Empatia é uma daquelas palavras que de tão repetida já toda a gente se cansou de ouvir. Infelizmente cansámo-nos muito antes de a integrarmos no nosso modo de estarmos uns com os outros. Gostamos de pensar em nós como “muito empáticos”, mas parece-me talvez das palavras cujo significado e modo de operacionalizar mais permanecem obscuros. E é uma daquelas expressões que perdem o valor quando é o próprio a dizer, tal como perderia o valor alguém dizer de si próprio «Sou um líder carismático!» ou «Eu sou uma pessoa muito empática!». A empatia é reconhecida pelos outros, sobretudo os que são diferentes de nós e a quem, apesar das diferenças, nos conseguimos ligar. Quando trabalho a empatia nos cursos que dou costumo pedir as definições dos participantes e aparecem expressões como «calçar os sapatos do outro»; «compreender a outra pessoa…»; «não fazer juízos de valor…». Avançamos então para a prática, peço para imaginarem uma conversa com alguém que eles conhecem e, perante o que a pessoa lhes diz, o objetivo é responderem com empatia. Em seguida projeto uma frase, costumo usar bastante esta:
– «Desde que o meu cão morreu que não consigo sair de casa…»
E começam a aparecer as respostas que de tão familiares até parecem empáticas:
– «Eu percebo, gostavas muito dele, mas a vida continua!»
– «Precisas é de ir viajar!»
Há quem abdique de lamechices e opte por dar uma ajuda prática sugerindo:
– «Porque é que não arranjas outro?»
E por vezes aparece:
– «É só um cão, não é uma pessoa!»
Aproveitar a oportunidade de alguém estar a sofrer para a educar acerca de dimensões e proporções de dor é a melhor definição da antítese da empatia. E aqui está a nossa maior dificuldade: somos próximos uns dos outros, mas somos intrusivos, emaranhados e intrincados. Temos muitas opiniões e gostamos de as fazer saber. Em vez da tal experiência de calçar os sapatos e ver da perspetiva do outro, calçamos-lhes uns sapatos à força e arrastamo-los para verem da nossa perspetiva e fazer o que “é óbvio” que está certo.
Viktor Frankl, psiquiatra, psicoterapeuta e sobrevivente do Holocausto, escreveu no seu livro O homem em busca de um sentido:
«O sofrimento de um homem é semelhante ao comportamento do gás. Se uma certa quantidade de gás for bombeada para uma câmara vazia, ela preencherá a câmara completa e uniformemente, não importa o tamanho da câmara. Assim, o sofrimento preenche completamente a alma humana e a mente consciente, não importa se o sofrimento é grande ou pequeno. Por isso o “tamanho” do sofrimento humano é absolutamente relativo». E por isso, sobretudo nos nossos tempos e nas grandes cidades existe dor e luto independentemente de ser por uma pessoa ou um chihuahua.
Mas o que fazer às nossas opiniões e juízos de valor? É que temos tantos sobre tanta coisa.
A minha sugestão seria: não diga assim e não diga agora. É que a confiança em alguém vem de, nos momentos de maior sofrimento, podermos estar só a contar o que se passa connosco, sem críticas nem receitas para a vida.