Uma campanha eleitoral não é uma foto é um filme. É um processo contínuo que toca diversos itens. A imagem do candidato, mensagem, declarações proferidas, momentos de campanha, outdoors, redes sociais, sondagens, debates e sobretudo não cometer erros.
É natural face ao número dos mesmos e à atenção que a cobertura televisiva merece que haja um foco – e também muito nervosismo das equipas e claques – nos debates. Mas tenho de referir mais uma vez: um debate esgota-se naqueles trinta minutos, daqui a um mês já ninguém se lembra deles. Por isso nenhum tem uma carga trágica ou decisiva.
Na semana passada ocorreram debates que na minha ótica correram mal a dois candidatos. João Cotrim de Figueiredo e Henrique Gouveia e Melo, face a Luís Marques Mendes e António José Seguro, respetivamente. Quer com isto dizer que esgotaram as suas possibilidades de terem bons resultados nas urnas? Claramente, não.
João Cotrim de Figueiredo tem uma campanha profissional e moderna nas redes sociais, para lá disso tem carisma e voz própria que vale muito mais do que o partido de onde é originário, a Iniciativa Liberal. Continuo a vislumbrar a possibilidade de um acorde nos dois dígitos muito à custa de segmentos eleitorais que costumam votar centro direita, nomeadamente no PSD.
E mantenho a opinião que Henrique Gouveia e Melo granjeia popularidade junto do país real, logo, mantém intactas as possibilidades de passar à segunda volta. Há um eleitorado mais velho, que tradicionalmente tem votado PS que mantém a gratidão quanto ao excecional trabalho de liderança e organização do processo de vacinação. Para lá disso, há muito PS que não vai votar em António José Seguro, por causa de marcas do passado e se ter excessivamente colado – mesmo com abstenção violenta – ao governo dos tempos da troika. É ali que o almirante tem navegado, mesmo com erros naturais de quem não está habituado a lidar com os jogos da política pura.
Se me perguntarem quem neste momento são os favoritos a passar à segunda volta diria cristalinamente Marques Mendes, porque se colou a um Governo que é popular e tem feito uma campanha moderada e em crescendo; André Ventura, porque a sua performance é pensada a régua e esquadro na fidelização do eleitorado que lhe deu 22,7 por cento e 60 deputados nas últimas legislativas e por isso tem radicalizado o discurso em prol desse objetivo; e Gouveia Melo pela popularidade obtida no passado, pela imagem de autoridade e credibilidade e por pairar acima dos partidos. No entanto, ainda há António José Seguro e Cotrim de Figueiredo na batalha que é para mim imprevisível quanto ao resultado final.
Portanto, que fique bem expresso que um debate é apenas um debate e muitos houve em que quem ganhou não chegou a vencer nenhum ato eleitoral. Só há uma verdade: está tudo na mesma.
Em aberto.
Comentador CNN