Mónica Vale de Gato estreia novo solo: “Venham ao meu espetáculo para chorarmos juntos”

O palco é de Mónica Vale de Gato nos próximos meses. Chegou o ‘Próxima Paragem’, o novo solo da humorista que vai correr Portugal.

Depois de Demasiado, em 2022, Mónica Vale de Gato, natural de Mem Martins, como faz questão que todos saibam, está de volta aos palcos com o novo solo Próxima Paragem, com primeiro espetáculo estreado a 19 de novembro no Comedy Club do Casino de Espinho e com próximas datas marcadas para os meses de janeiro, fevereiro, março e abril de 2026.

O solo é um reflexo do que têm sido os últimos anos de Mónica, depois de ter casado, de ter sido mãe e de enfrentar um lado da vida adulta que, como diz, é «potencialmente chato». Mas o espetáculo vai além disso.

É um solo criado por Mónica Vale de Gato e por amigos próximos e está pronto a encher salas de norte a sul do país, sendo a ocupação o único limite. No que toca ao humor, não há limites para a humorista, para quem «sabermos rir de nós próprios é das melhores coisas».

Mónica Vale de Gato é uma mulher num meio maioritariamente masculino, mas não podia hoje em dia sentir-se mais livre na profissão, algo que vai mostrar no novo solo.

Próxima Paragem chega depois de três anos de muitas mudanças. De que forma é que o casamento e a maternidade estão espelhadas neste novo espetáculo?

A vida de casada e a maternidade têm muito que se lhes diga. A pouca sanidade que me resta depois destas experiências dá um novo olhar a este espetáculo, até nas coisas mais mundanas como ir ao ginásio. Ser mãe e casar não estão no centro desta viagem, mas fazem sem dúvida parte do leque de paragens da minha vida.

O que sentes que as tuas origens, a linha de Sintra, te deram para o humor que hoje levas para o palco?

A lábia e a lata nos momentos de interação com o público são sem dúvida momentos muito Linha de Sintra. Mas também sinto que as minhas raízes influenciam a forma como vejo e satirizo o mundo. E sinto que mesmo quem está do lado oposto das minhas vivências se identifica e ri com elas.

Numa altura em que muito se fala em limites do humor, quais são os teus?

É um tema que, só por ser tema, já confere um peso que não existia antes na minha profissão. No meu primeiro solo ninguém falava de limites. Hoje tenho colegas de profissão com processos e a serem intimidados por trabalharem. O politicamente correto dos dias de hoje tira a cor à vida. Sabermos rir de nós próprios é das melhores coisas.

Há limites quando transformamos a vida pessoal em material humorístico? Por exemplo, quando falas no teu marido e nas diferenças sociais entre ambos?

Não há limites. Como também não há limites quando falo da cegueira do meu pai. A meu ver, todos merecemos ser objetos de sátira. Ninguém, nem nenhuma situação, deve ser vista com “pinças”. Não brincar com essas situações seria considerar o meu pai um “coitadinho”. E ele não é. Por isso, merece ser também um dos elementos de sátira.

Em Próxima Paragem exploras o lado “potencialmente chato” da vida adulta. Achas que o facto de público se identificar com este lado chato da vida adulta explica as salas praticamente cheias de norte a sul?

Ter já alguns seguidores no Instagram ajuda. Mas, para quem não me conhece, acredito que todos passemos pela negação de virar adulto e pela dor que é quando nos começam a tratar por você. Se for o caso de quem estiver a ler isto, venham ao meu espetáculo para chorarmos juntos.

Tens uma presença cada vez mais forte no digital. Acreditas que o trabalho nas redes alimenta o teu stand-up e vice-versa?

Sem dúvida. Estou no digital desde 2015 e sinto que fui crescendo com muito do público que me segue. Tenho uma narrativa próxima e diária e acredito que isso ajude na venda de bilhetes no lado do stand-up. No primeiro solo perguntava sempre quem naquela sala não me conhecia, e era sempre metade da sala. Eram pessoas que iam de arrasto com os meus seguidores. E recebia muitas mensagens depois a dizer que estavam surpreendidos com o que viram e que ficaram fãs. Hoje já me seguem. Por isso, sem dúvida que um alimenta o outro e vice-versa.

Em algum momento sentiste pressão para corresponder a expectativas externas, em particular sendo uma mulher no stand-up?

Sim. Já me disseram que estava demasiado bem vestida para fazer stand-up. Já senti uma pressão para ser mais “one of the boys” para encaixar num meio maioritariamente masculino. Mas quando percebi que não precisava do meio para crescer enquanto comediante, mas sim das pessoas que escolhem seguir o meu trabalho, senti-me mais livre. Esta tour é criada por mim e por amigos de confiança e não podia sentir-me mais à vontade para ser eu.

Este é o teu segundo solo. Qual é a tua próxima paragem depois deste espetáculo? Há algo que ainda sintas que falta explorar, arriscar ou conquistar na comédia?

Sempre quis fazer parte de uma série de comédia, ter uma personagem cómica numa novela ou numa peça de teatro. E adorava ir ao Taskmaster! (Quem não?) Sempre me considerei uma “problem solver” graças ao meu lado criativo e esse programa televisivo é sem dúvida a minha cara. Quem sabe um dia a miúda de Mem Martins tem uma chance.