1. As forças moderadas devem combater a ideia de que só o Chega é capaz de estabelecer normas exigentes no país e impedir o alastramento da desorganização e corrupção. O suposto discurso de combate à bandalheira tem fundamento, mas não pode ser exclusivo da direita radical e de ‘3 Salazares’. Hoje, os moderados receiam assumir um discurso de exigência e responsabilização. Deixam-se contaminar pelo ‘tudo para todos’ da esquerda radical, minorias ativistas, grupos sociais ou étnicos, que, amiúde, desrespeitam leis, regras de civismo ou de higiene, deixando de merecer apoios. O pensamento politicamente correto tomou conta de muitos moderados. Falta-lhes assumir uma cultura de exigência em todos os setores a indivíduos que são ajudados, nomeadamente na educação, habitação e segurança social. É preciso repensar a forma como o Estado se organiza, gere e distribui recursos e apoios. Esse propósito não pode ser deixado à direita radical. Deve ser assumido com vocalidade pelos partidos e forças moderadas, a quem compete fazer da exigência um pilar de ação política. Nas autárquicas, viram-se presidentes de câmara de esquerda e direita moderadas reconhecidos e reeleitos. Há países de raiz social-democrata onde a exigência e a responsabilização são ensinadas desde a mais tenra idade e impostas aos imigrantes. Não definir um quadro exigente para quem tem emprego sem produzir e trabalhar (no Estado, nomeadamente) e não responsabilizar quem é subsidiado é alimentar, simultaneamente, radicalismos de direita e de esquerda. Uns para exigirem uma ordem retrógrada, outros para fomentarem anarquia e desordem.
2. Não sendo Portugal um país exportador de petróleo ou um abundante possuidor de terras raras, o Orçamento do Estado, já aprovado na generalidade, é um ato de fé. O Governo assegura que, em 2026, não aumenta impostos, sobe o rendimento dos pensionistas mais pobres (numa recorrente injustiça, as pensões de quem mais descontou e contribuiu voltarão a perder mais 1% este ano), apoia os jovens no IRS e na Habitação e pretende aumentar o salário médio, entre muitas coisas boas. Não se prevendo um ano internacional de vacas gordas, estas benesses têm potencial para aumentar ainda mais a despesa. Significa que serão os impostos indiretos resultantes de um aumento do consumo e o PRR (mesmo assim muito desperdiçado) que sustentarão tudo. Até porque o Governo quer, simultaneamente, manter as contas certas, diminuindo a dívida e evitando um défice público. Segundo alguns especialistas, em 2025, o aumento da despesa anda pelos 4% e a receita fiscal cresce 8%. Vê-se pela coleta de IRS, hoje sensivelmente igual à despesa com o SNS, que não cessa de subir. Para conseguir esta quadratura do círculo, Miranda Sarmento reconhece ter uma margem estreitíssima e, por isso, este OE está simplificado. Deixou de incluir um conjunto de despesas, investimentos, impostos e taxas. O ministro conta com a manutenção do crescimento económico e de um baixo nível de desemprego, a fim continuar o crescimento das receitas fiscais e da Segurança Social. Além de impostos diretos e indiretos, conta ainda com centenas de ‘taxas e taxinhas’. À cautela, este modelo de OE vai-lhe facilitar o recurso ao método Centeno/Costa. Ou seja, cativar despesa e investimento abruptamente, se for preciso. Foi esse tipo de austeridade encapotada que gerou as ruturas que estamos a sofrer em investimentos essenciais que fazem uma falta tremenda na Saúde, Habitação e Infraestruturas. A herança foi devastadora! O Governo Montenegro/Sarmento está à vontade no debate na especialidade e na votação final. Mesmo que as coisas corram mal (o que é inverosímil), é certo que um chumbo não abate o Governo, dadas as limitações políticas de dissolução do parlamento do próximo presidente no início de mandato. Para o ano é bem provável que tudo seja diferente, desde logo a bonomia abstencionista do PS.
3. Mariana Mortágua vai deixar a liderança do Bloco. O seu mandato radicalizou ainda mais o partido. Entrou em todas as lutas defendidas por minorias sectárias e antiocidentais. Chegou ao ponto de defender terroristas, ditadores de esquerda e costumes de extremistas de religiosos islâmicos. Sem esquecer que, ao jeito do patronato reacionário, despediu mães funcionárias que amamentavam. O resultado está à vista. O Bloco é uma inexistência, alfobre de extremistas de causas repugnantes. Muitos dos deles estão a caminho do Livre, que já se recente. É assim, pois, provável que nem um tal José Manuel consiga repor a mínima pureza na organização, evitando a desagregação total.
4. Ao fim de anos de uma investigação ‘tipo lesma’, o Ministério Público passou Tomás Correia de arguido a acusado por abuso de confiança e branqueamento de capitais no Montepio e no Finibanco de Angola. Alegadamente, a coisa ronda 30 milhões. Correia foi muito tempo dono e senhor do grupo Montepio, cuja fragilidade foi muito denunciada na comunicação social e em artigos de opinião. A mutualista do Montepio tem mais de 600 mil sócios. Nunca foi acompanhada ao pormenor pelo regulador e tutelas. Segundo alguns, pode ser um BES/GES mais pequeno, mas perigoso para o sistema. A mútua é a dona do Banco Montepio, embora hoje exista uma maior separação entre ambas. Entre a acusação e uma decisão transitada em julgado, irão passar dez anos ou mais. Não deve, por isso, causar grandes dores de cabeça a quem tiver de prestar contas.