Não parece, pois não? Ainda agora os trabalhadores receberam mais retroativos de IRS e os pensionistas um suplemento extraordinário, o rating subiu e a dívida desceu, daqui a nada o Orçamento do Estado trará descidas de impostos e mais dinheiro para saúde, educação e defesa, notícias que por enormíssima coincidência serão dadas em cima das autárquicas, então por que raio este título mancha-propagandas e desmancha-prazeres?
Não é preciso ler nas estrelas, basta ler nos relatórios do Conselho das Finanças Públicas. E do Banco de Portugal. E da Fitch. E da Comissão Europeia. E talvez do próprio Orçamento. Em 2026 provavelmente regressamos a défices orçamentais. Não é o fim do mundo. É só o fim da governação fácil.
Toda a política económica da AD, nas duas vidas que leva em apenas ano e meio, assenta em descer impostos. E descer impostos resulta tipicamente de uma visão de menos Estado e numa redução de despesa. Só que não. Não desta vez.
O primeiro governo da AD era politicamente tão frágil que Luís Montenegro começou a ler o livro pela última página: em vez de fazer o difícil no princípio e deixar as boas notícias para o fim, saltou diretamente para aumentos salariais, acordos na função pública, mais complemento solidários para idosos, bónus nas pensões, apoios a medicamento. As eleições antecipadas viriam – e vieram: a AD reforçou-se, mas não muito. Só que muitas medidas já aprovadas, como a contagem do tempo de carreira dos professores, custam mais no futuro do que quando foram apresentadas. O futuro chega em 2026.
Há mérito dos ministros das Finanças e muito esforço dos contribuintes, mas não há milagre nas contas públicas. O que mais contribuiu para a valente descida da dívida pública de 134% em 2020 para 96% no início de 2025 não foi nenhuma decisão política, foi mesmo a elevada inflação da pandemia. E a base do crescimento económico não tem sido nenhum salto de inovação ou investimento, mas haver muita gente a trabalhar e muita gente a consumir, incluindo estrangeiros nas duas gentes.
A descida de IRS deste ano já tem menos efeito do que a do ano passado, o que se verá nos salários pagos no fim de outubro. Para 2026, o governo pode até ser tentado a não executar partes do PRR para reduzir os seus gastos de investimento, o que seria trágico. E assim chega ao fim o dinheiro que foi sendo gerado com a carga fiscal paquidérmica que a AD tanto criticou mas ainda pratica.
É por isso que o governo finalmente começou a fazer reformas,
na Educação, nas leis laborais, no Estado. É porque o dinheiro fácil acabou. E por isso, mesmo que ainda não pareça, a governação difícil começou.
Os pornobónus do Novo Banco
Os prémios pagos a administradores pela venda do Novo Banco são tão elevados que não são prémios de gestão, são comissões de sucesso. Sucesso de vendedores de ativos com cobertura do Estado. A parte boa é que, ao menos, o Fisco vai agora receber metade destes prémios em IRS, certo? Ou podemos já passar para a parte em que descobrimos a excelência da otimização fiscal destes sujeitos passivos?
Construir, construi, construir!
Álvaro Santos Pereira avisa que é preciso construir muito, para baixar preços do imobiliário e evitar problemas sociais e financeiros. Certo. Mas agora que é governador, também pode dizer aos seus colegas do BCE que as baixas taxas de juro são provavelmente a principal razão para tanta procura – e subida de preços.
Dias de Sol!
Este seu jornal saltou em altura – e vai saltar em comprimento. É um gosto estar aqui consigo. Agradeço à direção do Nascer do SOL pelo convite. E a si pela leitura. Até para a semana.