Favas frescas é agora

Ou se gosta, ou se detesta – não há indiferentes perante as favas. É verdade que a má fama ficou-lhe colada, dando azar quando encontrada no bolo-rei, prestando-se a desconversas agrestes (‘vai à fava!’), e apontando para facilidades impossíveis (‘não são favas contadas’).

Reconheço que comecei por detestar as favas cá em Portugal, sobretudo na sua forma mais corrente: as favas guisadas com carnes e enchidos. Preferia, no género, as feijoadas.

Mas depois, durante uma estada de anos em Madrid, habituei-me lá a perder a cabeça com as habitas, umas favas baby frescas e descascadas, que nos bons restaurantes, e por esta altura, aparecem como belos acompanhamentos. Porque para guisados com enchidos, os espanhóis preferem o seu prato nacional de lentejas (nós chamamos-lhes lentilhas, e são uma espécie de ervilhas mais pequenas e tenras).

Embora haja favas baby de lata, e outras maiores congeladas o ano inteiro, este mês de Maio, e o do seguinte Junho, são precisamente a época de as colher, e comer frescas.

As favas vêm dos confins dos tempos, havendo constância de que já se cultivavam e comiam pelo continente americano na Idade da Pedra. Terão aparecido no Mediterrâneo e na Europa durante a Antiguidade, chegando à Península Ibérica. Mas parece que só se popularizaram em Portugal lá para o século XVI, decaindo o seu consumo com o aumento do da batata. E aí ficou como uma leguminosa tão nutriente que assusta as dietas (pela riqueza em proteínas e hidratos de carbono), embora se considere bastante saudável.

Por cá, plantam-se no Outono (Outubro e Novembro), pois calha-lhes bem a água e o frio do Inverno, e colhem-se agora. Quem as quer pequenas, as tais baby, deve-se apressar, para não as deixar crescer.

A única vez que comi umas belíssimas favas baby em Portugal, com ar fresco e penso que em princípios de Maio, como acompanhamento, foi na Quinta de Pancas, em Alenquer, quando ainda era do já falecido José Guimarães (1927-2011), na apresentação de um dos seus vinhos. Percebi que tinham o costume espanhol das favas baby frescas, que cultivavam em casa (lá em Pancas), e procuravam colher ainda bem pequenas. E pensei comigo: estes são dos meus, provavelmente nem gostam das favas guisadas à portuguesa.

Mas é evidente que as tais favas guisadas à portuguesa, assim como têm detractores iguais a mim, gozam de seguidores incondicionais, capazes de tudo para as comerem. Até há uma Confraria Portuguesa dos Sabores da Fava, com fatiotas e tudo, em Vagos (zona de Aveiro), com sede no Complexo Comunitário e Desportivo da Fonte de Angeão, fundada em Outubro de 2013, embora a entronização dos primeiros 47 confrades se viesse a fazer só em Maio seguinte – para saborear o petisco. E com ideias que vão das normalíssimas favas guisadas a umas esdrúxulas queijadinhas de favas. 

Onde vai a Fava-rica…