Seguro pode, pois, queixar-se, como fez há dias, de ter andado estes últimos três anos «a percorrer o caminho das pedras» para agora, ao aproximar-se o final desse penoso percurso, aparecer outro a tirá-lo do lugar. E tem até razões para criticar o timing oportunista de Costa, que recusou em 2011 e em Janeiro de 2013 disputar a liderança do PS, para só avançar neste momento, já na recta final para as próximas legislativas, evitando o desgaste de três anos a penar na Oposição.
Do que Seguro não se pode queixar é de não ter conseguido fazer do PS uma alternativa política credível – e apetecível para os portugueses – a uma maioria PSD/CDS debilitada por três anos de troika e austeridade. Incapacidade sua, pura e simples. Que Costa, após o frouxo resultado das europeias, soube explorar com apurado instinto político e sentido de oportunidade.
Seguro acabou por reagir ao repto de Costa da pior das formas, visivelmente acossado, com uma fuga para a frente e umas primárias tiradas à pressa da cartola, apenas para ganhar tempo. Se dentro do aparelho do PS, que Seguro ainda controla razoavelmente, já parecia improvável resistir numa votação à onda de apoio a Costa, então ao alargar para o exterior, em primárias, a base de votantes, as suas hipóteses ainda serão mais diminutas. É o que se chama adiar a derrota.
E é curioso recordar o que Seguro dizia, em 2011, a Assis sobre este tema: «Nós, em Portugal, com a tua proposta de primárias, íamos permitir que os eleitores do PSD, do PCP, do BE também escolham» a liderança do PS. E, de facto, não custa admitir que, em teoria, ainda possamos ver Marco António Costa, que controla facilmente 20 mil ou 30 mil bases nortenhas do PSD, a mobilizá-las para votar Seguro nas primárias socialistas de Setembro. Mesmo a um ou dois euros por cabeça não sai nada caro.
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