A propósito do atentado de Sidney com motivações religiosas, isto é, com motivações antissemitas, fui observando a forma de comunicar das televisões. É curioso que tratem por ‘tiroteio’ um evento que tem, naturalmente, marcas de terrorismo. Foi um atentado antissemita por ódio aos judeus que nada tem a ver com a causa palestiniana, como alguns nos fazem acreditar.
Uma das comentadoras televisivas que tem maior clareza acerca dos eventos que ocorrem no mundo ocidental é, sem dúvida, Helena Ferro Gouveia. Num dos seus comentários, abriu-me uma nova frente que nunca tinha pensado. Por um lado, uns não concordam com a existência do Estado de Israel, mas, por outro lado, outros não concordam com a existência dos judeus fora de Israel.
Se não foi nestes termos exatos, o sentido, seguramente, foi este. Os judeus, depois de dois mil anos de perseguições, não podem continuar a viver em segurança fora de Israel e a comunidade internacional parece também não querer manter em segurança aqueles que vivem em Israel.
Já aqui o disse, mas volto a dizer, que o que Pedro Sánchez reconheceu, não foi o Estado Palestiniano, mas o direito de existir o Estado de Israel. ‘Free Palestine from the river to the sea’, isto é, ‘Palestina livre do rio [Jordão] até ao mar [mediterrâneo]’ significa o fim do Estado de Israel.
A coexistência de dois povos no mesmo espaço geográfico não exige a existência de dois Estados Independentes. O Rei de Marrocos assinou um decreto que pune gravemente aquele que levar a cabo alguma manifestação antissemita. É de uma coragem enorme, mas é uma realidade histórica: quando os judeus deixaram de ter espaço para viver em Portugal e em Espanha, fugiram para o Norte de África. Ainda hoje a comunidade Sefardita em Marrocos é uma das maiores do mundo.
A verdade é que Israel absorve na sua cultura não apenas os judeus vindos de todo o mundo, mas também os dois milhões de judeus que, como todos os judeus, cristãos árabes e ateus, são cidadãos plenos do Estado de Israel. Para quem não saiba, em Israel o hebraico e o árabe são línguas oficiais e estão em todas as indicações oficiais, bem como todos os documentos de Estado.
Indubitavelmente, a existência do Estado de Israel está profundamente ligada à causa judaica. Sem dúvida! Se os judeus pudessem viver em segurança em qualquer parte do mundo, não seria necessário pensar-se num Estado Israelita. O problema é que nos últimos vinte séculos, não conseguimos assegurar a segurança e a serenidade de vida para esta comunidade.
Deixem-me apontar aqui um aspeto muito importante deste atentado em Sidney. A Austrália tem uma espécie de Conselho de Imãs que operam no país. Foi com grande comoção que vi os Imãs a condenarem veementemente o atentado terrorista ocorrido no seu país. Muito gostaria de poder ver em Portugal as autoridades muçulmanas a pronunciarem-se sobre os atentados antissemitas e anti-cristãos.
Não existe, tanto quanto sei, nenhum Conselho de Imãs de Portugal, apesar de ouvirmos dizer que há centenas de mesquitas em todo o país. Quer queiramos, quer não, teremos de ter, no futuro, algum tipo de estrutura que possa coordenar o islamismo em Portugal. A tão secular França já o fez… nós teremos de o fazer dentro em breve.