‘A Jihad não é uma guerra nem actos de violência’

Abdool Vakil, pres. da Comunidade Islâmica, diz que os portugueses já começaram a separar o trigo do joio. Espera que os jovens não se deixem aliciar pelo “marketing da violência”.

Como explica o aumento da adesão ao Islão, também em Portugal?

Os primeiros muçulmanos regressaram a Portugal nos anos 50 do século XX e, em especial, a partir de finais dos anos 70. Mas a religião muçulmana começou a ser conhecida pelos portugueses muito recentemente e, de facto, tem atraído muitos aderentes. Mas convém distinguir os que aderem por tomarem conhecimento do que o Islão de facto é, e o que lhes pode oferecer espiritualmente, dos que são atraídos por promessas de uma vida diferente, supostamente melhor. Foi o que se passou com os jovens que se alistaram no Estado Islâmico. Convém esclarecer que a tão falada Jihad não é uma guerra nem são actos de violência, mas uma luta interior de cada um para se tornar um melhor ser humano. 

Esta adesão é uma forma de contestar o mundo ocidental? 

Há muitos que, descontentes com a sua vida, foram aliciados por uma acção de marketing para aspectos sensacionalistas e de violência, para conseguir determinadas metas que nada têm a ver com o que o Islão prega.

Como é que as notícias do Estado Islâmico têm afectado a visão da sociedade sobre a comunidade? Há tensão e desconfiança?

Naturalmente que há muita gente que, não conhecendo bem o que o Islão é, tem uma primeira impressão negativa – mas que felizmente se desfaz quando a realidade lhes é explicada por quem sabe. Julgo que em Portugal, pelo que vejo nas pessoas com quem contacto, se começou já a distinguir o trigo do joio. Poderá levar ainda algum tempo, mas a verdade acabará por vir ao de cima. Esperemos que seja muito em breve.

Conseguem controlar ou minimizar o recrutamento para alas radicais?

Felizmente, ainda não tivemos caso algum na nossa comunidade. Como se sabe, todos os convertidos que se alistaram no chamado Estado Islâmico nem sequer viviam em Portugal. 

Teme que o fenómeno chegue a Portugal?

Não podemos prever o futuro mas tenho esperanças de que isso não virá a acontecer pois temos confiança nos nossos jovens. 

rita.carvalho@sol.pt