Há muito tempo que a Ucrânia está praticamente derrotada. Houve no passado alturas em que parecia que talvez conseguisse vencer o agressor, que o milagre pudesse acontecer, mas com o passar dos anos essas ilusões desvaneceram-se completamente. A Rússia avança todos os dias, ainda que lentamente. Mas avança, perante um país que tem falta de tudo – de dinheiro, de cartuchos, de material militar e de homens. Nada a deterá.
Houve fases em que se temeu que aquela guerra poderia, por ínvios caminhos, desembocar numa terceira guerra mundial. A Rússia provocou o Ocidente ao lançar drones que caíam em território alheio e sobrevoou o espaço aéreo de Estados soberanos localizados nas imediações. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial que não se ouvia falar e escrever tanto sobre a possibilidade de o conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia desembocar numa terceira guerra geral. Igualmente, com a excepção do caso iraniano, também há décadas que não se mencionavam tão assiduamente as bombas atómicas.
Como chegámos aqui ? Como fomos incapazes de ajudar a Ucrânia nesta guerra ignóbil que a agressão russa impôs àquela ? Não foi à falta de abraços de solidariedade eterna jurada a Zelensky. Não foi à falta de promessas de auxílio, que não se materializaram. A União Europeia foi a campeã da solidariedade e das promessas. Mas, salvo uns milhões de euros, a ajuda militar não passou de conversa diplomática. Quanto à NATO, parece adormecida.
A NATO parece adormecida mas não está. Está sim de pés e mãos atados pelo medo de que uma intervenção sua desencadeie uma guerra geral. A Rússia sabe isso melhor do que ninguém e por isso se dá ao luxo de fazer provocações: para nos humilhar.
Este assunto da guerra da Rússia contra a Ucrânia acabou por ser um dossier entregue aos Estados Unidos da América. Quanto à Europa, continua assoberbada com o seu Estado Social de que tanto se orgulha e que consome a maior parte dos seus recursos financeiros. Isto já vem muito de trás, desde o final da Segunda Guerra.
Desde o final da Segunda Guerra que a Europa optou por financiar o Estado Social e, convencida de que as duas guerras mundiais tinham sido as últimas a acontecer no mundo, descurou inteira e deliberadamente o rearmamento. A Europa só agora acordou para a necessidade de se rearmar. É tarde. O dossier ucraniano acabou a ser entregue aos Estados Unidos, ou seja, a Trump. Trump ainda teve alguns gestos de boa vontade para com a Ucrânia; além disso encontrou-se várias vezes com Zelensky e com Putin. Sabemos que a Ucrânia continua sem o armamento de que precisaria para ganhar a guerra – acha ele – e continua sem o dinheiro e as armas que a Europa lhe prometeu. Foram inúteis as peregrinações de Zelensky pelas capitais europeias. Em toda a parte encontrou solidariedade e boa vontade, nas não aquilo de que ele precisaria para supostamente ganhar a guerra.
Custa a admitir a realidade, mas a realidade é que os Estados Unidos se fartaram da Ucrânia e desistiram de lhe fornecer armas e dinheiro. Subitamente, irrompeu do nada um ‘plano de paz’ que não passa de um duríssimo ultimatum. Cumprir o ultimatum, que a Rússia aplaude com as duas mãos, equivale a aceitar a derrota nua e crua. A tão repudiada capitulação está ao virar da esquina. Que outra coisa pode fazer a massacrada Ucrânia ?!
Este desfecho trágico comporta no entanto um ponto positivo, que apenas por cinismo se pode deixar de reconhecer. O fim da guerra, com a Rússia vencedora, afasta por alguns (poucos) anos o espectro de um conflito nuclear. Mas que ninguém se iluda: os russos vão voltar. A Europa que se cuide e deixe de se fiar no guarda-chuva americano. Os Estados Unidos já mostraram que estão mais interessados no Oriente e no Pacífico do que neste nosso Continente velho e adormecido.