O novo Quinto Império

Será que o estamos preparados para tanta informação sem haver triagem inicial?

O Quinto Império não é concretizado num território, mas sim na consciência global e livre da humanidade conectada.

Os portugueses preconizaram uma nova era no globo; conseguiram ligar o Ocidente ao Oriente, aproximando culturas, ideias, valores e costumes. Se no passado, não muito longínquo, os portugueses abriram as rotas marítimas, unindo continentes, bens e pessoas, esta era digital permitiu abrir rotas tecnológicas, possibilitando uma conexão de pessoas, bens e serviços assim como uma mobilidade global.

Esta nova época em que o acesso está a apenas a um click num computador ou num telemóvel permitiu que o conhecimento e a própria cultura chegassem a um público universal. Mas será que esse público estava preparado para tanta informação, muitas vezes avulso, sem haver uma triagem inicial? A defesa que alguns fazem numa tiragem inicial não significa que estamos a censurar a informação, mas sim a dar um acesso normativo às pessoas.

Na política, o discurso tornou-se uma torrente de palavras muitas vezes sem nexo ou sem substância procurando mais a visibilidade mediática do que a resolução efetiva dos problemas das pessoas. Mais parece o regresso ao tempo de Luís XIV, de uma corte exuberante, jogos de sedução e de palavras caras para agradar ao Rei. Dir-se-ia que voltamos atrás, ao estarmos numa época, que permite que a sobranceria e a exuberância de um simples like numa rede social se torne o tema fundamental num discurso político de uma assembleia da república.

Há quem olhe para esta nova era digital como a democratização da palavra, a verdade acima de tudo. Mas o que é a verdade? Não será a verdade de um, a mentira de tantos outros? Esta nova forma de ver e fazer política vive mais da fé do que da reflexão.  Até porque tem muito a ver com as circunstâncias e os pontos de vista de cada um.

Aqueles que questionam esta nova forma de ver e fazer política são por vezes associados ao Velho do Restelo de Camões. O Velho via, com desconfiança, e ao mesmo tempo com uma impossibilidade, o sucesso dos Portugueses para além da Taprobana. Nos temos de hoje é lícito perguntar se os Velhos do Restelo não são afinal os defensores do totalitarismo da verdade que se associam às novas tecnologias? O totalitarismo da verdade e da era digital alimenta-se da polémica e recompensa o impulso ingénuo. Mas entre a promessa e o perigo do pensamento único, o desafio continua: é preciso dar humanismo ao pensamento quase imediato por detrás de um ecrãn.

Se assim for, a nova era digital poderá então ser vista como uma reencarnação do Quinto Império, um Império de partilha de conhecimento e de liberdade global.

                                                                                                   André Teixeira

                 Professor e Historiador