Ryder Cup. Orgulho europeu

A Ryder Cup é um dos maiores eventos desportivos do mundo. Os melhores jogadores da Europa e dos Estados Unidos defrontaram-se numa competição de match play com muito drama, tensão e um golfe incrível. A Europa ganhou!

A Ryder Cup reuniu 12 jogadores da Europa e 12 jogadores dos Estados Unidos numa competição de match play que permanece fiel ao espírito do seu fundador, Samuel Ryder. A primeira edição realizou-se em 1927 com vitória dos EUA, que dominam com 27 vitórias, contra 16 triunfos da Europa.

A edição desde ano decorreu num ambiente de grande exaltação patriótica, reforçado pela presença de Donald Trump no primeiro dia de competição, tendo o capitão dos EUA executado a ‘dança Trump’, movimento que o Presidente popularizou na campanha eleitoral. Trump é apaixonado por golfe, é proprietário de vários campos de classe mundial e organiza grandes torneios.

Só que o orgulho americano foi para o buraco com a vitória europeia (15-13), a primeira em solo americano desde 2012! Os representantes do velho continente lideravam após as duas primeiras jornadas, com um recorde de pontos (11,5 contra 4,5), bastando-lhes apenas dois pontos e meio para manter o troféu. Mas, no último dia, falharam por completo perante a recuperação dos EUA, que chegaram a liderar, com o número 1 mundial, Scottie Scheffler, a ganhar ao número 2, Rory McIlroy, num confronto no topo. Muitos acreditaram que iria repetir-se o ‘milagre de Medinah’ de 2012, quando o vencedor (Europa) recuperou de uma desvantagem de 10-6. 

O ambiente ficou ainda mais tenso quando Rory McIlroy criticou os adeptos pelos constantes insultos à equipa europeia e por terem atirado cerveja à sua mulher. «O que aconteceu não é aceitável na Ryder Cup. Não devemos tolerar isto no golfe, que é um desporto que nos ensina a respeitar as pessoas e nos dá lições valiosas para a vida», fez questão de salientar o norte-irlandês, que ganhou pela sexta vez em oito participações.

Festa em grande

Justin Thomas conseguiu uma das tacadas do ano na partida individual contra Tommy Fleetwood e deixou os americanos em delírio. Jogava-se o buraco 6 quando Thomas deu uma tacada perfeita: a bola voou, caiu a um metro da bandeira e rolou para dentro do buraco. Fantástico! As últimas tacadas foram igualmente emocionantes e decidiram o vencedor. Ludvig Aberg conquistou um ponto para a Europa e Shane Lowry levou o jogo até a última tacada do 18.º buraco e garantiu o triunfo. A equipa europeia não olhou a meios para festejar a renovação do título na Ryder Cup e gastou 270 mil euros em 240 garrafas de champanhe Moët & Chandon, vodka Belvedere e conhaque Hennessy Richard Lunar.

O capitão da equipa europeia, Luke Donald, reconheceu que não esperava tantas dificuldades: «Foram as 12 horas com mais stress da minha vida. Sabia que seria complicado, mas não pensei que fosse tão duro. Não poderia estar mais orgulhoso destes rapazes pelo que viveram, pela forma como se mantiveram unidos e pela forma como jogaram para fazer história».

Diante do seu público, os americanos de Keegan Bradley apareceram para o último dia com sede de vingança e fizeram uma recuperação fantástica. A estrela Scottie Scheffler falou sobre a emocionante semana na Ryder Cup: «Estamos sempre entusiasmados para participar neste tipo de eventos. Tinha extrema confiança nesta equipa, que é muito especial. Fizeram tudo o que lhes foi pedido e estivemos numa posição para ter sucesso. É difícil expressar em palavras o quanto dói perder os quatro jogos. Vou voltar e refletir sobre isso», concluiu.

O objetivo de um jogador de golfe é enfrentar o percurso e os seus obstáculos, buraco após buraco, com o mínimo de tacadas. Esta é a forma de jogar mais comum nos torneios disputados em stroke-play. Em outras ocasiões, os ases dos tacos de madeira, ferros e outros putters defrontam-se em match-play, como é o caso da Ryder Cup.

Ao contrário do golfe padrão, a Ryder Cup tem 28 partidas no total, cada partida vale um ponto, e o primeiro a ultrapassar os 14 pontos vence. Se a competição terminar empatada (14-14), o vencedor da edição anterior mantém o troféu. As regras são simples. Quem vencer mais buracos, ganha um ponto para a sua equipa. Se a partida terminar empatada, cada equipa ganha meio ponto. Nos dois primeiros dias, os jogadores competiram em pares nos formatos foursomes e four-balls. No último dia, disputaram-se 12 partidas individuais, com os jogadores a competir diretamente entre si. Em todos os jogos, a pontuação mais baixa ganha o buraco, mas também pode haver empate.

A equipa europeia, capitaneada por Luke Donald, apostou na experiência dos seus jogadores e nas suas tacadas mágicas e inspiradoras de Jon Rahm. A equipa norte-americana optou por um grupo único: não há jogadores muito jovens, nem jogadores mais velhos, são praticamente todos da mesma idade.

Cenário de sonho

A Ryder Cup 2025 realizou-se no campo de 18 buracos do Bethpage Black Course, em Nova Iorque (EUA). Foi inaugurado em 1936 e recebeu grandes campeonatos: sediou o US Open em 2002 (Tiger Woods) e 2009 (Lucas Glover) e o PGA Championship em 2019 (Brooks Koepka). É dos campos de golfe públicos mais famosos dos Estados Unidos e um dos mais difíceis do país, constituindo um teste definitivo para golfistas de lazer e para jogadores de nível mundial.

O torneio de golfe mais prestigiado do mundo tem habitualmente uma audiência superior a 620 milhões de espetadores de mais de 190 países e mais de 600 milhões de interações nas redes sociais. Cerca de 200 mil pessoas pagaram um bilhete diário de 750 euros para assistir à competição.

No meio de toda esta voragem de números sobre lucros, investimentos e retornos, o duelo entre Europa e Estados Unidos pode ter movimentado qualquer coisa como 500 milhões de euros e gerado um impacto económico superior a 200 milhões de euros. 

Ao contrário da maioria dos grandes torneios, a Ryder Cup não dá prémios monetários aos participantes, nem aos seus vencedores. A glória e o troféu de campeão são o único prémio. Contudo, a edição deste ano trouxe uma alteração importante; os 12 jogadores americanos receberam 500 mil euros para participar, o que acontece pela primeira vez em 45 edições, dos quais 300 mil serão doados a instituições de caridade escolhidas por cada jogador. Para os americanos, a Ryder Cup sempre foi uma questão de honra e orgulho nacional, só que o jogo está a mudar. Os participantes dedicam muito tempo e esforço a esta competição, o que justifica uma compensação monetária disseram os responsáveis da PGA of America. A Europa mantém-se fiel à tradição e não anunciou remunerações económicas aos seus jogadores. Rory McIllroy coloca em primeiro lugar o sentimento patriótico e o orgulho europeu ao declarar: «Pessoalmente, pagaria pelo privilégio de jogar na Ryder Cup». 

Importa recordar que os melhores golfistas profissionais têm rendimentos milionários, que variam entre os 32,9 milhões de euros do espanhol Jon Rahm e os três milhões acumulados pelo dinamarquês Rasmus Hojgaard. No lado norte-americano, os números são semelhantes. Scottie Scheffler ganhou este ano 26,5 milhões euros e Jordan Spieth chegou aos 3,1 milhões de euros.