Para o setor do calçado, a rentrée assinala no calendário a MICAM, uma das mais importantes feiras internacionais e que levou a Milão, nesta edição, mais de 40 marcas nacionais à procura de reforçarem relações e negócios com mercados estratégicos. «A presença portuguesa foi, mais uma vez, muito significativa, não apenas em número de marcas representadas, mas sobretudo na forma como o nosso setor se apresentou: com confiança, inovação e propósito. Levámos à feira propostas diferenciadoras, tanto ao nível do design como da sustentabilidade, e a recetividade foi bastante positiva. Numa altura em que o setor internacional ainda vive sob o signo da incerteza, o calçado português voltou a afirmar-se como uma aposta segura, com valor acrescentado», diz à Versa Luís Onofre, Presidente da APICCAPS (Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos).
Nesses dias, a cidade italiana representa novas oportunidades no futuro dos negócio, mas é também uma montra das grandes tendências da indústria. «Estamos a assistir a um regresso ao essencial, mas com sofisticação. Cores neutras, formas elegantes, mas confortáveis, e uma presença cada vez maior de materiais inovadores e sustentáveis. O consumidor procura cada vez mais um produto que seja bonito, mas também responsável», explica Luís Onofre.
Tendências e comportamentos que, segundo o presidente da APICCAPS, colocam o calçado Made in Portugal na «linha da frente», resultado do esforço na incorporação de inovação e sustentabilidade, estando em curso o maior investimento alguma vez feito pelo setor. «Isso coloca-nos numa posição de liderança, particularmente nos segmentos médio-alto e alto do mercado. Além disso, temos uma vantagem competitiva rara: conseguimos conjugar tradição e modernidade, qualidade artesanal e capacidade industrial. Isso é cada vez mais valorizado», acrescenta.
Há ainda um caminho a percorrer, mas os passos são firmes e «começamos a ser conhecidos pelo rigor, detalhe e sensibilidade estética. O que nos distingue é, sobretudo, a capacidade de personalização, a atenção à qualidade dos materiais e um profundo respeito pelo processo produtivo. No segmento de luxo em particular, isso faz toda a diferença», explica Luís Onofre.
Estratégia que faz com que hoje os sapatos portugueses estejam, literalmente, na moda. Em janeiro, desfilaram, na Paris Fashion Week, com a designer Bianca Saunders, tal como em junho, com Willy Chavarria, na New York Fashion Week. «Estas coleções de edição limitada, desenvolvidas em conjunto com designers de renome, incorporam valores fundamentais: design distinto, qualidade artesanal, sustentabilidade e inovação. A ideia é simples: permitir que a estética única de cada designer ganhe vida através de parceiros portugueses, cuja experiência em produção esteja plenamente alinhada com os princípios da APICCAPS», diz à Versa Paulo Gonçalves, diretor de comunicação da associação.
E numa altura em que as coleções primavera/verão 2026 são apresentadas nas principais capitais da moda, voltámos a ver sapatos com etiqueta nacional com quatro designers na Semana de Moda de Nova Iorque.
Fernanda Oliveira II juntou-se à Theophilio de Edvin Thompson para criar sandálias, mocassins e botas que fundem a energia de Brooklyn com a mestria artesanal portuguesa. A Mariano Shoes reinventou a tradição com CAMPILLO, combinando 80 anos de savoir-faire português com a herança mexicana minimalista e moderna do designer. JJ Heitor e Kallmeyer criaram uma coleção sofisticada de mocassins, sandálias e saltos, marcada pela elegância e funcionalidade. E Helena Mar, em parceria com Libertine, celebrou a individualidade com sandálias e saltos coloridos e irreverentes, mostrando que o design português consegue dialogar com a estética contemporânea.
«Foi incrível trabalhar com a Mariano Shoes e com a APICCAPS, poder contar com essa longa história de tradição no calçado, o know-how artesanal e a especialização que Portugal tem nesta indústria. O conceito criativo que trabalhámos em conjunto tinha um ADN muito mexicano como é a CAMPILLO, mas eu queria que transmitisse um lifestyle mais internacional e o resultado final desta colaboração é incrível. Das cores aos modelos dos sapatos é como imaginar o verão no México, que apetece usar o verão inteiro. Há elementos na roupa que vemos também nos sapatos, têm a mesma linguagem estética», revela o designer Patricio Campillo.
«Nos últimos anos, temos vindo a associar-nos a vários designers internacionais, com quem reconhecemos uma visão fresca e contemporânea do mercado. Estas colaborações são, do nosso ponto de vista, parcerias para o futuro. O calçado português tem-se aproximado de alguns dos mais proeminentes criadores da moda internacional, numa estratégia de longo prazo», explica Paulo Gonçalves.
Depois de Nova Iorque, a indústria do calçado português estreou-se na Semana de Moda de Londres em parceria com o London College of Fashion. O projeto nacional Footwear Award permitiu à vencedora Annie Purdy criar a sua primeira coleção em Portugal, combinando criatividade vanguardista e arte local, com design, inovação e sustentabilidade.
«Este ano, as propostas portuguesas vão destacar-se pela originalidade, pela qualidade dos materiais e pelo compromisso com a sustentabilidade, no âmbito do projeto Bioshoes4all. Cada coleção representa um diálogo entre tradição e inovação, e acredito que o que mais surpreenderá será a versatilidade do calçado português: capaz de responder aos desafios estéticos de cada designer, mantendo sempre um padrão técnico irrepreensível. Estamos a construir, passo a passo, um novo capítulo na história do calçado português — mais global, mais criativo e mais conectado com os valores do futuro» acrescenta o mesmo responsável de comunicação.
Seguiu-se Milão e a ModaLisboa, posicionando e aproximando o calçado português de «públicos mais jovens, exigentes e atentos às tendências globais. São uma ponte direta para novos mercados e novos consumidores». Visão estratégica para uma indústria que exporta mais de 90% da sua produção para 172 países, nos cinco continentes. «Estas colaborações têm um impacto especial. Elas não apenas reforçam a perceção de valor do “Made in Portugal”, como também nos posicionam ao lado de marcas e criadores que definem tendências. São oportunidades únicas de mostrar a capacidade, a versatilidade e a excelência da indústria portuguesa», justifica Paulo Gonçalves.
Entre os desafios e as oportunidades, Portugal vai continuar a caminhar seguro do seu valor: «o consumidor internacional quer qualidade, história, autenticidade e Portugal pode ser uma excelente opção», conclui Luís Onofre.