A casa de Marie

Dizer que Marie à Lisbonne é um cabeleireiro não é ser totalmente fiel à realidade. A francesa que deu a volta ao mundo abriu há cinco meses as portas da sua ‘casa’ em Lisboa onde corta cabelo, ao ritmo de um cliente por hora, sem pressas, sem barulho e sem confusão mas com muita conversa…

Quando entramos na ‘casa’ de Marie Sabatier, ela fala animadamente com um cliente sobre uma estadia na Amazónia. Acompanhamos a conversa alheia e estamos capazes de jurar que a cabeleireira, Marie, estabelecida no Príncipe Real, em Lisboa, desde Dezembro, falava das suas últimas férias. Não podíamos estar mais enganados, tal como estaríamos se pensássemos que estávamos num cabeleireiro formal. Primeiro, na Marie à Lisbonne, formalidade é o que não há, tal como não há esperas, nem ruído de fundo. Cada hora (sempre por marcação) corresponde a um cliente, que como amigo é tratado assim que passa a ombreira da porta. Fala-se de tudo e de mais alguma coisa, acertam-se cortes, serve-se chá, café, macarrons e o que houver e passa-se um bom bocado.

Chega à nossa vez. Perguntamos pelas férias na Amazónia. ‘Ah! Non, non’, corrige Marie. Ela viveu mesmo nove meses na Amazónia, numa tribo indígena onde não podia ter consigo nada do mundo ‘civilizado’. E se achamos que esta é a aventura máxima da cabeleireira, ficamos verdadeiramente surpreendidos quando nos conta que com apenas  21 anos foi enviada por uma cadeia de cabeleireiros franceses, a Jacques Dessange, a abrir as primeiras lojas na Argentina – ainda em plena ditadura. "Ia ficar apenas três meses e acabei por ficar oito anos". Durante esse tempo, percorreu a América Latina de fio a pavio "e também o Caribe", acrescenta. Depois convidada por amigos, veio conhecer Portugal. "Tinha visto um documentário sobre tremores de terra e ia jurar que ia haver uma hecatombe em Lisboa a qualquer altura. Tive tanto medo de vir!". Mas ao chegar, na viragem do milénio, apaixonou-se pela calçada e pela luz da capital e esqueceu os terramotos. Foi ficando, trabalhando em vários cabeleireiros lisboetas. Até que no ano passado, depois de uma curta passagem pela sua terra-natal Clermont-Ferrand, resolveu fazer não só o que melhor sabe mas à sua maneira. "Perdi 10 quilos mas consegui", confessa.

Tem desde Dezembro, um rés-do-chão, às portas da Praça das Flores, no Príncipe Real, que é a sua sala  de estar – com direito a lareira e tudo – onde se conversa e também se corta o cabelo. Agora aos 47 anos, e depois de já ter dado a volta ao mundo – de Moscovo ao Quebec, de Zurique a Santiago do Chile -, promete (para já) não sair da Praça das Flores, que considera a sua nova casa.

Informações:

Marie à Lisbonne

Rua Marcos Portugal, n.º 17

Tel. 912 062 145

Horário: Todos os dias (incluindo fins-de-semana e feriados) das 14h-21h30, excepto à 4.ª feira (que encerra)