Pedro Duarte (a partir do Porto), Hugo Soares (no Parlamento) e Leitão Amaro (na coordenação política), Pinto Luz e Paulo Rangel (num governo que brilha a partir de Fernando Alexandre e Gonçalo Saraiva Matias), e Sebastião Bugalho (no Parlamento Europeu), são o futuro neste PSD de Luís Montenegro. Pedro Passos Coelho não é.
Não há imaginação bastante para prever o ano que vem, seja pela disputa presidencial, seja pelas dinâmicas internas do partido (que vai rodar várias distritais), seja pela dificílima posição em que se encontra Amadeu Guerra para sair de uma averiguação preventiva ao primeiro-ministro que parece nem averiguar nem prevenir: é um peso-vivo que todos os dias adormece na cama do PGR e, para seu infortúnio, não desaparece em nenhum dos seus acordares.
Há, no entanto, fotogramas prateados neste filme político que já embala cinco eleições em menos de dois anos e embalsa putativos líderes na vertigem.
A sucessão desses fotogramas mostra a afirmação política de Luís Montenegro, no governo e no partido. Passou de ninguém-dá-nada-por-ele a novo-Cavaco, com a diferença assinalável de que lança e equilibra, confia e protege os seus, numa estrutura de poder em que todos respeitam o líder e ninguém tem o monopólio do protagonismo.
De uma penada – a ‘contratação’ de um vereador independente eleito pelo PS –, Pedro Duarte conseguiu esta semana a maioria na câmara do Porto, um grande vereador da Cultura e a sua primeira vitória política – e tudo isto antes de tomar posse. Este movimento mostra uma habilidade política que não se lhe viu no governo, e resulta das qualidades de Duarte: jogou todo o seu futuro político numa eleição que podia ter perdido, mas que fez dele o maior vencedor das autárquicas depois de Montenegro, que o escolheu e apoiou. Tem o que outros não têm, foi eleito, e é hoje o que não era há dois meses nem há dois anos, um dos maiores ativos políticos do PSD: tem tropas, antiguidade e currículo – e vai ter voz, palco e possibilidade de execução.
Hugo Soares e Leitão Amaro são os bulldozers de Montenegro, o primeiro sem as maçadas nem exposições de pertencer a um governo mas com a eficácia que essa liberdade lhe permite; o segundo com mandato para irromper por todos os Ministérios adentro, o que faz com o proveito de ser um falso Ken político, homem-ideal que estudou no estrangeiro, deu aulas, tem dinheiro e experiência no privado mas adora política.
Se Hugo Soares é o falso gémeo de Montenegro, Fernando Alexandre e Gonçalo Saraiva Matias são os falsos independentes: por virem da academia, poucos se lembram que são militantíssimos da Silva: são eles que bombeiam o sangue reformista do governo, e se o primeiro já tem muito protagonismo (e popularidade), do segundo veremos cada vez mais palavra e ação (e… popularidade?). Juntamente com Paulo Rangel (que não é falso em nada nem de ninguém e tem aura própria) e Miguel Pinto Luz (que tem mais obra em Cascais do que reivindica e mais ambição futura do que reconhece), formam o núcleo dos homens com força interna tanto no PSD como no governo, e que são ministros das suas pastas como podiam ser de outras.
Finalmente, Sebastião Bugalho, a quem muitos procuram defeitos por não tolerarem as qualidades, é amiúde acusado de estar só a trabalhar para o seu futuro quando é provavelmente o político do PSD que mais trabalha para outros políticos do PSD: acaba de percorrer meio país nas autárquicas a representar Montenegro, todos os militantes querem ouvi-lo e todos os políticos vê-lo a seu lado, e está no núcleo de Marques Mendes, por quem primeiro respondeu quando se soube que Ventura seria candidato presidencial.
Este é não só o poder como é a inteligência do PSD de Luís Montenegro, que existe porque ele quer, porque ele lhes dá proteção e os reequilibra no governo e no partido.
O ausente desta lista de montenegristas é Carlos Moedas, que tem tanta ambição como outros mas não é nem de Montenegro nem de Marcelo nem de ninguém, não tendo ainda força nem trabalho feito para ser de si próprio.
Não vem no entanto de Moedas o grande contraste: vem de Pedro Passos Coelho. Estranho que ninguém diga o óbvio, que Passos Coelho é neste momento o grande opositor interno de Montenegro no PSD. Não apenas por praticamente entronizar André Ventura, nem só por criticar as suas políticas (orçamental, económica e não só), mas pela força que ainda tem como cavilha de segurança à direita contra o Chega. À medida que Montenegro cresce, no entanto, Passos perde espaço para estar – e talvez tempo para avançar. O futuro nunca fica no passado.