Invasão a londres

A previsão encontra-se no Twitter de Paul Monaghan: «A União não durará mais cinco anos». As linhas gerais do plano, num discurso de Mhairi Black: «Podemos ter mais de 30 deputados em Londres. Se tivermos esse bloco seremos a corda onde o Parlamento estará enforcado. Será aí que lhes torcemos o braço e teremos esse…

Invasão a londres

Em Dezembro, a determinação dos candidatos Monaghan e Black reflectia apenas parte do inesperado estado de euforia que se vive nas hostes do Partido Nacional da Escócia (SNP na sigla original) desde a derrota no referendo à independência realizado em Setembro.

A uma semana das legislativas britânicas de 7 de Maio, as sondagens prevêem que o bloco de nacionalistas escoceses em Londres pode chegar não aos 30 pedidos por Mhairi Black mas aos 51 representantes entre os 59 eleitos na Escócia. Mais acertada foi a previsão de um 'parlamento enforcado', pela inexistência de uma maioria de um só partido. Como terceira maior força, o SNP terá a corda nas mãos. Nicola Sturgeon já está a esfregá-las.

Com honras de manchete, o Daily Mail já lhe chamou a «mulher mais perigosa do Reino Unido». Aos 44 anos Sturgeon está no auge de uma carreira política que iniciou aos 16, com a ajuda de outra mulher. «Margaret Thatcher motivou a minha carreira, odiava tudo o que ela defendia», explicou um dia à Sky News. A austeridade da 'Dama de Ferro' deixou «muita gente» à volta de Sturgeon no desemprego, levando-a a perceber que a Escócia «sofria às mãos de um Governo conservador que não tinha eleito».

Tornou-se líder do partido a que aderiu na adolescência e do Governo escocês no dia seguinte ao maior desgosto da sua carreira – a derrota no referendo que prometia a tão desejada independência. Sucedeu ao demissionário Alex Salmond, exactamente uma década depois de este a convencer a abdicar de uma candidatura à liderança do partido e a juntar-se à sua lista como número 2.

Com Salmond em Londres, no cargo de deputado a que vai regressar nesta eleição, Sturgeon liderou a oposição em Edimburgo até que o número 1 voltou a casa para a vitória eleitoral de 2007. No cargo, ganhou a alcunha de «língua afiada» pela forma como se apresentava no debate semanal com o Governo trabalhista. Não mudou com a chegada ao poder, acumulando a vice-liderança do Executivo com a pasta da Saúde. 

«Se há coisa que os críticos me podem chamar é ambiciosa, mas a minha grande ambição é o sucesso deste partido», disse na BBC. A dedicação à causa reflecte-se na estrutura familiar, ou vice-versa: a sua mãe é dirigente do SNP num concelho regional e, em 2010, Nicola casou-se com Peter Murrell, membro do executivo do partido que tinha conhecido numa acção da juventude partidária.

A casa que os pais de Murrell têm no Algarve é o pouso de descanso favorito da mulher que promete agitar a próxima legislatura britânica. A mudança de líder transformou o partido. O número de militantes quadruplicou em menos de um mês e as 60 mil adesões levaram o SNP a tornar-se a terceira maior força política em todo o Reino, com larga distância para os 45 mil liberais democratas.

O lema da campanha que lidera diz tudo: «Mais fortes pela Escócia». Não pelo Reino Unido, apesar de há pouco mais de meio ano 55% dos eleitores escoceses terem rejeitado a separação. Sturgeon já avisava em Novembro para a tremedeira nas «placas tectónicas da política escocesa» e previa uma «equipa reforçada» de deputados do SNP em Londres a «pôr a Escócia em primeiro lugar».

O objectivo declarado não significa que esqueça as preferências políticas. Sturgeon sabe que os seus eleitores sempre votaram nos trabalhistas e, apesar da luta interna, no que diz respeito a Westminster são esses os parceiros preferenciais. O Partido Conservador do actual primeiro-ministro, David Cameron, é o principal inimigo. A advogada formada em Glasgow já repetiu a disponibilidade para negociar um acordo pós-eleitoral com o Labour de Ed Miliband. O líder trabalhista tenta evitar a colagem ao nacionalismo escocês, mas Sturgeon diz que «depois de contados os votos, ele cantará outra música».