Têm sido cada vez mais os espaços icónicos da capital a fecharem portas. Ora porque os proprietários dos edifícios onde se encontram instalados não querem renovar os contratos de arrendamento, quer pelas famílias que não pretendem continuar com o negócio. Recentemente, A Ginjinha Sem Rival recebeu uma ação de despejo. Ao mesmo tempo, a Tabacaria Rossio e o café Beira Gare deixaram de existir. E o café Centro Ideal da Graça encerrou no dia 30 de setembro
Passam 15 minutos do meio-dia. A Rua das Portas de Santo Antão, como quase sempre, está movimentada. Turistas leem as placas fixadas nas entradas dos restaurantes, refletindo sobre o que comer. Outros, passam, fazendo apenas breves paragens para algumas fotografias. O cheiro a peixe grelhado já se faz sentir. As lojas estão abertas, as esplanadas dos cafés compostas e, como seria de esperar, uma grande fila no número 7. Estamos em frente à Ginjinha Sem Rival, considerada uma Loja com História. Nuno Gonçalves – um dos dois gerentes e bisneto do fundador João Lourenço Cima –, recebe-nos à entrada com simpatia, mas tristeza no olhar. Já cá estivemos em abril, altura em que contou ao Nascer do SOL que o proprietário do edifício comprado em 2023 – que abriga o hotel O Artista –, não pretendia renovar o contrato de arrendamento da loja, colocando fim a uma história de 135 anos. Há cerca de um mês, chegou-lhe efetivamente a ação de despejo.
Uma guerra antiga
«O que acontece é que o edifício foi comprado em 2013 para ser transformado por uma sociedade russa num hotel. Em 2023 foi novamente vendido a uma sociedade espanhola detida por um alemão, Axel Gassnann, que vive em Tenerife. Fomos surpreendidos há uns meses com a receção de uma carta onde dizia que eles não queriam renovar o contrato de arrendamento. E agora recebemos a ação de despejo. Além de considerar injusto para a minha família que está nesta loja desde 1890, é injusto para a cidade de Lisboa», acredita. «Se há negócio carismático e icónico na capital, são as ginjinhas que não existem em mais parte nenhuma do mundo», continua. A «guerra» tem-se arrastado desde que a família recebeu a informação de que o contrato não seria renovado.
Segundo Nuno Gonçalves, o proprietário do edifício alega ser um apaixonado por Lisboa, «como dizem todos os investidores». «São todos tomados por uma paixão assolapada pela cidade, gostam muito das tradições de Lisboa, mas acho que esta é uma maneira muito estranha de mostrarem isso. Mostrar o amor pela tradição querendo acabar com ela?», interroga. «Não tenho nenhuma relação com o proprietário. Assim que recebi a carta, tentei falar com ele através da direção do hotel. Houve um dia em que o apanhei cá e o senhor nem dois minutos de atenção me deu. Foi bastante rude e antipático. Disse que esta era uma decisão que estava tomada e que não havia nada a fazer», lamenta.
O gerente da loja adianta ainda que Alex Gassnann chegou a afirmar que «iria continuar com o negócio da Ginjinha». «Como se isso fosse muito tradicional… Abrir uma ginjinha em 2025», refere. Posteriormente, ficou a perceber o porquê. «Ele propôs um projeto de alteração do hotel de quatro para cinco estrelas à Câmara Municipal de Lisboa (CML). Uma das alterações que queria fazer era deitar abaixo uma parede da Ginjinha Sem Rival para que esta passasse de uma ‘Loja com História’ para um ‘vão de escadas com história’, porque ia passar a fazer parte do lobby do hotel. O que também demonstra, mais uma vez, a paixão que ele tem pelas tradições de Lisboa», diz em tom irónico. «Como a Câmara disse que isso estava fora de questão se não tivesse o nosso acordo – eles nem nos chegaram a perguntar porque já sabiam qual seria a resposta –, ele acabou por ‘mostrar as garras’. ‘Se não te juntas a nós, acabo contigo!’. É o que ele está a tentar fazer», defende.
O apoio da CML
Para si, não existem instrumentos legais para proteger o comércio local e histórico de investidores imobiliários. No entanto, felizmente, de acordo com Nuno Gonçalves, a CML tem-se mantido do seu lado. «Acha inadmissível. Até é um tiro no pé… Como é que um investidor estrangeiro quer acabar com uma das lojas que é um dos motivos das visitas dos milhões de turistas que Lisboa recebe? Atrevo-me a dizer que a seguir aos monumentos, os pastéis de Belém e as Ginjinhas são os locais mais visitados pelos turistas. Porque são coisas que não existem em mais parte nenhuma do planeta! As pessoas estão cansadas das Zaras, das Benettons e dos Starbucks desta vida. Querem ir aos sítios tradicionais. Pelos vistos o senhor não pensa assim», reforça. «Eu sinto e espero que a Câmara continue a conversar com a sociedade. Já se demonstraram disponíveis, nesta ação de despejo, a testemunhar a nosso favor na pessoa do senhor vereador da Economia e Inovação com o pelouro das Lojas com História», revela.
Nuno Gonçalves afirma que a sociedade proprietária do hotel acha que o contrato terminou, mas este não concorda. «Achamos que estamos protegidos por ser uma Loja com História pelo menos até 31 de Dezembro de 2027, mas vai ser decidido em tribunal, uma vez que os serviços de advogados, quer de uma parte quer da outra, têm leituras diferentes da questão», explica.
À Versa, a CML fez chegar um esclarecimento sobre o assunto, lembrando que nos termos do enquadramento jurídico aplicável, e considerando o reconhecimento das lojas com História enquanto «estabelecimento de interesse histórico e cultural ou social local», a sua proteção está garantida até 2027, entendimento esse que a Câmara Municipal corrobora e reforça. «A Lei n.º 42/2017, de 14 de junho, cria o regime de reconhecimento e proteção de estabelecimentos e entidades de interesse histórico e cultural ou social local», explica. «Já a Lei n.º 56/2023, de 6 de outubro, reforça a proteção, prolongando o regime transitório até 31 de dezembro de 2027 para os contratos de arrendamento não habitacional», frisa. Conforme salienta o Vereador Diogo Moura, «a Câmara Municipal de Lisboa tem acompanhado ativamente este processo, promovendo o diálogo e a mediação entre as partes envolvidas. Embora a autarquia não possa legalmente intervir em negócios entre privados, tem procurado, dentro das suas competências, criar condições para que seja alcançado um entendimento entre as partes». «Este trabalho continuará, no sentido de salvaguardar o valor cultural e simbólico deste espaço que faz parte da memória coletiva de Lisboa», garante.
Em busca de ‘justiça’
Outra questão que, na opinião de Nuno Gonçalves, é importante referir é que este comércio tradicional e antigo é muito associado a rendas baixas, o que não é o seu caso. «Nós pagamos 2.600 euros de renda por pouco mais de 10 metros quadrados. É tudo menos barato. Aliás, é mais caro que a Avenida da Liberdade por metro quadrado. Há muita gente que depois vai comentar nas caixas dos jornais e nas redes sociais que nós vivemos à conta dos senhorios. No nosso caso não é de todo verdade», sublinha.
Ou seja, segundo o gerente, se o tribunal decidir que o senhorio tem razão, provavelmente, no dia a seguir, a família terá de fechar portas. «Se a razão estiver do nosso lado, ele vai ter que aceitar que seremos seus inquilinos pelo menos até 31 de dezembro de 2027», acredita, tendo esperança que entretanto «haja uma alteração legal». «Entretanto a Assembleia da República tem de alterar esta situação, porque senão vai ser um razia total do comércio tradicional. Isto não se passa só em Lisboa, passa-se em Coimbra, Porto, Funchal, Ponta Delgada, Viseu, Faro, Évora… Vamos deixar de ter lojas ‘normais’ – comércio tradicional e diversificado – para ter lojas de souvenirs que a gente sabe que são parte de uma máfia. Não vendem para pagar as rendas milionárias – pagam de 15 mil euros a 20 mil euros. Além dos restaurantes que eu diria manhosos, só para enganar turistas. Ou então os grandes grupos multinacionais que têm muito dinheiro e também podem pagar 15 mil a 20 mil euros de renda, mesmo que não dê lucro, mas precisam ter as flagship stores nas capitais da Europa», conta.
Para si, esta situação é uma «tristeza». «Acho que isto tudo era desnecessário. O hotel podia ter muito proveito e valorizar a nossa loja no seu hotel. Podia mesmo transformar o hotel no Hotel Sem Rival, em vez de ser O Artista», acrescenta. De acordo com Nuno Gonçalves, a sociedade contratou uma empresa de comunicação há uns meses, «porque se vê que estão com respostas muito mais estudadas e a postura é totalmente diferente do início». «Uma das mentiras que anda no Facebook deles é que o prédio era a casa do ator Vasco Santana. É mentira! O prédio era do Vasco Santana, mas não era a casa dele. É uma operação de charme… Até fui eu que contei a história à antiga sociedade russa. Se eu não lhes tivesse dito, provavelmente não se chamava O Artista, tinha-se tornado o Hotel Moscovo», brinca. «Estão a mentir e a fazer pouco da memória do Vasco Santana. Estes investidores querem lucro à custa de quem for. Mentem, inventam, são gananciosos, são maus, gente mal formada e não estão nada preocupados com o bem-estar da cidade. Tenho muita pena», frisa.
A Versa tentou entrar em contacto com Axel Gassmann. No entanto, até à data desta publicação, não recebeu resposta. Em junho, o empresário alemão disse ao Expresso que propôs a Nuno Gonçalves «uma quantia em dinheiro pelo trespasse», mas, para o gerente do negócio, está fora de questão aceitar as condições da empresa alemã. A mesma publicação escreveu que para Gassmann, no barco do investimento de 2,5 milhões para criar o hotel O Artista, pode muito bem nascer uma «ginjinha cinco estrelas». Mas os clientes «cinco estrelas» não poderiam conviver com o estabelecimento nos moldes em que ele opera atualmente. O empresário explicou que «o principal problema é que todas as noites se aglomeram dezenas de pessoas, muitas vezes bloqueiam a entrada da receção e do restaurante, os clientes queixam-se do barulho, do lixo e da confusão que tudo isto causa, são condições impossíveis para o hotel de cinco estrelas que queremos ter aqui».
O fim da Tabacaria Rossio
Enquanto esperamos pelo desfecho dessa história, a baixa lisboeta perdeu outro espaço icónico a Tabacaria Rossio, conhecida pela sua estética e por ser um pedaço da identidade da capital. Foi fundada em 1940 e vendia objetos como relógios, isqueiros, canetas, rolos de película e postais ilustrados. Trazia consigo a herança da antiga Tabacaria Costa, um clássico lisboeta que funcionou no mesmo espaço até ao final dos anos de 1930. No final do mês de Agosto, os gerentes afixaram um papel deixando na vitrina: «Chegou o momento de fechar as portas da Tabacaria Rossio, um espaço que foi muito mais do que um negócio: foi um ponto de encontro, de partilha e de histórias ao longo de gerações (…) Partimos com o coração cheio de gratidão por todos os que, ao longo dos anos, fizeram parte desta caminhada», lia-se no papel.
Mas ao contrário daquilo que acontece com a Ginjinha Sem Rival, de acordo com Nuno Gonçalves, esta foi uma decisão tomada pelos proprietários do espaço. «A Tabacaria Rossio fechou por culpa da família. Decidiram fechar, não percebo como. As Lojas com História têm um grupo informal no whatsapp e eu por acaso conheço bastante bem a família, o fundador era muito amigo do meu avô. Eles simplesmente têm a sua vida… Um dos funcionários antigos morreu com cancro, o outro também se reformou e eles decidiram fechar. Apesar de ser um bom negócio, ninguém precisa daquilo para viver e não têm sequer amor à tradição», lamenta. «O que eu escrevi nesse grupo foi: ‘Porque é que estas famílias, se não a querem, não a vendem a uma sociedade para alguém continuar o negócio?’. Também era um sítio icónico. A Tabacaria Caravela, mesmo em frente à Rossio, era da mesma família. Venderam esse prédio todo há muito tempo antes desta loucura do turismo. Agora a Rossio foi no mês passado», revelou.
O gerente da Ginjinha Sem Rival adianta ainda que o prédio é da Multiópticas, a loja ao lado. «Não sei se vão aumentar a loja, se vão alugar. Nem guardaram as letras em neon. Há um casal que faz coleção dos neons antigos de Lisboa que estão a guardá-los na antiga fundição em Oeiras… Já têm uma coleção enorme e este era giríssimo… Tinha uma letra tão bonita, mas está lá só a chapa, as letras desapareceram. Não sei se foram arrumadas, se os donos quiseram ficar com ela», afirma.
António Madeira trabalhou 27 anos na Tabacaria Caravela e lembra-se perfeitamente da vida da Tabacaria Rossio. «Foram anos muito bons onde existia uma boa camaradagem. A Baixa, e todas as boas casas comerciais dessa época deixam saudades a todos que por lá passaram e trabalharam», começa por dizer. Segundo o mesmo, o ambiente era familiar entre trabalhadores e entidade patronal. «Ainda guardo saudades do tempo que lá trabalhei. Tínhamos clientes de todas as classes sociais, mas predominavam as classes média/alta. O atendimento era personalizado. Pessoas do anterior regime foram clientes desta casa. Mas, do atual regime democrático também tive a honra e o privilégio de conhecer e atender. Com a venda do edifício, a Caravela encerrou definitivamente em 30 de Dezembro de 2005. Creio que foi inaugurada em Fevereiro de 1957, ano em que a Rainha Isabel II visitou Portugal pela primeira vez», conta.
A Tabacaria Rossio ficava na Rua do Ouro, 295, esquina com a rua 1º de Dezembro. «Tal como a Caravela, a Rossio era uma Tabacaria fina e especializada em todos os artigos para fumadores. Além disso, era representante exclusivo para Portugal de todo o material da marca Dupont, isqueiros, canetas, esferográficas, carteiras e porta moedas. Com serviço de assistência técnica própria», refere António Madeira. «Claro que conheci os proprietários. Foram fundadas pelo senhor Álvaro Contreras (pai), um senhor natural da Galiza. Ainda conheci a esposa, Dona Regina Contreras. Após a morte do fundador, quem ficou à frente dos negócios foi o filho com o mesmo nome. Depois os herdeiros fizeram partilhas e a Tabacaria Rossio ficou para uma filha e a Tabacaria Caravela ficou para outra filha e para o filho. O prédio onde estava instalada a Caravela era propriedade da família», explica dizendo que ambas «eram casas comerciais com grande nome na praça onde todos os fornecedores gostavam de vender».
«Fui trabalhar para o Rossio no início do ano de 1978. Era um mar de gente retornada das antigas colónias. Junto ao Nicola e Piquenique reuniam-se em alegres cavaqueiras e negócios os retornados de Angola. Em frente, a Pastelaria Suíça, era o ponto de encontro dos retornados de Moçambique. A Baixa tinha vida, movimento, cor e muitas e boas lojas de comércio tradicional de qualidade», garante. Agora, raramente vai à Baixa. «Estou um pouco desligado destas transformações, por isso não tenho opinião assertiva sobre elas, mas sei que esta Baixa nada tem que ver com a que eu conheci. Eu que sou um defensor do comércio tradicional e destas boas casas de antigamente sinto sempre uma nostalgia quando tenho conhecimento que muitas estão a encerrar seja por que motivo for. Umas pelas rendas, outras porque os donos não têm continuadores, o certo é que o comércio tradicional de Lisboa está a perder-se», conclui.
Mais duas lutas perdidas
E Infelizmente, denuncia Nuno Gonçalves, a destruição deste comércio é semanal. «Também fechou a Beira Gare. Já estava em conflito com o senhorio há muito tempo. Isto é muito complicado… As Câmaras Municipais não têm poder para decidir que tipo de comércio pode haver, para que seja diversificado. Não é favorecer A ou B. É pensar na sociedade como um todo, como um organismo vivo… Só há coisas para turistas e depois acham estranho que os lisboetas não venham à baixa», justifica, acrescentando que há pelo menos 10 anos que se fala deste problema, «mas não se vê nada a mudar». O espaço encerrou discretamente no final de julho, sem qualquer aviso prévio.
De acordo com o blog Restos de Coleção, escrito por José Leite, o Café de La Gare terá aberto as suas portas pela primeira vez no final de 1908, no então Largo de Camões (atual Praça D.João da Câmara), junto à Estação do Rossio. Vinha substituir uma livraria que tinha encerrado no início desse mesmo ano e tornou-se, ao longo do tempo, um ponto de encontro de revolucionários e artistas. Em 1920, a revista Ilustração Portugueza, descrevia o seu ambiente como «reservado», proporcionando segurança a conversas «em segredo».
Além disso, a localização do espaço era «verdadeiramente privilegiada», escreve o mesmo blog. «No local mais concorrido da Baixa, ele acolhia os passageiros que, provenientes de diversas origens, saiam da principal estação ferroviária de Lisboa. Acresce ainda que, durante muitos anos, o ‘La Gare’ estava aberto tanto de dia como toda a noite. Toda a Lisboa boémia se recorda certamente das magníficas ceias servidas no La Gare, após a saída do teatro, do cinema ou do baile», lembra.
Foi em 1953, depois de ter passado por várias mãos, que adotou o nome Café Beira Gare. Depois disso, passou a ser frequentado por diferentes classes sociais. Entre 1941 e 1976 manteve-se sob a mesma gerência, mas acabou por ser trespassado nesse último ano e convertido numa cervejaria, onde as bifanas foram o prato principal até ao seu recente fecho.
Segundo um dos comerciantes vizinhos, depois do contrato de arrendamento ter terminado, o tribunal terá emitido uma ordem de despejo. «O edifício foi comprado por um fundo imobiliário como tem acontecido muitas vezes. A gerência ainda tentou evitar o encerramento. Aceitou uma renda mais elevada, mas nem isso resultou», lamenta à Versa. Além disso, o espaço terá mesmo tentado concorrer ao programa de Lojas Com História para salvaguardar o património e o negócio, mas sem sucesso. «Agora o que se diz é que querem transformar isto num hotel. Mais um! Como se Lisboa tivesse falta de espaço para os turistas ficarem. Não entendo como é que se permite que se apague assim a história», continua.
No mês passado, começou a circular nas redes sociais a notícia do encerramento do café Centro Ideal da Graça que acabou por fechar portas no dia 30 de setembro. O edifício onde a pastelaria está fixada foi vendido a um fundo de investimento francês e o atual proprietário não tem intenção de manter o negócio. Duas semanas antes a Versa esteve no café e falou com uma das funcionárias do estabelecimento.
Segundo Isabel, o prédio foi vendido há vários anos, mas durante muito tempo reinou o silêncio. «Há cerca de seis meses disseram-nos que tínhamos de fechar. Nunca foi uma coisa provável de acontecer na nossa cabeça», lamentou. «Mas acho que vamos fechar portas no final deste mês», adiantou. «Acho que os patrões chegaram a candidatar-se ao programa da Câmara Municipal de Lisboa, Lojas com História, mas não conseguiram porque fizeram obras. Tinham de manter a casa como era», revelou a funcionária que trabalhou no café há cerca de 15 anos, acrescentando que estes tentaram ainda fazer um acordo com os proprietários. «Não deu em nada. Acho que pediram mais de 1 milhão», adiantou ainda. «Isto é tudo muito triste e não vai ser nada fácil para mim, com a idade que tenho, arranjar um novo trabalho», disse com lágrimas nos olhos. «Esta casa deu-me tanto. Até fico arrepiada… Os patrões são cinco estrelas, ajudaram-me tanto… Para mim tornaram-se família. Estou muito triste», remata.