NFL. Toca e foge

O futebol americano é dos desportos mais populares do mundo, que atinge o esplendor com o Super Bowl. Esta espetacular modalidade, onde o contacto físico é a essência do jogo, também se pratica em Portugal, onde há uma liga e um campeão. O futuro passa por criar uma seleção nacional para participar em competições internacionais

A National Football League (NFL) é a liga profissional de futebol americano – o futebol tradicional tem a designação Major League Soccer (MLS) – e é também um espetáculo global, que mistura desporto e entretenimento. O futebol americano nasceu em 1920 e teve a sua origem no râguebi inglês. A liga está dividida em duas conferências: AFC (American Football Conference) e NFC (National Football Conference) e tem 32 equipas. O futebol americano é jogado por duas equipas de 11 elementos, embora cada formação possa ter 53 jogadores para os diferentes momentos do jogo: ataque, defesa e jogadas especiais. O salário normal de um jogador é dois milhões de dólares, mas há quem ganhe muito mais. Patrick Mahomes, quarterback dos Kansas City Chiefs, é o mais bem pago, com 50 milhões de euros por época.

Uma temporada da NFL tem 256 jogos, sendo que cada equipa realiza 16 partidas na fase regular, com quatro períodos de 15 minutos. Concluída essa fase, as sete melhores equipas de cada conferência seguem para os playoffs que apuram as duas equipas que vão disputar a final no famoso Super Bowl. Um espetáculo mediático, onde um spot publicitário de 30 segundos custa sete milhões de dólares! É nesse dia que os Estados Unidos param para ver quem leva para casa o troféu Vince Lombardi, que homenageia um dos maiores técnicos da história do futebol americano. 

A NFL tem uma média de 17 milhões de espetadores por semana nos Estados Unidos – ultrapassou a NBA e o Basebol – e mais de 400 milhões de fãs em todo o mundo. É também a liga mais lucrativa do mundo e o melhor exemplo de como transformar o desporto em negócio. Na última época, gerou 23 mil milhões de dólares em receitas de televisão, patrocínio e licenciamento. Com este resultado, cada equipa vai receber 416 milhões de dólares. E tudo começou em 1920, em Ohio, com bilhetes a um dólar…

Por ser considerado um desporto de contacto, a NFL tem regras bastante apertadas quando ao equipamento de proteção de modo a evitar contusões graves. Os principais elementos são: capacete, com uma grade em aço ou carbono para proteção do nariz, boca e queixo, ombreiras, protetores de virilha, coxa e joelhos, chuteiras especificas, dependendo da posição de cada jogador, luvas e proteção para os dentes. Todo este equipamento aumenta a proteção e ajuda a melhorar a performance. Até 1943, os jogadores não precisavam usar capacete.

Futebol americano em Portugal

A liga portuguesa começou em 2009/10 com cinco equipas, quatro portuguesas e uma espanhola. Os Lisboa Navigators venceram os Paredes Lumberjacks na final (45-26) e tornaram-se nos primeiros campeões nacionais. Desde então, o futebol americano tem vindo a desenvolver-se, apesar dos limitados recursos. A situação pode mudar em breve, como explicou Pedro Esteves, presidente da Federação Portuguesa de Futebol Americano (FPFA). «Aguardamos o parecer favorável de Utilidade Pública e de Utilidade Pública Desportiva para a FPFA», começou por dizer ao Nascer do SOL. Obtido esse reconhecimento «a nossa realidade muda por completo. Passamos a ter acesso a apoios que agora não temos, nomeadamente às verbas das apostas desportivas», afirmou, lembrando que: «Neste momento sobrevivemos com o apoio de algumas instituições. Não é fácil gerir o futebol americano porque é uma modalidade dispendiosa. O flag football é uma vertente do futebol americano, mas sem contacto, que praticamente não tem despesas, pelo que está a crescer imenso e vamos precisar de dar resposta. Além disso, temos vários projetos parados por falta de dinheiro. Com esses apoios, as duas modalidades vão desenvolver-se», garantiu Pedro Esteves. 

A liga de futebol americano é disputada por sete equipas a nível nacional: três em Lisboa, duas no Porto, uma em Cascais e outra em Braga. A competição começa em meados de janeiro de 2026 e cada equipa realiza seis partidas. Em abril, realizam-se os playoffs e, em maio, joga-se a final. Os jogos são disputados por equipas de 11 jogadores e cada equipa pode ter 45 elementos. Olhando para o futuro, Pedro Esteves disse: «Não acredito que Portugal tenha muitas equipas, uma vez que é um desporto que exige grandes recursos e envolve dezenas de pessoas. O importante é consolidar a liga e criar uma seleção para participar em campeonatos do Mundo e da Europa».

Os Lisboa Navigators são a equipa mais vitoriosa, com seis títulos em 13 participações. Atualmente, treinam e realizam os seus jogos no Sport Futebol Palmense, nas Laranjeiras. Os Lisboa Devils têm quatro títulos e são os atuais bicampeões nacionais. Como todos os outros clubes, treinam e jogam num campo emprestado, que é a casa do Clube Futebol Benfica, conhecido como Fofó.

A liga nacional de flag footall tem 21 equipas de 15 elementos e está dividida em duas conferências: Norte, que inclui uma equipa espanhola, e Sul, que integra as equipas à volta de Lisboa. Existem quatro etapas em cada conferência. Os jogos são disputados por equipas de cinco jogadores, cada um com uma fita de cada lado da cintura. A época termina a 11 de janeiro de 2026 com a Final Four, no Estádio Mário Wilson, em Oeiras, onde será encontrado o campeão nacional. A Academia Hammers tem seis títulos, seguido pelos Renegades e Lousada Lumberjacks com um título cada. Nesse evento vai realizar-se também uma partida de flag football feminina entre uma equipa de Lisboa e outra do Porto. «É uma maneira de promover este desporto, já que o nosso objetivo é ter uma liga feminina de flag football», frisou Pedro Esteves, que salientou: «É mais fácil fazer crescer o flag football, porque há muitas pessoas interessadas e é uma modalidade económica. Queremos colocar o flag football como desporto escolar, os professores adoram a modalidade. Depois, como tem a vertente americana, isso atrai os jovens. O futebol americano traz uma cultura desportiva diferente com designações como Devils, Crusaders, Navigators e Renegades, o próprio merchandising é completamente diferente e muito apelativo para os mais novos», salientou o responsável da FPFA. Existe também a intenção de participar em competições internacionais. «O flag football vai ser modalidade olímpica em Los Angeles 2028 e vamos tentar estar presentes», disse. Em setembro, uma equipa portuguesa participou no Europeu de flag football, em França, e conseguiu o 19.º lugar, entre 25 participantes. 

Em termos de orçamentos, a diferença é enorme «para equipar um jogador de futebol americano gasta-se cerca de 300 euros, e não é com o equipamento mais caro, com esse valor crio sete equipas de flag football. Em qualquer dos casos, tentamos sempre manter os valores o mais baixo possível», frisou Pedro Esteves. Outra grande dificuldade é a marcação de jogos «é extremamente difícil jogar ao fim de semana porque os campos de futebol e de râguebi são utilizados por outros clubes. Um dos nossos principais objetivos é ter fundos suficientes para ter um campo próprio em Lisboa e outro no Porto», afirmou o presidente da FPFA. 

Quisemos saber de tipo de pessoas jogam futebol americano em Portugal e fomos surpreendidos com a resposta. «Temos muitos jovens, estudantes universitários e até pais de família. Mas temos também antigos jogadores de râguebi, futebol, basquetebol e voleibol. Isso acontece porque o futebol americano tem uma série infindável de posições que se enquadram nas características dos atletas. Todo o jogador é importante em qualquer jogada da sua equipa», explicou Pedro Esteves.