Nas últimas semanas a Rússia intensificou as ações de guerra híbrida contra diversos países europeus. Os objetivos não declarados da Rússia tornam-se evidentes pelos efeitos que provoca: Intimidação dos agentes políticos europeus, desvio desproporcional de recursos para defesa interna e consequente redução do apoio à Ucrânia, promoção de narrativas que minem a credibilidade da NATO e provoquem a desconfiança entre os seus membros.
Será que a Rússia pode estar satisfeita com os resultados alcançados?
Como acontece frequentemente no jogo de sombras e luz em que se tornaram as relações internacionais no nosso tempo, a resposta é ‘Sim e não’.
Apesar de alguma confusão inicial, a NATO respondeu com reforço de meios e lançamento de uma operação para patrulhar e proteger o flanco leste. A Polónia, depois de consultar os seus aliados no âmbito do Art. 4º do Tratado, deixou claro que irá abater todas as ameaças que voltem a cruzar o seu espaço aéreo, e Donald Trump foi mais longe afirmando que todos os países da NATO deveriam fazer o mesmo, tendo depois Marco Rubio complementado (de acordo com as circunstâncias) .
Por outro lado, o reforço de meios aéreos anunciado pareceu escasso a muitos observadores, que defendiam uma resposta mais robusta, e pareceu exagerado a outros observadores, que defenderam que as capacidades de defesa usadas são desproporcionadas para lidar com estas ameaças. O resultado foi um impulso europeu e ucraniano para produzir as capacidades necessárias em escala e com uma relação custo/eficácia adequada ao potencial da ameaça.
No plano das narrativas em torno desta guerra, se a Rússia conseguiu um ganho tático ao evidenciar algumas vulnerabilidades expostas pelos países da NATO, a consequência não desejada com potenciais efeitos estratégicos foi a aceleração de um conjunto de narrativas desfavoráveis à Rússia e favoráveis à Ucrânia.
Como podem alguns afirmar que as últimas semanas ‘correram bem’ à Rússia, face ao endurecimento da posição americana, incluindo o anúncio de um novo acordo de fornecimento de armamento à Ucrânia, no valor de 90 Biliões de euros, e o anúncio de Von der Leyen da antecipação para 2026 do fim da compra ‘direta ou indireta’ de produtos energéticos à Rússia?
Apesar desta evolução positiva após o primeiro efeito surpresa, a verdade é que os cidadãos europeus e os seus responsáveis políticos têm motivos para estarem preocupados e focados em aprender rapidamente algumas lições…
A NATO, com todas as valências e capacidade da maior aliança defensiva do mundo, está a revelar-se demasiado pesada e lenta para lidar com o inesperado.
Por outro lado, a superfície de ataque exposta à Rússia é gigantesca e diversa, dos cabos submarinos, a bases militares, redes logísticas, infraestruturas críticas físicas e digitais, enfim… Sendo louváveis os esforços para tornar resiliente o que é mais crítico, não vai ser possível defender tudo da melhor forma, muito menos perante um adversário que não está interessado em acordar ‘as regras de jogo’.
Para ultrapassar o dilema da Defesa Total Impossível , a Europa precisa de abandonar a postura exclusivamente defensiva e desenvolver uma estratégia híbrida própria, capaz de enfrentar ameaças assimétricas sem perder os valores democráticos.
Devemos começar por ajudar os líderes europeus a escapar a esta limitação de jogar sempre ‘à defesa’, quando deviam estar a desenvolver e utilizar as suas próprias capacidades de ação assimétrica, híbrida, a coberto de uma estratégia de ambiguidade calculada no plano diplomático, e de negação implausível no plano da comunicação estratégica, à semelhança do que a Ucrânia fez quando iniciou ações em território Russo.
Estas ações deverão priorizar efeitos na dimensão física, virtual e psicológica, mantendo a adesão aos valores liberais dos Estados de Direito Democrático. Isso significa concordar em limitar a ‘Contra-Guerra Híbrida’ europeia, no curto prazo, a coisas como operações ofensivas no ciberespaço, campanhas de contra informação, disrupção eletrónica, ações psicológicas.
Outra limitação seria garantir o controlo democrático que for indispensável, através de modelos de revisão pós-operacional em intervalos regulares.
Os países membros da NATO, devem compreender, por tudo isto, que para dissuadir a guerra híbrida da Rússia com eficácia e custos comportáveis, devem, em primeiro lugar, não assumir que farão à Rússia aquilo que ela lhes faz, e devem fazê-lo com o mínimo de coordenação indispensável para manter tudo na zona cinzenta entre a paz e a guerra… tal como os russos o fazem.
Observatório de Segurança e Defesa da SEDES