada do seu neto de 10 anos muda tudo.‘O Lugar dos Sonhos’, de Diogo Morgado, que estreou dia 28 nos cinemas, promete unir gerações.
Escreveu Miguel Esteves Cardoso que «os melhores sonhos de todos são aqueles que nos põem a pensar e a mexer». «Os únicos sonhos de que vale a pena falar são os que não nos deixam dormir», acredita. E Diogo Morgado tinha um: o de criar um filme que homenageasse o cinema, as histórias, unisse gerações e estimulasse o imaginário. Foi desse desejo que nasceu O Lugar dos Sonhos, a sua mais recente criação que estreou esta quinta-feira, dia 28 de agosto, nos cinemas portugueses. «Sonhar é tão importante como respirar», diz a dada altura o senhor Júlio – protagonista desta narrativa -, ao seu neto, com a paisagem de Cabeço de Vide por trás.
É desta relação que vive esta longa-metragem que conta a história de João, um rapaz de 10 anos viciado em videojogos que vive em Lisboa com a sua mãe e que se vê obrigado a ir à terra do avô, um apaixonado por cinema, com quem não tem muita proximidade, no seu videoclube à beira do fecho. O que começa como um reencontro forçado acaba por se tornar numa deliciosa viagem de descoberta, cumplicidade e amor, onde o avô apresenta ao neto a magia da sétima arte, explorando temas como o legado, o perdão e a importância de sonhar.
Com argumento e realização de Diogo Morgado, o filme conta com a participação de atores como Carlos Areia, que dá vida a Júlio, Gonçalo Menino, que representa João, Aurea, como Sara, a sua mãe, José Fidalgo, o seu pai, Ricardo de Sá, Carmen Santos, Guilherme Filipe, Pedro Lacerda, Pompeu José e Maria Viralhada.
Um filme que une e faz sonhar
«Esta ideia surgiu há muito tempo. Eu tinha vontade de fazer um filme que de alguma forma fosse uma homenagem ao cinema, uma homenagem aos filmes que foram importantes na minha vida», começa por confidenciar Diogo Morgado à LUZ, acrescentando que o filme Cinema Paraíso, de Giuseppe Tornatore, foi talvez o que mais o impactou. «Tinha 10 ou 11 anos quando o vi e pensei: ‘Ah, este filme tem um miúdo, portanto eu posso ver!’. Estava longe de perceber que o filme era, apesar de ter uma criança, um filme de adultos, um filme que naquela altura me fez levantar muitas questões», lembra. Portanto, para si, já aí o poder do cinema e das histórias, «tiveram a sua função». «Eu acredito mesmo no poder transformativo das histórias. Acredito mesmo que as histórias têm que nos fazer questionar, pensar, nos levar para outros mundos e para outras vidas. É mesmo transformador», garante o realizador.
O também ator tem dois filhos: um de 9 anos e outro de 15. «A pergunta que coloquei foi: ‘Como é que hoje se poderia criar uma história que falasse um bocadinho para todos? Que apelasse a esta malta mais nova que, se calhar, nem sabe o que é um filme português, que nunca teve um filme que de alguma forma fosse feito a pensar neles’. A verdade é que o meu filho, por exemplo, não se recorda sequer de um único filme português, os únicos filmes que conhece são os de animação que vêm lá de fora e que são dobrados», lamenta. «E portanto, queria fazer um filme a pensar neles e, ao mesmo tempo, a pensar nos graúdos, uma homenagem àquele tempo em que nós íamos a um videoclube e levávamos uma cassete, éramos multados se não a rebobinássemos, ficávamos horas a ler a descrição que estava na parte de trás da capa para poder fazer a escolha certa, falávamos uns com os outros sobre os filmes… É uma coisa que hoje em dia já não existe», continua.
Diogo Morgado queria, sobretudo, criar uma história que, em vez de criticar os tempos modernos, criar ainda mais divisórias, fizesse o contrário, não fosse segregador, que criasse pontes: «Há muita coisa que esta malta nova sabe que eu, os meus pais, os meus avós, não têm acesso, e nós podemos aprender com eles também. E portanto, queria que fosse um bocadinho disto tudo: uma homenagem ao cinema, às histórias, às gerações, à ligação das gerações», descreve. Queria que fosse um filme claramente de família. «Acho que nós fazemos muito e bom cinema, mas às vezes esquecemo-nos um bocadinho destes segmentos, que são extremamente importantes», aponta, alertando que desde a Covid, com a explosão do streaming, o cinema tem vindo a sofrer. «E não só o cinema português, mas sim o cinema enquanto forma de existir, enquanto arte. As pessoas vão cada vez menos às grandes salas, a própria indústria e a forma de fazer filmes ressentiu-se com isso, porque antigamente com muita gente a ir ao cinema havia espaço para devaneios criativos, havia espaço para filmes que pudessem não ser blockbusters, mas que ainda encontrassem um lugar. Está cada vez mais difícil isso acontecer», acredita.
Carlos Areia dá vida ao senhor de 80 anos que foi mantendo o seu Lugar dos Sonhos vivo, apesar do passar dos tempos e das mudanças que estes acarretam. E Diogo Morgado não podia estar mais feliz com a sua escolha. «Já aprendi no passado que não é muito bom estarmos a escrever com uma pessoa especificamente na cabeça, porque a chance de poder acontecer alguma coisa e depois não se vir a concretizar é real. Então o que eu faço é, em determinados momentos, em determinadas cenas, escrever pensando em determinados atores», explica. Por exemplo, no caso do Júlio, chegou a pensar em atrizes, como Lídia Franco. «Pessoas com quem eu já trabalhei, que tenho uma afinidade grande, uma admiração. Queria que todos esses momentos e todas essas cenas fossem inspiradas em pessoas que eu admiro bastante», adianta. «O Carlos também sempre foi uma pessoa que me esteve no pensamento, pensei muito nele enquanto escrevia o argumento, mas não me quis apegar muito, porque sabe lá o que é que podia acontecer, não é? Depois, quando a coisa se concretizou, fiquei incrivelmente feliz, porque acho que o Carlos personifica completamente aquilo que é o espírito do Júlio. É como se as histórias fossem a fonte da vida para ele. Como se ele continuasse com aquela energia de um miúdo de 15 ou 16 anos e vai por ali atrás dos sonhos e da imaginação. Tinha de ser um ator que carregasse esse espírito de juventude, de energia e de sonho. Portanto, para mim foi perfeito quando o Carlos aceitou este desafio», garante.
No que toca ao mais novo, Gonçalo Menino, foi escolhido através de casting. «Nós fizemos um casting enorme para os miúdos, porque é mais difícil termos referência do que é que essa malta anda a fazer (risos). Tanto a Maria Viralhada como o Gonçalo foram fruto de castings e fiquei incrivelmente feliz com eles, porque acho que fazem uma dupla genial. É delicioso vê-los. E o filme tem algumas cenas escritas só com eles dois… Aquela centelha dos primeiros amores, aquela coisa de estar lá com aquela vergonha, com aquela coisa de querer ser melhor para impressionar os outros, todo esse espírito», detalha.
A escolha de Aurea, segundo o realizador, «foi curiosa». «Vi há muito tempo uma entrevista dela na RTP em que dizia que – isto a propósito dos sonhos -, o seu sonho, quando começou a ser mais conhecida, não era ser cantora, estava a estudar para ser atriz. Apesar de gostar muito da música, esta não foi a sua primeira paixão. Fiquei com aquilo na cabeça e quando estava a escrever para a mãe do João, queria que fosse uma escolha surpreendente, mas ao mesmo tempo muito simples, sem grandes subterfúgios, sem ser uma atriz a tentar fazer muita coisa, a tentar pôr muitos elementos, que fosse uma coisa super orgânica e real», revela. A equipa pediu-lhe que esta enviasse uma pequena cena, que serviria de pequeno teste. «E ela foi incrivelmente generosa. Fez muito rapidamente essa gravação, mandou para nós, e assim que nós vimos, ficou claro que a era a pessoa perfeita para fazer isto», afirma.
O ‘bichinho’ da representação
E Diogo Morgado estava certo, já que a ligação da cantora com a representação é longa. Esta chegou a participar em espetáculos na escola e frequentou o curso de Estudos Teatrais na Universidade de Évora. «O gosto pelo teatro surgiu há muito tempo. Aliás, pelo teatro, pela representação, pelo cinema, pelas artes performativas… Eu sempre gostei muito de ver cinema, espetáculos, música ao vivo. Sempre gostei muito de conhecer cada vez mais e de experimentar coisas diferentes», conta Aurea à LUZ. «Entrei na Universidade de Évora e apaixonei-me pela representação e por tudo o que ela implica. Costumo dizer que o teatro e esta paixão são um bichinho que nunca saiu cá de dentro, porque apesar de ter seguido uma coisa que amo realmente, a música, de vez em quando, vou experimentando algumas coisas quando, vou aceitando essas oportunidades e vou-me aventurando», admite. Mas nunca tinha feito cinema…
E, apesar de ter recebido o convite com alguma surpresa e ter ficado com algum receio, decidiu aceitar. «O meu agente recebeu o contacto da parte do Diogo Morgado e da Cinemat. Apresentaram o projeto. Fiz casting para a minha personagem. Enviei o casting ainda muito medo. Eu já tinha recebido algumas propostas para fazer cinema. E na altura em que estava em teatro, já tinha muita curiosidade e muita vontade de experimentar. Entretanto, experimentei dobragens, fiz curta-metragem, experimentei novela, mas nunca tinha tido uma oportunidade como esta… Não é oportunidade… Na verdade, eu acho que tinha medo de arriscar. Quando surgiram os primeiros convites, eu não aceitei. Este chegou numa altura em que eu achei que era a ideal», revela.
Segundo Aurea, não foi difícil apaixonar-se pela narrativa. «Olhei para a sinopse do filme… O Diogo apresentou-me o projeto de uma maneira super apaixonada. Acho que é uma espécie de bebé para ele, e era impossível neste momento recusar. Achei que já tinha aquilo que era preciso, a coragem que era precisa para arriscar e as pessoas certas ao meu lado», conta satisfeita.
Para si, tudo foi um desafio. «É um mundo completamente novo. Uma equipa completamente nova. Muitos textos para decorar também. E alguns desafios que foram aparecendo ao longo das filmagens que com a ajuda de toda a gente foram superados», agradece. A cantora acredita em energias e considera que, neste filme, «se juntaram pessoas com energias muito semelhantes». «Nós unimo-nos muito para fazer este projeto acontecer. E então, nesses desafios que iam aparecendo, eu tinha o Carlos ou o Diogo a ajudar-me. Aprendi também muito com o Gonçalo Menino, que faz do meu filho. Acabámos por nos ajudar todos uns aos outros. E foi um processo muito, muito bonito de acontecer. Por isso, tudo se tornou mais simples», partilha.
O texto conquistou-a pela sua «parte humana». O que está por trás de tudo. «Acho que nos dias que correm as pessoas andam tão aceleradas, têm tantas coisas para pensar, o trabalho, a família, a casa, as contas, os problemas que existem no mundo, que não têm tempo para pensar nas coisas realmente importantes. Nós às vezes deixamo-nos levar pela loucura da vida e dos tempos e acabamos por deixar algumas coisas para trás. Eu acho que este filme fala sobre desacelerarmos, porque é também o que acontece com a minha personagem», adianta. «Ela também vive na loucura do dia-a-dia. Não vive ao pé do pai, o Júlio. E de repente aparece uma oportunidade de voltar à terra. E ali parece que tudo de repente acalma um bocadinho e há uma reconexão familiar entre todos os membros da família. Cria-se uma ligação muito bonita entre avô e neto que é deliciosa de se ver ao longo do filme. Este filme fala muito sobre isso. Sobre valores, sobre prioridades, sobre ligações humanas. Acho que foi isso que mais me fascinou na história», explica, acrescentando ser uma «eterna defensora de que as artes são o melhor veículo para passar mensagens às pessoas». «Às vezes nós estamos completamente alienados de tudo, e ver uma coisa à nossa frente que parece básica, pode ser o suficiente para nos dar um clique, para nos acordar. ‘Ok, eu revejo-me aqui. Eu revejo-me nesta personagem. Eu revejo-me nesta mulher, nesta pessoa. Espera aí, se calhar preciso de fazer alguma coisa com a minha própria vida’. Isso já me aconteceu a mim, com outras histórias, com músicas, com peças de teatro, com coisas que leio. Portanto, acho que é uma maneira simples e fácil de chegar ao outro lado. E é uma maneira delicada de chegar às pessoas», acredita.
Sobre a sua personagem, Aurea descreve-a como focada, prática, decidida, com muita força. «Ao mesmo tempo também é muito doce. Tem esse lado feminino que às vezes não aparece tanto. Eu acho que é por uma espécie de proteção, por tudo aquilo que ela já passou na vida, pelo que tem que passar a criar um filho e a trabalhar ao mesmo tempo, e a ligação que tem também com o pai. Pensei em tudo isso, estudei muito bem o texto, para que tudo isto entrasse dentro de mim. Foi um processo muito bonito», admite.
De ator a realizador
Tal como referido, além de querer unir gerações, neste filme, Diogo Morgado quis mostrar a importância de mantermos o sonho vivo, sobretudo numa altura em que o mundo parece virado ao contrário. «Este filme pretende lembrar a importância das coisas mais simples. Acho que é importante lembrarmo-nos de que podemos ver 550 mil filmes na Netflix, mas a experiência de nos sentarmos numa sala de cinema com 20 ou 30 pessoas ao nosso lado e assistirmos todos numa sala escura à mesma coisa, tem qualquer coisa de mágico, tem qualquer coisa de especial e é uma experiência diferente. Nós saímos das nossas casas com um propósito. Isso é uma intenção, isso carrega uma intenção. E lembrarmos que isso faz bem, é bom», explica.
Esta não foi a estreia do ator como argumentista e realizador. Na verdade, há já muito tempo que este tem explorado esta sua faceta e não podia estar mais contente pelo trabalho que realiza atrás das câmaras. «É acima de tudo fascinante. Mas isso sempre foi… Começou por ser como espetador quando comecei a fazer cenas aos 15, 16 anos… Os cameramens chamavam-me para me mostrarem as coisas. ‘Olha tu estás a ver ali aquilo? Tens de estar ali por causa da luz’. E eu: ‘Ai é? Mas porquê?’. Confesso que esse lado mais técnico, aquilo que está por detrás da cortina, o que faz a máquina funcionar, sempre foi uma coisa que me fascinou imenso. E depois fui aprendendo muito, de uma forma muito autodidata. Tive a sorte de passar por muitos platôs e muitos projetos em que aprendi com os erros dos outros», lembra. «Escolhas de atores, a forma como o realizador se deve dirigir a eles, como deve cativar uma equipa, como deve ser atento aos pormenores técnicos… O realizador deve saber por dentro, do ponto de vista técnico, o que é que está a ser executado. O Tarantino diz que não, defende que cabe ao realizador ter uma visão, mesmo que não saiba como lá chegar. Eu não acho que seja tanto assim. Acho que é muito importante, mesmo como ator, nós sabermos o que é que está a ser captado», revela.
E a primeira montagem do O Lugar dos Sonhos, foi feita por si. «Depois passámos ao editor para que colocasse o seu cunho artístico… É um trabalho colaborativo como é óbvio. Ou seja, acho muito importante que quem está a contar uma história compreenda tanto o lado mecânico como o lado abstrato e artístico. Ou que pelo menos tente (risos)», esclarece.
Diogo escreve quando «a ideia não o consegue abandonar». Ou seja, não se obriga a escrever. «Tenho que escrever para saber o que é que vai acontecer. Eu tenho que ver aquele filme. E, portanto, quando começo geralmente vai de uma assentada. Geralmente quando quero ver mais um bocadinho do que é que vai acontecer sento-me para escrever. Geralmente acaba por ser num espaço de tempo, sei lá, de dois, três meses no máximo», conta.
«Lembro-me, por exemplo, no Irregular, que foi o filme anterior que saiu, de eu ficar, com aquela sensação que temos quando, por momentos, perdemos o nosso filho de vista no shopping. É uma sensação tão específica, tão única, que nós de repente ficamos descaracterizados enquanto pessoas. Ou seja, passa a ser absolutamente secundário a nossa personalidade e o que toma conta é uma espécie de bicho à procura da sua cria», exemplifica. «Começa por ser eu a tentar criar um problema a mim próprio, do ponto de vista criativo: ‘O que é que aconteceria se eu fosse uma bomba de gasolina deixasse a minha filha no carro e quando voltasse estava um rapaz e já não era a minha filha?’. E depois vou escrevendo com a tentativa de o descobrir. Não sei se me faço entender, mas o processo acaba por ser assim», continua.
Segundo o realizador, O Lugar dos Sonhos foi um desafio muito grande porque «acaba por ser muito simples». «Ele é muito simples, muito linear… Mas tentei que ele tivesse ramificações. Por exemplo, nós estamos a falar de dois pais que estão separados. Estamos a falar de um miúdo que não se sente afetado por esse divórcio. É possível que haja pais que se separem e consigam educar um filho, sem que isso seja uma desculpa constante. Estamos a falar de um protagonista que, aos olhos de toda a gente é um super-herói, mas também ele não foi um bom pai e está a tentar emendar aquilo que não conseguiu ser com a filha, com o neto. Apesar da estrutura da história ser muito simples e muito linear, até o vilão tem uma razão pela qual está a fazer aquilo ao Júlio, é uma coisa que acaba por estar lá no fundo recalcada, lá atrás, mal resolvida, e se calhar apenas por um engano», reflete.
Relativamente à forma como olha para o panorama geral da sétima arte no país, Diogo Morgado lamenta que seja uma «luta muito inglória». «Nós olhamos para o top 20 nacional e os filmes mais vistos têm características muito específicas. Ou é uma comédia, geralmente muito simples, muito básica, que também já fiz; ou é um filme com um cariz mais sexual. Parece que há aqui uma bipolaridade muito grande», explica. «O que eu gostava de ver eram propostas diferentes, coisas criativas, que pudessem ter o seu lado autoral, mas que também pescassem o olho às pessoas que estão em casa e que, se calhar, cada vez menos têm vontade de sair para ir ao cinema, ainda para mais ver um cinema português», continua, acrescentando que considera importante que as pessoas «em vez de se dividirem entre cinema autoral, cinema independente e cinema comercial, se juntassem, que olhassem uns para os outros, para aquilo que os outros estão a fazer e tentassem criar propostas que dessem um bocadinho a todos». «Eu, honestamente, tento fazer isso», garante. «Acho que tem que haver um casamento, uma intenção de fazer um casamento com o público no cinema português», remata.