A sombra de Hitler atinge a extrema-direita europeia

  

A Frente Nacional francesa e o germânico PEGIDA (Europeus Patrióticos Contra a Islamização do Ocidente) viram-se envolvidos nos últimos dias em escândalos mediáticos que têm um denominador comum – o regime Nazi de Adolf Hitler.

Lutz Bachmann, um dos responsáveis pelas manifestações que nas últimas semanas apelaram ao controlo das fronteiras do país, anunciou ontem a sua retirada da liderança do grupo depois de vários jornais alemães terem publicado uma foto em que pousava como Hitler. A imagem, onde Bachmann aparece de franja esticada e bigode à Hitler, foi publicada na sua conta de Facebook há cerca de um ano, acompanhada com a legenda “ele está de volta”.

“Peço desculpas sinceras a todos os cidadãos que se sentiram ofendidos com as minhas publicações”, afirmou em comunicado o então líder do PEGIDA, que acrescentou “aceitar as consequências” das suas acções que assume terem “ferido os interesses do grupo”.

O movimento, que cresceu de 150 manifestantes em Outubro para mais de 25 mil no início de Janeiro, já veio “lamentar os últimos desenvolvimentos” em torno do seu líder, reconhecendo através de uma nova porta-voz, Kathrin Oertel, os méritos de Bachmann. Ele “trouxe o movimento para a rua e para os média e conseguiu, ao nosso lado, mobilizar e inspirar dezenas de milhares de pessoas”.

A notícia motivou a concentração de novas multidões, desta vez na cidade de Leipzig, depois da polícia ter alegado uma iminente ameaça de ataque terroristas em Dresden, o berço do movimento, para proibir ajuntamentos na cidade.

Segundo o britânico Independent, cujo correspondente acompanhou a manifestação, os apoiantes do PEGIDA não só protestaram contra o que chamam de “infestação” islâmica da sociedade germânica, como também exibiram cartazes a exigir a saída de tropas norte-americanas de território alemão ou o fim das sanções financeiras à Rússia.

Mais de quatro mil agentes da polícia de toda a Alemanha foram mobilizados para Leipzig para monitorizar tanto a manifestação dos apoiantes do movimento como os cidadãos que se têm vindo a mobilizar contra a ascensão do movimento.

Sobrinho desafia Marine Le Pen

Mas se na Alemanha o movimento da extrema-direita ainda é confrontado com contramanifestações que exigem a “saída dos nazis”, a Frente Nacional (FN) francesa há muito que superou essa fase. Marine Le Pen consolidou o crescimento do partido, ao ponto de ter sido o mais votado nas últimas eleições europeias e de já ser considerada uma candidata elegível em futuras eleições presidenciais do país.

Mas o crescimento foi tal que agora os problemas surgem de dentro: o líder dos 25 eurodeputados eleitos pelo grupo, Aymeric Chauprade, resolveu filmar um vídeo em Estrasburgo no rescaldo dos ataques terroristas de Paris. Com o título “França em Guerra”, o vídeo é mais um ataque à religião islâmica, que Chauprade acusa de ser “a raiz da violência e do totalitarismo, até nos seus textos sagrados”. Seria apenas mais um veículo de propaganda partidária não fosse Chauprade, que é conselheiro de Le Pen para assuntos de Política Externa, acrescentar que “dizem que a maioria dos muçulmanos são pacíficos, certamente, mas a maioria dos alemães também o era antes de 1933 e do nacional-socialismo alemão”.

Palavras que chocam com a lei francesa, que criminaliza a difamação racial e o incitamento ao ódio, e que em último caso podem levar o líder do grupo parlamentar da FN em Bruxelas a cumprir pena de prisão.

Uma gravidade que não escapou a Marine Le Pen, que veio a público distanciar-se do seu conselheiro dizendo que o vídeo reflecte as “opiniões pessoais” deste e que terá de ser ele a “assumir responsabilidades pelas suas afirmações”.

A filha de Jean-Marie Le Pen foi mais longe ao pedir desde logo aos serviços administrativos do partido para não participarem na divulgação do vídeo “por razões judiciais”. Uma ordem que foi desrespeitada cinco dias depois, por outro Le Pen: Marion Maréchal, sobrinho da actual líder, publicou o vídeo na sua conta pessoal de Twitter, onde escreveu: “’França em Guerra’, a análise de Chauprade aos ataques terroristas”.

nuno.e.lima@sol.pt