Reunião da equipa de gestão, são seis coordenadores e um diretor que é a chefia desta equipa. Há apenas uma mulher, é uma das coordenadoras. (Infelizmente este detalhe ainda é relevante para a história).
A certa altura um dos coordenadores acusa a colega de ser incompetente e estar na altura «De começar a levar isto a sério!!». Perante a surpresa e violência do ataque, ela, a chorar, responde que não concorda com o que ele disse, acha injusto e… Não conseguiu acabar a frase porque foi interrompida pelo Diretor, que começou a gritar com ela: «Cristina! Não pode ser! Assim não pode ser! Aqui não há emoções! Para de chorar imediatamente!». Parece um sketch, mas não é. É mais aceitável gritar, atacar e humilhar do que chorar, uma curiosa definição do autocontrolo emocional.
Ouvimos muitas vezes falar das diferenças entre género na Liderança: que as mulheres são mais conciliadoras, cooperativas, empáticas e os homens mais corajosos, confrontativos e determinados. Todas estas palavras descrevem características de bons líderes, não são mutuamente exclusivas. E nenhuma descreve ser agressivo, mal-educado, explosivo e ameaçador.
Trabalho em programas de liderança específicos para mulheres, mas tenho como objetivo pessoal que estes cursos deixem de ser precisos por se tornarem inúteis e que tanto homens como mulheres, bem como pessoas que não se identifiquem com género binário, estejam em pé de igualdade e os resultados dependam realmente do seu esforço e competência. Parece-me que estamos longe de aí chegar. Há muito mais mulheres nas universidades de referência, onde as médias são mais altas, mas depois na escada da Carreira, chegam muito menos mulheres a cargos de liderança. Haverá vários fatores a contribuir para esta realidade e não os vamos explorar todos aqui. Quero agora apenas falar de um deles: as mulheres no trabalho (generalizando) tendem a ser menos agressivas e também menos assertivas. O que significa que têm menos voz: falam menos, são mais interrompidas e são menos ouvidas. Para isto contribui um hábito cultural de ser mais frequente um homem interromper uma mulher do que interromper um homem; e também a maneira de as mulheres se expressarem (mais uma vez generalizando), mais redonda e menos direta, por isso mais passível de ser interrompida. As mulheres precisam de comunicar de modo mais assertivo e também de responder com destreza a provocações agressivas. Outro modo de o dizer é que as mulheres precisam de treinar e mostrar mais autoconfiança. O psicólogo social Tomas Chamorro-Premuzic afirma que há uma correlação inversa entre competência e autoconfiança: as pessoas mais competentes tendem a ser mais autocríticas e por isso menos autoconfiantes. E acrescenta: «É essa a razão de o mundo estar cheio de líderes incompetentes mas cheios de autoconfiança».
Com o estilo de liderança “bully fanfarrão” tão na moda, precisamos mais do que nunca de pessoas que se consigam afirmar.