Vivemos tempos sombrios. Para as Nações Unidas, o mundo atravessa uma ‘nova era de conflito e violência’. O ano de 2024 terminou com o planeta atingir o maior número de conflitos armados desde o final da Segunda Guerra Mundial e 2025 não está a ser melhor. Diversas organizações internacionais estimam que existam mais de 50 conflitos armados espalhados pelo mundo, da Europa a África.
Há guerras por conquista de territórios, por questões ideológicas, por extremismos religiosos e étnicos e de facões que lutam pelo poder. Há guerras promovidas por ditadores que apenas querem continuar a acumular riqueza à custa da desgraça do seu povo, pelo controlo do tráfico de droga, de seres humanos e de matérias preciosas.
Palavras como ‘vitimas civis’, ‘danos colaterais’. ‘fome’, ‘crianças mortas’ e ‘genocídio’ são de tal forma repetidas que quase tornaram banais. Palavras que antes chocariam qualquer ser humano perderam valor e são por muitos encaradas como algo ‘normal’ nos dias tenebrosos que vivemos.
Os que fogem das guerras, os que procuram paz, trabalho e comida no chamado ‘primeiro mundo desenvolvido’, os que não morrem pelo caminho, só encontram novas guerras e ódios. Mesmo que trabalhem, paguem impostos e estejam dispostos para promover uma sociedade melhor, são vistos pelos extremistas de direita e candidatos a ditadores como seres desprezíveis que vêm conspurcar o tal primeiro mundo. São, em cada vez mais países, tratados quase como os escravos do passado. Explorados, empurrados para guetos, perseguidos como cães tinhosos.
Enfrentamos ódios inexplicáveis promovidos por partidos políticos extrema-direita, muitas vezes alinhados com movimentos nazis e fascistas que pensámos nunca mais ver. Vão atrás de todos os que deles discordam e aproveitam os problemas que ao longo dos anos não foram resolvidos para promover os seus ideais sectários e chamar a si os desiludidos que acabam por acreditar nestes falsos profetas.
Portugal não é exceção. Aqui, como em muitos outros países, o discurso de ódio ganha terreno. As perseguições aos mais frágeis e aos que os defendem são cada vez mais frequentes e violentas. A comunicação social independente é atacada. Graça a mentira que, tantas vezes repetida, leva muitas a tê-la como verdade.
Muitos encolhem os ombros ou ficam calados porque não são eles os visados. Ignoram que, como tantas vezes aconteceu ao longo da história, que um dia pode chegar a sua vez e, aí, já será tarde para lutarem.
Vivemos tempos em que é preciso unir vozes em defesa da democracia. É tempo de combater o ódio e a violência de forma pacifica, mas firme. De nunca desistir de desmascarar as mentiras dos que perderam a vergonha de sair à rua defendendo um passado ainda mais tenebroso que o que vivemos.
É tempo de lutar e a melhor arma em democracia é voto. Portugal tem duas importantes eleições à porta e, quem defende um mundo civilizado, não pode ficar em casa a começar nas campanhas eleitorais. Tem de haver unidade em torno dos que defendem a ética e a democracia, dos que estão do lado dos desvalidos. Dos que estão ao lado do povo. Tem de haver uma defesa empenhada dos que apresentam propostas sérias para combater a pobreza e uma sociedade mais igual. De formar uma frente contra o ódio e a mentira. Não, na política como na vida, não são todos iguais. É tempo de escolher os que falam verdade, contra os que apenas prometem ilusões.
*…se fosses só três sílabas de plástico, que era mais barato! (do poema Portugal de Alexandre O’Neill)