Portugal acordou com as chamadas Luzes do Norte: Tempestade Solar G4 Atinge a Terra
Esta quarta-feira ficará marcada como um dia especial para alguns portugueses que testemunharam um espetáculo raro nos céus nacionais. Durante a madrugada, entre as 3h e as 4h da manhã, foi possível ver a aurora boreal, fenómeno também chamado de Luzes do Norte, no céu em Portugal, em especial no Norte do país, desde Viana do Castelo a Figueira da Foz, passando por Viseu, Serra da Gardunha e Seia.
O fenómeno foi causado por uma forte tempestade solar, classificada como G4, que gerou perturbações significativas no campo magnético da Terra.
Mas foi apenas o início. O Serviço Geológico Britânico (BGS) atualizou hoje a sua previsão geomagnética para “o nível de intensidade mais alto”, alertando que uma segunda tempestade, ainda mais poderosa e alimentada pela primeira, está a caminho. Esta segunda vaga pode resultar na maior tempestade solar a atingir o planeta em mais de duas décadas.
O que é uma tempestade solar canibal?
Uma tempestade solar “canibal” acontece quando uma ejeção de partículas do Sol mais rápida alcança e se funde com uma anterior, formando uma onda enorme de energia e partículas carregadas que chega à Terra com força ampliada.
Entre 9 e 11 de novembro, a mancha solar AR4274, uma região muito ativa voltada para a Terra, lançou três destas ondas solares.
Duas das ondas solares já atingiram a Terra, causando tempestades geomagnéticas mais fortes do que o previsto. Para se ter uma ideia, sinais de rádio podem desaparecer por horas, sistemas de GPS podem apresentar falhas e até redes de energia podem sentir pequenas instabilidades temporárias.
A terceira onda solar deve atingir a Terra daqui a lgumas horas, com potencial para ser ainda mais intensa. Durante o pico do impacto, será possível ver novamente auroras boreais e austrais em locais mais ao sul do que o habitual, incluindo cidades como Chicago, Nova Iorque, Londres, regiões do norte da Alemanha e talvez Portugal.
Mesmo após a chegada desta última onda, os efeitos podem continuar por alguns dias, com variações nos sinais de rádio, possíveis interferências em satélites e fenómenos luminosos no céu.
Como são formadas as Luzes do Norte?
As auroras boreais, conhecidas como “luzes do norte”, acontecem quando partículas carregadas vindas do Sol colidem com gases na atmosfera da Terra, a cerca de 100 quilómetros de altitude. Essas colisões libertam energia em forma de luz, criando cortinas coloridas que dançam no céu.
As cores dependem do tipo de gás com que as partículas interagem:
- Verde e vermelho vêm do oxigénio;
- Roxo, azul e rosa resultam do nitrogénio.
Em locais próximos do Círculo Polar Ártico, como a Noruega, Islândia ou Canadá, testemunhar este fenómeno é frequente. Mas em Portugal, são um acontecimento excecional, registado apenas algumas vezes nas últimas décadas.
No entanto, especialistas explicam que este fenómeno poderá repetir-se com mais frequência, já que o Sol atravessa a fase mais ativa do seu ciclo de 11 anos.
Durante este período, ocorrem grandes explosões solares que podem enviar ondas de energia em direção à Terra, originando as auroras.
Em Portugal, há registos históricos de auroras em 1872, 1938 e 1957. Depois de um longo intervalo, voltaram a ser observadas:
- 2024: pelo menos três ocorrências registadas;
- 1 de janeiro de 2025: visíveis no Norte e Centro do país;
- 12 de novembro de 2025: o fenómeno atual, com visibilidade generalizada.
Com a nova e mais intensa vaga da tempestade solar, o fenómeno pode muito bem repetir-se nas próximas horas.
Para quem quiser tentar observar, os melhores locais são zonas escuras e elevadas, longe das luzes das cidades, como a Serra da Estrela, o Gerês, Trás-os Montes ou o planalto de Montesinho.
As condições ideais incluem:
- Céu limpo e sem nuvens;
- Pouca poluição luminosa;
- Olhar para norte, entre as 22h00 e as 03h00;
- Usar uma câmara fotográfica com exposição longa, já que muitas vezes a câmara capta cores invisíveis a olho nu.
Quais os impactos da tempestade canibal nas infraestuturas?
As tempestades geomagnéticas de nível G4-G5 representam riscos significativos para infraestruturas críticas modernas. As explosões de energia podem temporariamente perturbar os sistemas de comunicação, afetando potencialmente a navegação GPS, comunicações por rádio e satélites, incluindo rádio de controlo de tráfego aéreo e satélites no espaço. A atividade intensa também pode perturbar temporariamente as redes elétricas.
Principais riscos identificados:
- Sistemas de Navegação GPS: Degradação severa ou perda de precisão dos sistemas de geolocalização. Aplicações de navegação, entregas e transportes podem ser afetados durante vários dias.
- Comunicações por Satélite e Rádio: Interferências ou perda total de sinais de rádio de alta frequência. Comunicações aéreas, marítimas e de emergência ficam comprometidas.
- Redes Elétricas: Possibilidade de flutuações de voltagem e, em casos extremos, colapsos parciais em sistemas de distribuição. Em 1859, uma tempestade solar severa desencadeou auroras até ao Havai e incendiou linhas de telégrafo num evento raro. Em 1989, uma tempestade semelhante provocou um apagão que deixou seis milhões de pessoas sem energia no Quebeque, Canadá.
- Satélites e Naves Espaciais: Aumento do arrasto atmosférico em satélites de órbita baixa, problemas na orientação e operação de satélites e possíveis danos em componentes eletrónicos.
Sem Riscos Diretos para a Saúde Humana
Não existe perigo direto para os humanos, porque a atmosfera da Terra nos protege da radiação. A atmosfera terrestre e o campo magnético do planeta funcionam como um escudo eficaz contra a radiação solar.
Os principais riscos são exclusivamente tecnológicos, afetando sistemas que a sociedade moderna considera essenciais: comunicações, navegação, energia elétrica e operações espaciais. A população não corre qualquer perigo físico direto.
Tempestades Históricas: Precedentes que Moldam as Preocupações Atuais
Em 1859, uma tempestade solar severa desencadeou auroras até ao Havai e incendiou linhas de telégrafo num evento raro. Este evento, conhecido como Evento Carrington, permanece a maior tempestade geomagnética já registada.
Se um evento da magnitude do Carrington ocorresse hoje, o impacto seria devastador para as infraestruturas tecnológicas modernas, muito mais dependentes de eletrónica, satélites e comunicações digitais do que no século XIX.
Cientistas estimam que a probabilidade de um evento da magnitude do Carrington atingir a Terra na próxima década situa-se entre 0,46% e 1,88% — uma probabilidade baixa, mas com consequências potencialmente catastróficas.