Conheço um ativo que, nos últimos dez anos, valorizou sempre mais de 5% ao ano, sempre acima da inflação, sempre muito acima dos depósitos a prazo e certificados de aforro, é um ativo legal, regulado, e só no último ano valorizou mais de 17%! Quer investir? Então compre uma casa.
Não é piada sádica, mesmo se este investimento que enriquece muitas pessoas empobrece muitas mais. É para sublinhar um aspeto raramente notado: um imóvel é capital. E os rendimentos deste capital têm valorizado incrivelmente mais do que os rendimentos do trabalho. E assim o mercado imobiliário transformou-se em muito mais do que habitação e em muito mais do que negócio: é um divisor social, um acelerador de desigualdade geracional e um potencial problema financeiro.
Os bancos cavalgam lucros, o Estado e as autarquias rebolam em receitas de licenças, IMI e IMT, e os compradores antigos, com preços do bom tempo, deixam-se estar quietos. Mas o que é impressionante é a falta de ação política perante um problema explosivo. Os governos PS não ligaram pevide até já ser tarde de mais, altura em que inventaram um programa medíocre que não deu em nada. E o Governo da AD anuncia medidas benévolas mas tão potentes como bisnagas num incêndio. Ainda não é desta. Nem desta proposta do Governo, nem desta eleição autárquica, onde a maioria dos candidatos a presidentes de câmara não tem imaginação para mais do que atirar para o Governo ou jogar no inútil campeonato de quem constrói mais casas subsidiadas, atirando dinheiro para cima de um problema sem o resolver.
Pagar amanhã
Quando Montenegro prometeu, no fim de 2023 em vésperas de eleições, aumentar o Complemento Social para Idosos (CSI) para uma referência de 820 euros até 2028, disse que a medida não mais do que duplicaria o custo anual então abaixo dos 300 milhões de euros. Errou. Segundo o Conselho de Finanças Públicas, o valor quase duplicará para quase 600 milhões já este ano. Em 2026, será de 730 milhões e em 2029 de 1100 milhões. Não duplica, quase quadruplica. A promessa está a ser cumprida mas o custo está a ser comprido. Muito comprido.
OE sem Bloco
Mariana Mortágua é das deputadas mais bem preparadas em matérias económicas. Em vésperas de Orçamento, está ausente do Parlamento. A viagem na flotilha, onde é só mais uma, vai sair-lhe cara no partido, onde é essencial. Ou era.
O mundo ao contrário
O Ocidente anda sem pachorra para coisas como alterações climáticas. Cansou-se, talvez, ou passou a acreditar que elas são uma fraude, como defende o mesmo homem que sugeriu injetar lixívia para combater a SARS-Cov-2 (a doença da pandemia covid-19) ou que diz que autismo é causado por um comprimido de paracetamol. Esse homem é Trump, Presidente de um país que faltou esta semana à cimeira do Clima da ONU, onde até países como o Irão estiveram. E onde a China, o maior produtor de gases de estufa do mundo, anunciou pela primeira vez compromissos para a redução de emissões e para a transição para combustíveis não fósseis. Um país desenvolvido não é apenas um país rico. E a China parece rir-se da Europa, o bom aluno sem força económica, e dos EUA, a potência económica que se tornou mau professor.