O novo aeroporto de Lisboa já era uma anedota, agora é também um peditório. A anedota são os anúncios sucessivos de agora-é-que-é só que não. O peditório apareceu de repente numa sugestão dos franceses da Vinci de que os terrenos do atual aeroporto Humberto Delgado sirvam para financiar a nova infraestrutura em Alcochete. Era só o que faltava, pensou o ministro da tutela. Mandou-os passear. Só que…
Só que esta prosaica ideia dos donos da concessão da ANA, feita de mansinho e quase como quem não quer a coisa, aviva uma verdade obliterada neste processo: o valor colossal dos terrenos do atual aeroporto Humberto Delgado. Há mais de uma dúzia de anos, em 2012, eles foram vendidos por quase 300 milhões de euros pela Câmara Municipal de Lisboa ao Estado, numa operação quase administrativa que pôs fim a um diferendo e que serviu para a maior Câmara do país pagar parte de uma dívida então gigantesca. Mas agora, aos enlouquecidos preços atuais, valerão várias vezes mais. Para Lisboa, seria uma nova cidade dentro da cidade, na coroa norte. Mas para muitos operadores, vendedores, comissionistas, construtores, fornecedores, financiadores, intermediários, seria um negócio da China.
Basta pensar na Parque Expo, que sobreveio à Expo 98, que por sua vez reabilitou uma área então industrial decadente. Assim se criou um novo território residencial e de escritórios em Lisboa. A área do Parques das Nações é de 340 hectares. O do aeroporto Humberto Delgado é ainda maior: quase 480 hectares. É maior que inúmeros concelhos portugueses.
Dá para fazer tudo bem ou tudo mal, tudo em grande ou tudo grande de mais, maciça e desorganizadamente, como foi realçado há poucas semanas num debate organizado pela Câmara Municipal de Lisboa e pela Fundação Sousa Henriques, onde foi recomendado que o Estado faça um controlo eficaz da bolsa de terrenos que ali sugirá. Se surgir.
Sim, se surgir, porque para isso tem de acabar a anedota. Eu já não vou em cantigas, descreio da possibilidade de o novo aeroporto nascer mesmo em 2037. Mas reconheço que o próprio negócio imobiliário potencial na desocupação da antiga Portela constitui um forte incentivo.
A palavra está mais do lado da ANA do que propriamente no governo. E a ANA está a colocar tantas condições – aumento de taxas aeroportuárias, prolongamento do prazo de concessão – que se posiciona como um obstáculo passivo ao projeto. Talvez a sugestão de que os terrenos do atual aeroporto gerem receitas desviadas para pagar Alcochete seja parte dessa inconsequência proteladora. Mas fica a resposta do Governo, pela voz de Pinto Luz: não. E citando o presidente da ANA, José Luís Arnaut, esta resposta vem «clarificar esta m…».
A BANQUEIRA
Isabel Guerreiro será provavelmente a nova presidente executiva do banco Santander Totta. Excelente notícia: pela sua ótima reputação profissional; mas também por ser a primeira mulher a liderar um grande banco comercial em Portugal. Até aqui, só tínhamos a excelente Maria Cândida Rocha e Silva, presidente do Banco Carregosa, instituição muito respeitada mas apesar de tudo de menor dimensão. A única outra mulher chamada de banqueira fora a Dona Branca, a banqueira do povo. Mas isso, claro, foi outra história.
HABITAÇÃO
As casas não param de subir e já custam mais de 200 mil euros em 50 concelhos do país. Mas continuam a dizer-nos que está tudo bem…