Estreia-se hoje 5ª temporada de Downton Abbey

O mundo está a mudar. “E é exactamente disso que temos medo!”, diz o mordomo  Mr. Carson no trailer da quinta temporada de Downton Abbey, cujo primeiro episódio os portugueses poderão ver estaterça-feira, na Fox Life.

A mais bem sucedida e aclamada pela crítica (com dois Globos de Ouro e 11 Emmy) série de televisão inglesa desde Reviver o Passado em Brideshead – e também centrada na vida de uma aristocracia em queda – confronta-se agora com o seu inimigo mortal: o comunismo. Em 1924, o Partido Trabalhista chega ao poder em Inglaterra ao mesmo tempo que aristocratas fogem da Rússia bolchevique. Acompanhando os movimentos da História, a série criada por Julian Fellowes debruça-se sobre as várias possibilidades de amor, num fôlego telenovelesco grandioso. Com os loucos anos 20 chega também o charleston e os vestidos esvoaçantes e sem espartilho e uma certa alegria de viver entre as duas guerras. Surpresa da produção, o episódio de Natal – que põe fim a cada temporada em grande estilo – terá como estrela convidada nada menos do que George Clooney.

Lord Grantham (Hugh Bonneville)
É o chefe da família Crawley, que se vê obrigado a aceitar os ventos de mudança. Na primeira temporada, a filha mais nova casa com o motorista, da classe trabalhadora e – pior que tudo – adepto do Partido Comunista. Acaba por encaixar a novidade graças aos esforços da mulher e restante família. Lord Grantham assiste também pouco impávido à queda das grandes propriedades aristocráticas por causa de um pesadíssimo imposto sucessório e à falência do mundo rural tradicional. O genro e herdeiro – casado com a primogénita Mary – tenta introduzir uma gestão mais moderna, sem grande sucesso. Lord Grantham vive num mundo em derrocada, mas ainda não se deu conta disso. Tem um criado pessoal que o ajuda a vestir-se e não fosse a mulher americana e a mãe aristocrata mas despachada, teria ainda mais dificudade em perceber o chão que pisa. Admite-se que a sua cadela Isis – a golden retriver que afaga com frequência – deixará de ser vista na propriedade de Downton. Os produtores não querem cá confusões com propaganda ao Estado Islâmico (grafado ISIS em língua inglesa).

Lady Grantham (Elizabeth McGovern)
Cora Crawley, née Levinson, é uma herdeira americana que fez um casamento de conveniência com Robert Crawley. Conveniência sobretudo de Robert, herdeiro de uma casa magnífica, mas falida. E conveniência da excêntrica mãe de Cora (que vemos na terceira temporada interpretada brilhantemente por Shirley McLane), que sonhava ver a filha casada na aristocracia britânica. O dinheiro do novo mundo e a classe da velha Inglaterra acabariam por se apaixonar. O casal criou três filhas, nenhum varão, e essa circunstância volta a fazer tremer o futuro de Downton. Principais momentos de crise de Cora: a descoberta de que a filha mais velha, Mary, perdeu a virgindade com um turco que lhe morreu nos braços; a morte da filha Sybil (de eclampsia no momentos de dar à luz); a morte do genro Matthew; os insucessos amorosos da filha feia. E o aborto espontâneo de uma gravidez tardia. Na quinta temporada Cora vai experimentar uma nova liberdade. Com os anos 20, “não há corpetes e o guarda-roupa é maravilhoso. E embora sejam as raparigas da série quem ganhou as melhores roupas, eu também tenho bastante com que me divertir. O que é uma característica de Cora: de vez em quando consegue descarrilar um bocadinho”, diz Elizabeth McGovern. A actriz explica que Cora está em transformação: “Ela não está tão agarrada às tradições e às convenções do mundo em que vive como outros membros da família. É mais adaptável e (nesta temporada) também passa por grandes mudanças, o que tem sido muito entusiasmante para mim”. Uma dessas mudanças é “o desafio” por que o seu casamento vai passar com a chegada de Simon Bricker, coleccionador e historiador de arte. Veremos.

Lady Mary Crawley (Michelle Dockery)
A herdeira da fortuna e heroína romântica da série ficou viúva no dia em que o filho nasceu. Os produtores da série já afirmaram que esse acidente trágico, imposto pela vontade de saída do actor que encarnava Matthew Crawley, acabou por ser bom, dando a Mary novas possibilidades românticas, quando o amor no início tempestuoso e cheio de promessas narrativas entre os dois se tornou demasiado calmo e sem história. O futuro amoroso de Mary é uma linha que vai continuar a ser explorada na quinta temporada.

Lady Edith Crawley (Laura Carmichael) 
A quarta temporada deixou Edith numa situação invulgar. O seu noivo impossível (com um divórcio por resolver) desapareceu na Alemanha sem dar sinal de vida e ela deu à luz uma menina, que escondeu de todos. Edith, campeã das relações falhadas (já ficou plantada no altar), mas também a mais avançada mulher da família (a primeira a aprender a conduzir e a ganhar dinheiro, com a autoria de uma coluna num jornal) está neste impasse. 

Lady Violet (Maggie Smith)
A personagem mais memorável da série , para quem são escritas linhas super-mordazes e cómicas. A condessa viúva, mãe de Robert Crawley, quintessência da aristocracia britânica na era Eduardina, sabe fazer alianças para levar a sua avante e é crítica o bastante do status quo quando é preciso. Quando soube que a neta se tinha envolvido com o turco e que queria contar ao futuro marido, dissuadiu-a com a frase: “Por amor de Deus, nenhuma noiva chega ao altar com a história toda contada!”. Nesta temporada vai reencontrar uma velha chama de juventude na figura de um aristocrata russo fugido da revolução bolchevique. O sexo não é importante depois dos 50 anos, dizia um acórdão português da passada semana. Violet Crawley é rapariga para provar o contrário.

Mr. Carson (Jim Carter)
O mordomo da casa é tecnicamente o chefe da família downstairs, ou seja, da enorme guarnição de criados. E, sendo a personagem mais conservadora da série, tenta a todo o custo que o mundo lá fora não interfira com a ordem dentro de Downton Abbey. Não gosta de electricidade nem de telefone. Tem um passado que tenta a todo o custo esconder mas que irrompe num dos episódios antigos que mais definiram a sua personalidade: fez parte de uma trupe de actores, coisa razoavelmente aceite, mas que a sua postura aristocrática considera vergonhosa. De grande lealdadade à família Grantham, tem um especial carinho por Lady Mary. Com a governanta, Mrs. Hughes, tem uma relação que poderia evoluir para algo mais, se os argumentistas quisessem.

Thomas Barrow (Rob James-Collier)
A personagem mais odiosa, também brilhantemente interpretada. Criado de servir, tentou a todo o custo intrigar para se tornar o criado pessoal de Lord Grantham e quando quase foi apanhado a fazer das dele, capturou a cadela do patrão para reaparecer como o herói do dia ao 'salvar' o bicho. No início da quinta temporada voltará a usar um truque semelhante, salvando do fogo os infantes da casa, Georgie e Sybbie. Não é bem visto pelos empregados da casa. Foi ele quem denunciou o caso de Lady Mary com o turco na primeira temporada e usou de chantagem para esconder a sua homossexualidade. Daqui pode esperar-se o pior.

Mrs. Hughes (Phyllis Logan)
A governanta da casa é a encarnação do bom senso e da ética. Tem que lidar com todos os conflitos entre os empregados e manter a sanidade mental. Teve uma oportunidade de ter uma vida própria, com um namorico iniciado com um agricultor, mas pesadas bem as coisas preferiu as rotinas de Downton às amarguras de um matrimónio.

Mrs. Patmore (Lesley Nicol)
A cozinheira de mau humor mas de coração bondoso é das primeiras a topar as paixões entre os criados. É impossivelmente mandona com Daisy, a ajudante de cozinha, que impede a todo o custo de brilhar. Também Mrs. Patmore arranja um pretendente, mas cedo descobre que o noivo em perspectiva está sobretudo interessado nas suas competências na cozinha. E desiste de tudo com grande alívio. É ela a autora dos grandes banquetes familiares e aflige-se com a qualidade dos soufflés.

Anna Bates (Joanne Froggatt) 
A doce criada pessoal de Lady Mary é a personagem mais trágica da bateria de criados. De nome de solteira Smith, Anna apaixona-se por John Bates, criado da casa, coxo e misterioso. Mal consumado o casamento, Bates é preso por homicídio da mulher que, vem a saber-se, se suicidou de forma a incriminá-lo (parece que há aqui um dedo de David Fincher). Depois de um tempo na prisão e do envolvimento dos senhores da casa para a libertação de Bates – que enfrentava a forca se fosse considerado culpado – o casal parece ter um tempo de paz. É o que se desejaria, certo? Errado. Na quarta temporada, num episódio que afastou muitos espectadores da série, Anna foi cruel e explicitamente violada. E nesta temporada paira no ar a ideia de que Bates agora matou mesmo o violador da mulher, o que suscita a velha pergunta: 'Que mais lhes irá acontecer?'. 

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