Discriminação 9.0

E quem faz isto são os mesmos que enchem a boca todos os dias com “os nossos jovens têm de ter melhores salários para não emigrar”, “mulheres e homens devem ter salário igual para trabalho igual” e toda uma série de frases hipócritas de quem tem o poder de mudar

Ontem mesmo o Jornal Sol publicou um artigo de opinião com o mesmo título “Discriminação”. Nunca é demais agradecer ao Sol a publicação e o interesse nos meus artigos. Bem hajam!

Sou daqueles que nunca desiste daquilo em que acredita e que acha que vale sempre a pena protestar no espaço público contra aquilo que consideramos injusto e discriminatório. E assim fiz. Não será certamente porque o fiz, mas também porque eu o fiz e outros o fizeram e a comunicação social noticiou que, finalmente, o Ministro da Educação deu o ok para se avançar com o apoio, já tardio, às crianças e jovens com deficiências da escola pública em Portugal Continental.

No entanto, e é preciso ter falta de vergonha, para ao fim de 9 anos (7 do PS e 2 do PSD/CDS) se continuar a manter a Discriminação versão 9.0, isto é, em 2025 será pago o mesmo a uma entidade que gasta 95% do valor que recebe, do Ministério da Educação, no pagamento de salários aos seus profissionais – que vão às escolas prestar este apoio às crianças e jovens. Como referi em artigo anterior, para os funcionários públicos aumentos de salários generosos, para os funcionários das IPSS – 9 anos sem aumento de salário, sendo que o “Patrão” é o mesmo – o Governo de Portugal. Perguntei se isto era justo? Se era Democracia? Acrescento: é Constitucional? Senhores(as) Juízes do TC? Senhor Presidente da República? Senhores(as) Deputados(as)? Senhores(as) membros das direcções dos partidos políticos? É?

A título de exemplo, num agrupamento de escolas da maior freguesia da Europa que tem 3 escolas uma delas de grande dimensão), o apoio financeiro que nos é dado há 9 anos é de 9.100€ anuais. Isto significa 2h30m diários de apoio aos alunos. Que acha o caro(a) leitor disto? E se lhe disser que neste caso não funciona, como no caso dos professores, em que devíamos descontar o tempo de intervenção directa? E em vez de 2h30m, seria de 2h diárias ou menos? Reforço, 2h30m diários para 3 escolas.

Agora vamos à parte que explica o salário de um técnico superior. E nem sequer vou comparar carreiras especiais, se não então a discriminação seria maior, vou cingir-me à carreira geral.

Carreira geral de Técnico Superior = 1.442,57€ salário base inicial de entrada na administração pública. Aumento salarial para 2026 = 1.442,57€ + 56,58€ (aumento mínimo) dá um total de 1.499,15€.

Salário de um Técnico Superior de Educação Especial e Reabilitação numa IPSS = 932,00€ + 0.00€ (versão discriminação 9.0) = 932,00€.

Importa referir que, destes 9.100€ anuais está incluído: salário base 14 meses + Subsídio de refeição (6€/dia) + TSU entidade Patronal + seguro de acidentes de trabalho + medicina no trabalho, deslocações, material pedagógico, material de escritório, entre outros custos.

Como dizia o actual Sectário das Nações Unidas, é só fazer as contas… à dimensão da discriminação.

Imagine o leitor que isto acontecia na empresa onde trabalha? Um colega seu que desempenha exactamente as mesmas funções tinha esta disparidade de salário em relação a si. O que sentiria? Pois…

E quem faz isto são os mesmos que enchem a boca todos os dias com “os nossos jovens têm de ter melhores salários para não emigrar”, “mulheres e homens devem ter salário igual para trabalho igual” e toda uma série de frases hipócritas de quem tem o poder de mudar, mas insiste na discriminação.