A Gramática Esquecida da Pompa Estatal

A pompa não é um teatro frívolo. É uma pedagogia cívica em forma simbólica. Quando um jovem assiste à coroação de um monarca ou a um desfile disciplinado em Beijing (北京), ele aprende não apenas que o seu Estado existe, mas também que ele tem majestade, continuidade e direção. Aprende a reverência pelo todo maior.

Um Estado não se mantém unido apenas por leis e impostos. As estruturas jurídicas podem regulamentar, os parlamentos podem legislar e as burocratas podem executar, mas o cimento invisível da unidade reside nos símbolos, cerimónias e formas visíveis de continuidade que unem as gerações. Todas as coletividades duradouras sabem disso. A Monarquia Britânica, com os seus rituais cuidadosamente coreografados, preserva na sua pompa a convicção de que o Estado não é um arranjo temporário, mas uma entidade contínua. Da mesma forma, o Partido Comunista Chinês, embora declaradamente moderno e revolucionário, compreendeu a profunda necessidade de um espetáculo orquestrado: os seus desfiles militares, os seus congressos partidários, os seus aniversários encenados não são ornamentais, mas existenciais. Estes reafirmam que existe um centro, que existe ordem, que o povo pertence a algo maior do que a soma dos interesses individuais.

Em grande parte da Europa continental, por outro lado, a gramática do protocolo estatal foi abandonada. As monarquias foram derrubadas, as igrejas foram marginalizadas, os rituais republicanos foram esvaziados. O que resta é um simbolismo empobrecido, hasteamento de bandeiras em feriados nacionais, discursos políticos estéreis, comemorações burocráticas com pouca força imaginativa ou emocional. O resultado é que o patriotismo, despojado da expressão ritual, torna-se distorcido. Quando o Estado oficial nega aos seus cidadãos a experiência do orgulho legítimo e da continuidade, a fome emocional de pertença não se extingue; ela é desviada. Daí a ascensão dos movimentos de extrema direita: eles tentam suprir, por meio da raiva e da exclusão, o que o Estado antes alimentava por meio de cerimónias dignas e identidade compartilhada.

A pompa não é um teatro frívolo. É uma pedagogia cívica em forma simbólica. Quando um jovem assiste à coroação de um monarca ou a um desfile disciplinado em Beijing (北京), ele aprende não apenas que o seu Estado existe, mas também que ele tem majestade, continuidade e direção. Aprende a reverência pelo todo maior.

O ritual confere dignidade ao poder e significado à obediência. Uma nação sem tais rituais pode governar, mas não inspira. Perde a confiança em si mesma. Os cidadãos começam a ver o seu país como um mero espaço administrativo, intercambiável com qualquer outro.

Portanto, não é surpreendente que as sociedades europeias sofrem de perda de autoestima e confiança nacional. Ao se privarem da cerimónia, elas cortaram os meios pelos quais as comunidades afirmam a sua existência. O culto à democracia processual, insistindo que leis e orçamentos são suficientes, negligencia a verdade mais profunda de que o ser humano é uma criatura simbólica. Onde não há pompa legítima, haverá espetáculo ilegítimo, comícios populistas, manifestações extremistas e violência teatral.

Um patriotismo saudável requer continuidade visível. Seja nas vestes da realeza ou nas bandeiras do partido, o importante não é o traje, mas o reconhecimento ritual da permanência. Sem isso, as nações vagueiam em direção à perda de identidade, incapazes de articular quem são ou por que perduram. A Europa faria bem em lembrar que o protocolo, a heráldica, o cerimonial, a pompa, no fundo a Liturgia do Estado, não são relíquias de uma era passada, mas instrumentos de unidade, autoestima e confiança no presente e ambição relativamente ao futuro.

Miguel Pinto-Correia, Economista