Querida avó,
Estamos em contagem decrescente para a noite de Natal. Uma época em que, inevitavelmente, recordo os Natais que passava com os meus avós, de sangue.
Comparados com os de hoje, muito mais simples. Tinham uma magia diferente. Não existiam tantas luzes piscando pela cidade, nem presentes comprados pela internet em cima da hora.
Montávamos o presépio em família. Cada um acrescentava uma peça e inventava uma história para cada figura. A árvore era enfeitada com coisas feitas à mão e a ceia era quase um ritual – todos colaborávamos de alguma forma.
Hoje tudo é mais corrido, mais impessoal. Podemos encomendar uma Ceia de Natal, completa, em qualquer supermercado.
Existem famílias que optam por passar essa noite num Hotel, a serem servidas por pessoas que, por estarem a trabalhar, não podem passar o Natal com os próprios familiares, imagina.
Hoje tudo tem mais tecnologia, mais consumo… Mas sabes o que não mudou? O coração da festa. A vontade de estarmos perto de quem amamos, rir das histórias repetidas, comer o que é tradicional (e em quantidades exageradas), cantar umas músicas desafinadas, tirar fotos (agora digitais)… Tudo isto continua igual desde que eu era criança.
E no futuro, avó? Como será?
Penso que vai continuar a misturar tudo: tradição e modernidade. Quando eu tiver a tua idade, talvez as árvores de Natal sejam holográficas e o Pai Natal envie os presentes por drones… Espero que nunca percamos a vontade de preservar o que realmente importa. Que as famílias continuem a realizar momentos de conexão, partilha, amizade… verdadeira.
No fundo, espero que o Natal do futuro seja repleto de amor, saúde e paz, algo cada vez mais incerto.
As formas de realizar o Natal mudam… o espírito fica!
O bolo-rei era consumido durante o Natal até o Dia de Reis. Agora encontramo-lo ao longo de todo o ano…
Por falar nisso, deixa-me ir comprar o meu bolo-rainha.
Feliz Natal, querida avó.
Bjs
Querido neto,
Reconheço que o que é tradição hoje, quando eu era criança “era futuro”.Adoro Natal e sou muito “nataleira”.
Logo no princípio de novembro, armo alguns dos meus presépios e alguns até ficam expostos todo o ano.
Por falar em mudanças, deixa-me partilhar contigo um belíssimo texto do meu grande amigo Francisco Moita Flores, precisamente sobre este tema.
«Primeiro, levaram-nos o presépio, trocando-o por uma árvore. Depois, levaram o Menino Jesus, trocando-o por um indefinido Pai Natal promovido pela Coca-Cola, a seguir impingiram a ideia de que a troca de presentes da noite de Natal, deveria estar ao serviço das grandes superfícies e consumos desenfreados que agradam aos grandes armazéns, mas perderam a dimensão do afeto. O Deus consumista a reger as tão desejadas festividades. Há poucos dias, um caramelo importante da União Europeia veio propor que deixássemos de usar a palavra Natal para dizermos ‘festividades’ ou ‘férias’ porque usá-la não seria inclusivo. Por este andar, deixamos de celebrar a noite de Reis para celebrar a noite dos Presidentes.
Este esforço para a estupidificação coletiva não é de hoje. Em nome da inclusão está a haver um enorme esforço, reacionário e analfabeto, para que o sentido do tempo, o sentido da existência, se esgotem no simplismo, pelo desvanecimento da memória, para quem só interessará o imediato e o instante. Sobretudo quando o maior símbolo do Natal é a inclusão, o amor e solidariedade.
Resisto a este cancelamento das palavras, da cultura, da identidade e exorto os meus leitores a celebrar o Natal. Sem eufemismos. Sem o preconceito que se esforçam por impor. A ceia de Natal, a festa de Natal, o nascimento do Menino Jesus, os abraços de Natal.
Não há pachorra para tanto modernismo indigente!».
Como podes ver, há muita vontade de mudança, mas também muita gente a favor das tradições!
Fica bem. Feliz Natal!