Nos últimos dias temos assistido a imagens que me inquietam. Políticos a encenar combates às chamas, a posar para a fotografia no meio da tragédia, como se o sofrimento alheio pudesse ser transformado em oportunidade de propaganda. Essa teatralização é, a meu ver, absolutamente indecente. Quando famílias perdem casas, terras e memórias, o mínimo que lhes devemos é respeito.
Os incêndios não se enfrentam com espetáculos ou selfies oportunistas. Enfrentam-se com políticas públicas consistentes, com prevenção eficaz, com recursos adequados e com mais apoio a quem arrisca a vida no terreno. É isso que faz a diferença entre discursos vazios e soluções verdadeiras.
O Governo apresentou um conjunto de medidas de emergência para apoiar populações e empresas atingidas. São passos importantes, mas sabemos que não chegam. Portugal precisa de uma estratégia mais ambiciosa e mais duradoura. Não podemos continuar a reagir apenas quando o fogo já lavra. Temos de investir na preparação e na gestão inteligente do território.
Uma das propostas que considero essenciais é a criação de uma unidade militar de emergência, especializada no combate a incêndios, tal como existe em Espanha e que tantas vezes vem apoiar-nos. Seria uma força profissional, equipada e treinada para atuar em situações extremas.
Outra medida passa pelo aproveitamento da biomassa. O excesso de resíduos vegetais nos terrenos é combustível pronto a arder, mas ao mesmo tempo pode ser fonte de energia limpa. Para os pequenos proprietários, a limpeza é dispendiosa e não existem centros adequados de recolha. Se transformarmos esse risco em oportunidade, criando um sistema integrado de recolha e aproveitamento, como já acontece nos países bálticos, estaremos a proteger o território e a gerar valor económico.
É igualmente urgente rever a política fiscal. Hoje, a terra produtiva é mais penalizada do que a terra abandonada e o imposto de transmissão continua a favorecer a construção em zonas vulneráveis. É um contrassenso que mina qualquer estratégia séria de prevenção. O interior precisa de ser apoiado, não castigado. Atrair jovens para a agricultura e para a vida no interior é uma questão de soberania, coesão e segurança nacional.
Não podemos esquecer também os incendiários reincidentes. Alguns têm perturbações psiquiátricas, outros são criminosos já referenciados. É preciso soluções adequadas a cada caso, mas também vigilância apertada, incluindo pulseiras eletrónicas, para proteger vidas e património.
Ao contrário de quem prefere encenações, eu escolho estar do lado das soluções. Quero um país que aposte na prevenção, que valorize o território, que apoie os bombeiros e que dê confiança aos cidadãos de que estamos preparados. A coragem política mede-se na capacidade de decidir e agir, não em procurar palco no meio das chamas.
O futuro exige trabalho sério, visão estratégica e compromisso com as pessoas. É essa responsabilidade que devemos assumir perante os portugueses.