O caos no trânsito no Porto

Hoje, tudo está rapidamente e mudar e viver na capital do Norte está a deixar de ter esse lado romântico de que tudo é perto e que conseguimos lá chegar rapidamente

A Via de Circular Interna do Porto é um gigantesco problema nos acessos à cidade e à região. A Via é urbana, corta o Porto e Gaia a meio e está cheia de camiões que no seu lento pára-arranca transformam a circulação num calvário, praticamente a todas as horas.

O tema é antigo, mas continua sem uma solução eficaz à vista.

A Câmara do Porto e o Governo concordaram em isentar os pesados e portagens na CREP nas horas de ponta a partir do começo do próximo ano. Mas será que isto chega?

Os camionistas e as empresas vão convencer-se a fazer mais quilómetros apenas porque o caminho mais longo fica sem pagamento de portagens? É que a VCI continua ali, tentadora e igualmente de borla.

Dificilmente vai mudar alguma coisa de substancial. A ideia, na minha opinião, tem de ser completada com medidas que levem efetivamente os pesados que fazem a intensa ligação a Leixões a não seguirem pela Arrábida. Isso só se faz com um custo, ou um incentivo. A não ser assim, os camiões seguirão praticamente todos o mesmo caminho de hoje, porque é efetivamente bem mais curto e o problema será o mesmo de hoje.

O Porto, Gaia e Matosinhos sofrem brutalmente com isto. As pontes não ligam, estrangulam o transito e as alternativas de transportes públicos estão também no limite. Basta ir às estações do metro na hora de ponta para se perceber isso, que é também preocupante quando se fazem novos apelos à utilização dos transportes públicos. 

Ninguém deixa o carro em casa, se conseguir pagar a gasolina, para se enfiar num metro cheio até ao teto e fazer uma viagem tumultuosa até ao trabalho logo ao nascer do dia. 

Há uma óbvia articulação dos diferentes meios de transporte no grande Porto, que tem ajudado a aumentar a oferta e a resolver parte do problema, mas é preciso fazer mais, nomeadamente no metro, para que o carro ficar em casa seja mesmo uma opção confortável. Até lá, muito boa gente vai continua a sofrer na VCI e a demorar uma hora para fazer os 20 quilómetros entre o centro do Porto e as cidades satélite como Gaia, Matosinhos, Espinho ou a Maia.

Sei que não é popular criar portagens na VCI para os pesados, mas não me ocorre outra forma de incentivar os camiões a fazerem mais quilómetros e libertarem uma via citadina como a VCI de um insuportável pára-arranca.

O Porto ainda tem uma qualidade de vida superior à média das grandes metrópoles e o transito não era uma questão determinante para quem decide viver aqui. Hoje, tudo está rapidamente e mudar e viver na capital do Norte está a deixar de ter esse lado romântico de que tudo é perto e que conseguimos lá chegar rapidamente. Que é tudo perto, é um facto, agora chegar lá a tempo é uma irritante dúvida. O tema transito foi marcante na campanha eleitoral das últimas eleições e estará nas preocupações principais na hora de avaliar o jovem executivo liderado por Pedro Duarte.

As soluções que serão encontradas ditarão certamente uma forte fatia do sucesso desta liderança e por arrasto das de Gaia e até de Matosinhos.

A nova ponte sobre o Douro e a linha do metro que irá ligar Gaia ao Porto serão estruturantes nesse processo de aumenta da oferta de transportes públicos. O mesmo vai acontecer com as novas estações dentro das duas cidades que estão em fase de acabamento. Quando o sistema estiver em pleno funcionamento e ainda faltam uns anitos, vamos sentir a diferença, mas sem se resolver o gravíssimo problema da VCI não há paliativo que alivie este autêntico cancro que cresce todos os dias deixando milhares de pessoas à beira de um violento ataque de nervos.

Dizem que malta do norte irritada é sempre um perigo. O melhor, digo eu, é mesmo resolver o problema.