Portugal tem ‘excesso de ignorância’ e ‘défice de conhecimento’

Portugal vive o tempo de “uma política de legítima defesa”, devido a uma crise de “excesso de ignorância” e um “défice de conhecimento”, considerou hoje o filósofo Viriato Soromenho Marques no final da convenção “Tempo de avançar”.

A convenção juntou 600 participantes em Lisboa, entre independentes e movimentos como o LIVRE que se juntaram na iniciativa "Tempo de Avançar", que disputará as próximas eleições legislativas.

A convenção foi o início desse processo de fazer as listas de candidatos a deputados e aprovou também documentos regimentais e as linhas programáticas (com o título genérico "Avançar agora para recuperar o futuro").

Aos presentes o filósofo e professor falou da necessidade de inteligência e sentido crítico e lamentou a "degradação da democracia representativa" e a "captura do poder político" pelas instituições financeiras.

E insurgiu-se contra a "náusea" que causam os casos relacionados com bancos como o BES ou o BPN, contra a "legislação escrita por lobistas", contra as democracias não serem capazes de dar resposta aos "desafios globais da crise" e à "globalização caótica do sistema económico".

"A globalização financeira está a chegar ao ponto de ruptura, se a política não tiver capacidade de regular a esfera financeira", avisou, lembrando uma lei norte-americana de 1933 que separou e protegeu os bancos comerciais face aos de investimento, e que foi abolida em 1999.

"Com uma lei assim o caso BES nunca teria acontecido", disse Soromenho Marques à Lusa, acrescentando que o mundo é cada vez mais de desigualdades e mais "sujeito a bolhas financeiras".

No entender do responsável a construção europeia "é talvez a principal vítima da anarquia da globalização financeira", com uma união económica e monetária que "em vez de proteger os cidadãos, os povos e os Estados acabou por os transformar em vítimas dos mercados".

É por isso que, disse, a Europa vive "um momento perigoso", com a Grécia (que elegeu um partido que se assumiu de ruptura contra a austeridade) a poder sofrer "momentos dolorosos".

O movimento "Tempo de Avançar" tem uma dinâmica de crescimento enorme e se não vai resolver sozinho os problemas vai dar uma contribuição, disse também à Lusa.

Na convenção aprovou-se as linhas programáticas da candidatura, que perspectivam um orçamento do Estado com "redistribuição mais justa da carga fiscal", a valorização do salário mínimo, e a protecção das famílias que percam a casa por não pagamento de hipotecas.

E um "processo de desprivatização" que inclua a TAP, Águas de Portugal e Caixa Geral de Depósitos, e eventualmente a nacionalização de empresas ou actividades "indevidamente privatizadas ou concessionadas".

No documento preconiza-se mudanças no sistema eleitoral para incluir um círculo nacional, e o direito de voto dos imigrantes que vivam no país há mais de três anos. E quer-se também um novo referendo sobre a regionalização, com a qual concordam.

Nas políticas sociais deve de restringir-se o papel dos privados, deve reorganiza-se o sector da Saúde, e, diz-se no documento, devem limitar-se as "atribuições excessivas de bónus" a quadros superiores.

Nele também se defende a criação de um rendimento básico "atribuído a todos os cidadãos". Mas de criação ponderada. E só se for sustentável.

Lusa/SOL