Crescimento do Islão não cria tensões com Igreja Católica

Apesar de Portugal ser um país tradicionalmente católico e de cá também se estarem a registar muitas conversões ao Islão, a Igreja Católica portuguesa garante que isso não causa qualquer tensão entre as duas religiões. Ao SOL, o bispo das Forças Armadas, Manuel Linda, afirma que as relações são boas, quer ao nível dos seus…

“Não temos sentido esse movimento de saída de crentes para o Islão mas sabemos que no catolicismo há sempre pessoas a chegar e a partir”, comenta o bispo que é também o responsável na Igreja Católica por fomentar o diálogo inter-religioso. “Antes todos eram baptizados e católicos. Agora estamos a atravessar um período de reconfiguração da fé e não de expansão”, acrescenta Manuel Linda, deixando o alerta: “Mas se estas pessoas andam à procura da segurança que não lhes foi dada no Catolicismo, isso só diz mal de nós…”

Há seis meses a chefiar a comissão da Conferência Episcopal Portuguesa que promove o contacto com outras religiões, Manuel Linda confessa que ainda não teve qualquer contacto institucional com a comunidade islâmica. “Sei que há boas relações que vêm do passado, mas desde que assumi o cargo ainda não se fez nada. Confesso que ainda não os procurei nem eles me procuraram a mim”, afirmou ao SOL, acrescentando que pretende fazê-lo a curto prazo. Na prática, é nas prisões e nos hospitais que o contacto entre católicos e crentes de outras religiões está mais aprofundado, pois nestes locais a assistência religiosa envolve membros de várias religiões que acabam por trabalhar em conjunto.

Nas zonas do país onde a comunidade islâmica tem maior expressão, como por exemplo o bairro lisboeta da Mouraria, não tem havido qualquer tensão entre crentes das duas religiões. Segundo apurou o SOL, há duas mesquitas e também uma igreja católica mas a convivência é boa. 
A maioria dos fiéis que frequentam a igreja são idosos, já vivem no bairro há muito tempo e não têm problemas de relacionamento com os membros das comunidades imigrantes. 
Aviso de José Policarpo às jovens portuguesas “magoou” muculmanos

Mas nem sempre as relações entre católicos e muçulmanos correram bem. Há cinco anos, numa intervenção polémica num colóquio no casino da Figueira da Foz, o então cardeal patriarca de Lisboa deixou um alerta às portuguesas, advertindo-as de que casar com muçulmanos as podia levar a “um monte de sarilhos”. Numa entrevista conduzida por Fátima Campos Ferreira, José Policarpo afirmou: “Cautela com os amores. Pensem duas vezes em casar com um muçulmano, pensem muito seriamente, é meter-se num monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam”.

Nesse encontro, José Policarpo classificou ainda como “muito difícil” o diálogo com o Islão, mas lembrou que essa distância decorre também da ignorância em relação a esta religião. “Se queremos dialogar com muçulmanos, temos de saber o bê-a-bá da sua compreensão da vida, da sua fé. Portanto, a primeira coisa é conhecer melhor, respeitar”.

A resposta da Comunidade Islâmica não se fez esperar. Em comunicado, o seu presidente, Abdool Vakil, disse que a comunidade ficou “magoada” com as palavras do cardeal patriarca. O porta-voz dos muçulmanos manifestou-se surpreendido pelo comentário de José Policarpo, até porque, lembrou na altura, as relações entre as duas religiões eram “fraternas e cordiais”.

Igreja preocupada com portugueses nas fileiras do Estado Islâmico

À parte das relações institucionais e do diálogo inter-religioso, Manuel Linda vê com preocupação a adesão de jovens portugueses ao Estado Islâmico. Contudo, o bispo português sublinha a diferença entre esse fenómeno e o islamismo: “Estes grupos extremistas nada têm a ver com o Islão oficial, apenas metem a religião no jogo”. 

O bispo das Forças Armadas considera que a sociedade não tem sabido corresponder às expectativas dos mais jovens e que a sua adesão a fenómenos fundamentalistas e violentos “pode ser lida como uma forma de contestar uma sociedade ocidental corrompida”. Manuel Linda fala de falta de estabilidade social, do desemprego, mas também, “a nível cultural, do afastamento do vínculo religioso da sociedade concreta. Mas o dado religioso continua presente nas pessoas, mesmo não sendo valorizado. Depois funciona como aquele pulmão que anseia por ar, mas como não tem, respira um ar envenenado”.

rita.carvalho@sol.pt