Tédio e espanto

O congresso do Partido Socialista ficou marcado pela leitura dos nomes das mulheres assassinadas num contexto de violência doméstica. Se por um lado, é a primeira vez que um partido político inclui no seu congresso uma menção emocionada a um dos problemas mais graves na nossa sociedade – uma mulher morta por semana em Portugal…

American Horror Story

Cada temporada da série American Horror Story é uma minissérie independente produzida sob o mesmo título. A quarta minissérie está em exibição no canal Fox e tem o título 'Freak Show'. A história tem lugar na Florida, em 1952, num circo de aberrações gerido pela extraordinária Jessica Lange no papel de Elsa Mars. A ajudá-la tem uma mulher barbuda, a excelente Kathy Bates, como Ethel Darling. Se mete medo? Sim, mete medo. Mas não exactamente por causa dos freaks que são discriminados e maltratados pela população onde o circo se instalou. Vou só dizer que há um palhaço aterrador e um menino mimado, que não tem sindactilia, como Jimmy Darling, nem uma cabeça a mais, como as siamesas Bette e Dot Tattler, mas que é o mais freak. Ambos podem aparecer em sonhos menos agradáveis. A série agrada a quem gosta do género, mas a insistência nos números musicais a despropósito pode ser fatal. Já não arrisco a dizer que é uma série muito boa. Vamos ver.

Progresso

O comediante Chris Rock deu uma entrevista séria ao jornalista Frank Rich em que se referiu ao 'progresso' que os negros terão tido nos Estados Unidos, sobretudo após a eleição de Obama, como qualquer coisa que simplesmente não existe. O dito progresso, a existir, está nos brancos que começaram por fim a ver os negros como humanos morais inteligentes. O facto de a América ter eleito um Presidente negro representa uma vitória para os brancos. De outro modo significaria que os negros tinham merecido ser escravizados e que a sua situação tinha melhorado porque os próprios eram melhores, o que é obviamente falso. Sempre houve negros com potencial para governar o país, diz Chris Rock, tal como há centenas de anos há raparigas negras espertas e engraçadas como as suas filhas. É bom ler uma entrevista a uma pessoa inteligente que não tem de ter cuidados especiais com o que diz. A verdade, dita de uma forma assertiva e descontraída, é refrescante. 

Acção de graças

Por uma coincidência feliz, celebrei em pleno Alentejo o Dia de Acção de Graças, o Thanksgiving, que é sobretudo festejado nos Estados Unidos. O dia não é celebrado entre nós e dele pouco mais conhecemos do que a imagem do Presidente a perdoar um peru. É passado com familiares e amigos e a refeição é um portento. Tudo demora imenso a fazer: sete horas até o peru ficar cozinhado, além da confecção delicada do molho de arando, ou cranberry sauce, do acompanhamento perfeito a que chamam stuffing, que consiste numa mistura de pão com cebola e ervas fritas em manteiga e que também pode ser usado para rechear o peru, e da tarte de noz-pecã e abóbora. O Thanksgiving marcava o fim do ano agrícola, pelo qual havia que agradecer com uma festa à altura. Hoje em dia, é uma celebração pré-natalícia que quase se pode substituir ao Natal, só que em vez de trocarmos presentes, escrevemos num papel aquilo por que estamos gratos este ano. Uma boa variante.

Mas nunca gostarei de queijo

Li um artigo na Slate sobre o que nos leva a gostar de uns ingredientes e a odiar outros. Começando pelo fim, não há uma explicação – há muitas e nenhuma foi totalmente comprovada nem aceite. Talvez a mais delirante seja aquela que diz que começamos a determinar os nossos gostos no ventre da mãe. O que é certo é que os nossos gostos são neofóbicos e com razão. O nojo que seria uma humanidade que come de tudo indiscriminadamente. Também é verdade que certos gostos são adquiridos. Podemos odiar ostras desde crianças, mas é natural que esta percepção se modifique mais tarde. Há comestíveis com um grau de impopularidade mais global e sem diferenças etárias, como os coentros, o quiabo, certos molhos exóticos e partes de animais, como o fígado ou o cérebro. Mas os especialistas coincidem num ponto: os gostos fazem parte da nossa identidade, daquela se vai formando a partir da infância, que continua durante a vida e acaba antes de termos Alzheimer.