Nota prévia: Este ano há eleições na Associação Mutualista Montepio Geral, que junta mais de 600 mil associados. O grupo Montepio tem sido dirigido por mutualistas que chegam a ganhar como estrelas da bola, o que é anti-natura. É importante escrutinar quem vai concorrer e os respetivos interesses, coisa que compete ao governo e ao regulador.
- Ser autarca é o lugar mais bonito e mais desgastante da política. É bonito porque a missão é de proximidade e porque visa a resolução de problemas concretos que afligem pessoas fragilizadas por todo o tipo de necessidades e dramas. Há de tudo, da violência doméstica à indigência, passando pela urgência de arranjar cada vez mais apoios domiciliários. As autarquias e as misericórdias são a rede capilar de ajuda à Pessoa Humana. E os autarcas são a primeira linha em caso de calamidade, como se tem visto nos incêndios. Infelizmente é também no Poder Local que se verifica o maior número de casos de invejas, ajustes de contas, traições, rivalidades obscenas, denúncias, difamações, guerras familiares, partidárias e intrapartidárias. É a prova acabada de que Churchill era sábio ao afirmar que os inimigos são os que se sentam ao nosso lado, enquanto os da frente são só adversários. Hoje é ainda pior porque tudo é potenciado por redes sociais apócrifas. O quadro está em reprise em véspera de autárquicas. Vivemos exemplos de feira de vaidades e de assalto ao poder, manchando a mais bela festa da democracia. Multiplicaram-se habilidades para pôr uns nas listas e tirar outros. Há casos de movimentos de cidadãos que se mantiveram ou apareceram, fazendo alianças espúrias e coligando-se com partidos “barriga de aluguer” para tornear dificuldades logísticas. Almeida Santos dizia que um independente numa autarquia é por definição um cacique local. Não é verdade absoluta, mas acontece. Até pela degradação da qualidade dos partidos. Em todo lado, de Lisboa à mais singela freguesia, conhecem-se situações deploráveis, embora se saiba que a maioria dos candidatos são pessoas altruístas. Concorrem a universo colossal. São 308 municípios e 3259 freguesias. Disputam 36.498 mandatos. Significa que um partido que faça o pleno tem de apresentar, contando com os suplentes, entre 48.097 e 72.996 nomes. No meio disto há, claro, cambalachos ‘Tutti Fruti’ em todos os partidos, sem que ninguém, muito menos os tribunais, possa conferir o rigor das listas e a legalidade dos processos entregues em milhares de caixotes cheios de folhas A4. Com a Inteligência Artificial, talvez se possa vir a fazer o teste do algodão a tudo isto. Até lá, é importante que cada eleitor tenha consciência de que é nas autárquicas que há mais obrigação de pensar bem antes de votar.
- Pode-se hoje dizer que o Chega está normalizado. Há mesmo sinais de que mantém potencial de crescimento, dada a forma oportunista como Ventura sempre aparece. Nem mesmo cenas patetas, como o vídeo encenado em que apaga umas labaredas junto a um eucalipto, o prejudicam. Figuras tristes são apanágio de todos os políticos. Não é por isso, pelo populismo e pelos ideais que o Chega perde legitimidade para colocar gente em lugares como o Tribunal Constitucional (TC), como alguns defendem. Já ninguém se indigna por Pacheco de Amorim ser vice-presidente do Parlamento, apesar da sua inaptidão. Seria antidemocrático e um fator de vitimização barrar o caminho à designação pelo Chega de uma das quatro vagas que se abrem no TC. Uma presença que fosse poderia até demonstrar que não há grande espaço para mera política partidária, quando se analisa a conformidade de leis com a Constituição.