Independentemente das minhas incursões por várias áreas dos media, sou aquilo por onde comecei a minha actividade profissional: jornalista. Honro-me disso. Tenho um enorme orgulho e considero-me, ao mesmo tempo, um privilegiado. A vida proporcionou-me a oportunidade de observar, testemunhar, retratar, comentar e mesmo intervir criticamente em acontecimentos perante os quais não teria passado de mero espectador, se não fosse o jornalismo a desenhar o meu caminho.
Perguntar-se-á o leitor: por que carga de água está este homem a chamar para aqui a vida dele? Eu respondo, com a frontalidade de sempre: porque olho para o panorama que a sociedade portuguesa actualmente oferece, em matéria de lideranças, e fico com saudades do passado.
Entrevistei e moderei debates com personalidades como Mário Soares, Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa, Álvaro Cunhal ou Jorge Sampaio, entre outras. Aprendi a admirar vultos como António Barreto, Vasco Pulido Valente ou Leonor Beleza. Gente com ideias, com projectos e com ambição. Todos referências, na direita, ao centro ou na esquerda, mesmo quando as suas convicções os deixaram isolados, nos partidos a que pertenciam ou no País. O calculismo, que também existia, assentava em pressupostos de inteligência, cultura, experiência de vida e coragem.
Hoje, quando a memória me força a comparações, sinto que estamos muito pobres. Pensa-se pouco no que é melhor para Portugal, com subjugação total à caça ao voto. Interessa é agarrar o Poder, sob que forma for. Encontrar a verdade, no meio da propaganda e da mentira que assolam o discurso político, é um quebra-cabeças para noites de insónia. Não há virgens, mas há quem peque mais do que outros.
Os extremismos, da esquerda e da direita, minam as sociedades, com o seu radicalismo, a demagogia sem limites e a lógica do bota-abaixo, em nome de nada. André Ventura é o perito do momento. Critica tudo, fala mal de tudo, aproveita toda a desgraça em que tropeça. Dispara palavras, conforme o vento que sopra. Sabe manipular audiências e inflamar as massas. Cultiva uma desfaçatez sem limites, a mesma que o leva a afirmar, sem se engasgar, que é o único candidato presidencial anti-sistema, quando ele próprio é um produto do sistema e dele se tem servido. Não se lhe conhece uma ideia ou um projecto, que resultem de pensamento orgânico, reflectido e estruturado, ou, sequer, dissociados de alguma polémica momentânea.
Tenho saudades de políticos com projectos verdadeiros para o País, que pensem realmente nos cidadãos, em quem se possa confiar, sem grandes reservas, para além daquelas que são as normais e sãs divergências que resultam de visões diferentes da sociedade. E é sabido que , no exercício da minha actividade, tive situações conflituosas com algumas das figuras de referência que já mencionei neste texto. Não perdi a admiração por quem me criticou, porque o debate de visões distintas assentava, sobretudo,
em princípios e convicções, repletos de paixão por Portugal.
Gostava de voltar a sentir o mesmo. Não quero perder a esperança, nem perder a fé num País, apesar de tudo, viável. Como português e como jornalista,
resta-me resistir e insistir.