Ex-refém do EI defende jihadistas

Merwan Hussein foi sequestrado pelo Estado Islâmico (EI) quando regressava da escola. Depois de ter estado quatro meses à mercê do grupo jihadista – e para espanto da família – o jovem defende os terroristas:”Eles têm razão”.

Numa entrevista concedida à CNN, juntamente com a mãe e a irmã mais velha, a afirmação espantou todos. “Depois de tudo o que fizeram, eles têm razão?”, questiona, incrédula, a irmã.

“Porquê? O que é que eles estão a fazer?”, pergunta Merwan, acusando a irmã de ser ignorante em relação ao Islão. Segundo o jovem, todos os combatentes curdos que têm feito frente aos radicais são infiéis “por causa da bandeira do EI, que diz que ‘não há nenhum Deus a não ser Deus [Alá]'.

A irmã de Merwan desvaloriza as declarações: “São crianças. Não seria normal se não tivessem ficado afectadas”, afirma.

Segundo a CNN, Merwan é um dos 140 alunos curdos de uma escola que raptados e é um dos 70 reféns libertados pelos extermistas na última semana.

“Não queria acreditar quando cheguei ao café e liguei aos meus pais”, recorda à CNN. A família foi obrigada a fugir, há duas semanas, para a Turquia, depois do EI tomar de assalto Kobani, a sua cidade natal, na Síria.

Merwan recorda os primeiros dias nas mãos dos jihadistas: “Levaram-nos à mesquita e obrigaram-nos a rezar. Depois fomos para uma escola primária”, onde lhe perguntaram se tinha ligações aos combatentes curdos, o que o jovem negou.

“Bateram com cabos, umas cinco ou seis vezes. Outros foram espancados, electrocutados e até mesmo pendurados do tecto”, recorda o jovem.

Na internet, há vários vídeos de ‘crianças-recrutas’ do EI, onde se vêem meninos a disparar metralhadoras e, nas escolas, a recitar o Corão, com faixas pretas com o símbolo do grupo na cabeça.

Nessa escola, refere a CNN, as crianças aprendem uma versão radical do Islão defendida pelos terroristas. Eram obrigadas a ver vídeos de decapitações e amputações.

“Tínhamos medo deles. [Perguntavamo-nos:] Quando é que nos vão matar? Hoje? Amanhã? E depois descobrimos a verdade. Eles não matam as pessoas sem provas, sem saberem se são ou não infiéis”, relata Merwan.

O jovem garante, porém, que os vídeos que viam não eram para os assustar mas sim para lhe provar que não executam ninguém sem motivo.

Apesar de defender os militantes, a entrevista termina com Merwan a admitir que “alguns são maus”.

rita.porto@sol.pt