A audácia de liderar

É tempo de fazermos da Área Metropolitana de Lisboa (AML) o centro da inovação europeia. Não é apenas Lisboa que pode ser Capital Europeia da Inovação. A AML também o pode ambicionar, e com muito mais impacto.

Quando pensamos em grandes áreas metropolitanas, a imagem que nos vem à cabeça é provavelmente a do frenesim urbano, do ruído de avenidas cheias e dos prédios altos, daquele vaivém do metro, dos carros e autocarros que marca a vida de uma cidade. Mas, quando vemos o que oferece a Área Metropolitana de Lisboa (AML), deparamo-nos com algo tão diferente: do seu centro nevrálgico que é Lisboa vemos a baía do Tejo, as praias que vão da Costa da Caparica até ao Meco, a Serra da Arrábida e a Serra de Sintra; vemos tradição tão enraizada em Vila Franca de Xira ou na Moita, no Montijo ou em Alcochete; vemos a beleza costeira de Cascais, Setúbal e Sesimbra; e da grande malha urbana, tanto em Oeiras como em Almada, facilmente alcançamos a tranquilidade de Mafra.

Soubemos há poucos dias que a AML ultrapassou os 3 milhões de habitantes. Hoje, 28% da população portuguesa vive na região de Lisboa. São dados demográficos que se juntam aos económicos (36% do PIB português está na AML), aos do ensino superior (37% dos estudantes), ou aos do turismo (32% dos hóspedes), para confirmar o que desde há muito afirmo com convicção: é tempo da AML ter a audácia de liderar. Não com arrogância ou um falso sentido de superioridade, mas sim porque a AML tem hoje a oportunidade de ser o motor do desenvolvimento integral do país.

Foi com esta profunda convicção que fui ontem eleito Presidente da AML. Aos meus pares, Presidentes de Câmara, expus de forma clara a minha visão para o futuro da área metropolitana, uma visão centrada em três objetivos para transformar a região de Lisboa nesse motor do nosso desenvolvimento.

Em primeiro lugar, trabalhar numa AML que se centra nas pessoas. Numa AML cuja prioridade está em cuidar das pessoas, principalmente daquelas que mais precisam. Neste campo social está o apoio às pessoas em situação de sem-abrigo, que – digo-o há muito tempo – tem de se tornar num desígnio metropolitano. Não podemos continuar a trabalhar isoladamente num problema que é de todos; pelo contrário, precisamos de unir esforços para assegurar que chegamos a todos aqueles que precisam da dignidade de um teto. Em Lisboa conseguimos diminuir em 20% o número de pessoas que se encontram a dormir na rua. Foi um enorme esforço, mas sei bem que podemos fazer muito mais se trabalharmos em conjunto em toda a AML para apoiar estas pessoas, construindo mais vagas de acolhimento por todo o espaço metropolitano, criando mecanismos partilhados de apoio, encontrando soluções conjuntas.

Em segundo, trabalhar na ligação intermunicipal – algo imprescindível em áreas como a mobilidade, que tanto impacto tem na vida das pessoas e no seu dia-a-dia, cada vez mais marcado por deslocações dentro do território da AML. É necessário pensar na mobilidade como instrumento metropolitano que liga e integra os vários concelhos da AML. Foi esse desígnio que deu origem aos Transportes Metropolitanos de Lisboa (TML), com os quais trabalhei de perto para implementar a gratuitidade nos transportes públicos para jovens e idosos em Lisboa. Hoje é necessário aprofundar estas sinergias entre a TML e os serviços municipais de transporte público – no caso do concelho de Lisboa, com a Carris –, para além de melhorar as ligações entre os nossos municípios. Como Presidente da Câmara Municipal de Lisboa trabalhei precisamente neste sentido com os meus homólogos de Loures e Oeiras. Graças a esse trabalho conjunto teremos em breve um novo Metrobus, a ligar Benfica e Alcântara a Algés, e uma nova linha de elétrico a ligar o Terreiro do Paço a Loures. É este esforço conjunto que temos de fazer hoje em toda a AML. Os seus grandes beneficiários serão as pessoas.

Por fim, é tempo de fazermos da AML o centro da inovação europeia. Não é apenas Lisboa que pode ser Capital Europeia da Inovação. A AML também o pode ambicionar, e com muito mais impacto. Nos últimos quatro anos testemunhei o impacto que tem a aposta na inovação: mais empresas, mais emprego, mais riqueza. Só em Lisboa foram anunciadas mais de 16 000 novas oportunidades de emprego depois de captados cerca de 80 novos centros tecnológicos para a cidade. Agora é o momento de tornar este sucesso municipal em sucesso metropolitano.

Se conseguimos fazê-lo em Lisboa, imaginem o que poderemos fazer em toda a AML? Para o fazermos só precisamos de ter a mentalidade certa: a audácia de liderar. É essa a minha proposta.


Presidente da Câmara de Lisboa e Presidente da Área Metropolitana da Lisboa