
Considerava que é sempre necessário vestirmos algum pormenor de preto para «emoldurar as coisas». Sempre foi irreverente e o seu pai notava que era diferente das outras meninas da sua idade. Por isso, passou a sua infância a reclamar da sua forma de ser e estar. Queria que a filha seguisse os padrões da época, mas parece que a sua escolha foi outra. Aliás, nunca deixou que nenhum homem mandasse em si e nunca casou por não querer abdicar da sua independência.
Se no passado acreditava que as pessoas se riam de si e não consigo, com o passar do tempo o público mostrou-lhe que o seu sentido de humor era contagiante. Ao longo da sua carreira participou em mais de 100 filmes de vários géneros. E, segundo os críticos, encaixava-se tão facilmente nos seus papéis que parece que viveu dentro dessas personagens durante a maior parte da sua vida. Além disso, sempre gostou de improvisar e descomplicar. «Gosto muito de desarrumar as coisas, até me surpreendo por ainda estar a trabalhar. Sinto-me sempre muito melhor quando posso brincar com o argumento», disse numa entrevista ao Interview Magazine quando tinha 75 anos.
Com o passar do tempo foi-se tornando um ícone apesar de também não se ver dessa forma. «Não entendo exatamente o que isso significa (…) Podes-me explicar o porquê? O que é isso? (…) É difícil para mim lidar com isso. Eu realmente não me vejo dessa forma. Vivo comigo mesma, acordo de manhã e sou eu de novo. Sou apenas mais uma pessoa que diz: ‘Ah! Está na hora de alimentar o meu cão’», revelou na mesma conversa.
Diane Keaton, que ao longo da sua longa carreira brilhou em filmes como The Godfather e Annie Hall – pelo qual recebeu o Óscar de Melhor Atriz em 1977 –, morreu no dia 11 de outubro, aos 79 anos, vítima de uma pneumonia. A notícia foi dada pela família.
Uma fonte próxima da atriz, cuja identidade não foi revelada, disse à revista People que esta «piorou de repente», o que foi «devastador para todos os que a amavam»: «Nos seus últimos meses, esteve rodeada apenas pela família mais próxima, que optou por manter tudo em total privacidade. Nem mesmo amigos de longa data estavam totalmente a par do que se passava», adiantou. Também a compositora e sua amiga, Carole Bayer Sager, se pronunciou sobre o seu estado de saúde: «Vi-a há duas ou três semanas e ela estava muito magra. Tinha perdido imenso peso (…) Ela teve de ir para Palm Springs porque a casa tinha sofrido danos no interior e foi preciso limpar tudo. Esteve lá durante algum tempo e, quando voltou, fiquei bastante surpreendida com o quanto tinha emagrecido», acrescentou.
A imprensa internacional revela ainda que, a determinada altura, Keaton parou de levar o seu cão à rua, algo que fazia todos os dias e que lhe dava imenso prazer. Atualmente, a estrela tinha um golden retriever, Reggie, e partilhava com os seus seguidores doInstagramalgumas fotos com o animal. Além disso, a sua casa em Los Angeles foi colocada à venda em março por 29 milhões de dólares (cerca de 25 milhões de euros).
Recorde-se que Reggie era uma das prioridades da sua vida. E, por isso, ao que parece, a atriz fez questão de reservar parte da sua herança para o cuidado do cão e para instituições de proteção animal. Segundo a revista OK!, no testamento, cinco milhões de dólares (cerca de 4,6 milhões de euros) foram destinados ao Golden Retriever que esta adotou em 2020, garantindo que o animal tenha «conforto, atenção e acompanhamento de treinadores» e «cuidadores de confiança ao longo de toda a sua vida». «Ela quis garantir que Reggie tivesse uma vida digna e feliz, assim como ela viveu – com afeto e humor», revelou um familiar à mesma publicação. É importante salientar que a artista manteve durante mais de duas décadas uma parceria com o Helen Woodward Animal Center, na Califórnia, ajudando a promover a adoção de animais e a luta contra o abandono.
Fama e autenticidade
Nascida em Los Angeles, em 1946, Diane tornou-se famosa na década de 1970 devido aos seus papéis na saga de The Godfather, no papel de Kay Adams Corleone, mas também à participação em filmes do realizador Woody Allen – com quem chegou a ter uma relação durante três anos –, incluindo Play It Again, Sam, Sleeper, Love and Death e Manhattan. Antes disso, fez teatro. A jovem integrou o elenco de peças da Broadway como Hair.
Em várias entrevistas Diane admitiu que a mãe sempre a apoiou no seu sonho, talvez por sentir frustração por não ter seguido esse caminho. «No fundo do coração, ela provavelmente queria ser uma artista de um tipo qualquer», disse à revista People, em 2004. «Ela cantava. Tocava piano. Era linda. Defendia-me», adiantou. O pai demorou algum tempo a acreditar que a filha faria sucesso.
Além de atriz, Diane Keaton foi realizadora, escritora e argumentista. Na década de 80 realizou o videoclipe da música Heaven is a place on earth de Belinda Carlisle. Seguiram-se alguns episódios de séries e, em 1995, lançou Unstrung Heroes, o seu primeiro filme narrativo. Durante a sua vida publicou três autobiografias: Then Again, em 2011, Let’s just say it wasn’t pretty, em 2015, e Brother and Cister, 2020. Em 1980 publicou também Reservations, um livro de fotografia e, em 2022, Saved: My Picture World, uma autobiografia visual.
A estrela era também conhecida por – numa altura em que se fala tanto de imagem e envelhecimento –, aceitar a passagem do tempo. Nunca fez nenhuma cirurgia plástica. «Estou presa a esta ideia de que preciso de ser autêntica. O meu rosto precisa de ser como eu me sinto», já dizia em 2004 à revista More. Summer Camp (2024) foi o último filme em que participou.